DE BRINDE –

Numa reunião do Rotary Buenos Aires, um dos companheiros fora incumbido de brindar os presentes com a chegada da primavera. Hábil, deteve-se na palavra brinde. Achei interessante e pedi uma cópia da sua pesquisa, a seguir traduzida e transcrita:

“O brinde é o momento de uma celebração em que os convidados levantam e entrechocam as taças para manifestar bons desejos. A seguir é costume beber champanhe, espumante, sidra ou o vinho contido na taça. O termo procede da frase alemã ich bring dir’s (ofereço-te), que se costumava pronunciar ao brindar. Em italiano é bríndisi, em francês é brinde.

Pensa-se que o ato de brindar se originou no século IV a.C., mas se realizava por uma razão bem distinta da atual. Na antiga Roma, para se assassinar alguém, era usual que se envenenassem as bebidas. Por esse motivo, os anfitriões, como símbolo de confiança, chocavam fortemente as taças com as dos convidados, o que fazia com que os líquidos se misturassem, passando de uma taça para outra. Desse modo ficava claro que não havia nenhum tipo de envenenamento, pois os que faziam o brinde bebiam o mesmo.

Outra teoria afirma que na Roma antiga se dizia que do vinho se desfrutam todos os sentidos (visão, olfato, paladar e tato), menos o ouvido. Com o chocar das taças esse sentido também participava do gozo da bebida.

O ato de brindar se divide em três partes. O brinde verbal, o acordo e o trago simbólico. Na parte verbal uma pessoa indica uma razão para o brinde. Todos os presentes ratificam o dito levantando suas taças ao ar. Tal ato frequentemente se acompanha de sonoros gritos ou murmúrios de aprovação, se repetindo as palavras do brinde (“saúde!”), ou confirmando o sentimento com termos como “pelos noivos!” ou similar, ao qual segue o choque dos copos e taças entre as demais pessoas ao alcance. O trago é uma forma de confirmar o desejo e não importa se é um pequeno trago ou um grande gole.

Em geral se considera de mau agouro brindar com água. Na Armada dos Estados Unidos se diz que quem brinda com água terá a sepultura na água.”

Passo a complementar. O vinho é a bebida de eleição para se brindar. É uma bebida tão respeitada que um dos principais milagres de Jesus foi transformar água em vinho, nas bodas de Caná, na Galiléia; tão versátil que dá origem ao champanha, espumantes, tintos, brancos, rosados e conhaques; tão brava que tem resistido a toda espécie de enólogos…

Consta que o grego Aristófanes disse: “Rápido! Tragam-me vinho para que eu umedeça a minha mente e diga algo inteligente”. A máxima enófila “in vino veritas” (no vinho a verdade), ilustra esta crença e a de que, ao beber do cálice de outra pessoa, descobrimos seus segredos, a verdade.

Os franceses dizem “santé” ou “salut”; os espanhóis “salud”; os italianos “salute”; o universal “tin-tin”, ou “chin-chin”, para os chineses “chin” significa “felicidade”, e “chinchin”, “muita felicidade”; em japonês diz-se “kampai”, que quer dizer “copo vazio”.

Alemães dizem “prosit” se a ocasião for informal, e “zum wohl” se for a sério. Para os holandeses, um “proost” fará o serviço. Os russos dizem “na zdorov”, ou “felicidade”, semelhantes aos poloneses e búlgaros que gastam menos letras para dizer “na zdrve”. Entre os árabes se diz “fi sihitaek”. Em ídiche se diz “l´chayim!”, “à vida”. Em grego, pode-se dizer “steniyasas” (à saúde), enquanto em indiano brinda-se “aapki sehat”.

O mais curioso, contudo, vem dos nórdicos da Suécia, Dinamarca e Noruega. Ao brindar, dizem “skäl”, que significa, simplesmente, “caveira”. A origem vem do costume viking de beber cerveja nos crânios de seus inimigos, esvaziados e limpos como se fossem canecas.

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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