VALÉRIO MESQUITA 1

Valério Mesquita*

01) Marcelo Fernandes é um amigo de antigas jornadas. Não é comum nos avistarmos  pelos vãos e desvãos da vida natalense. Mas sempre que nos encontramos, o cumprimento recíproco é irreprimível: “Saudações pessedistas!”. Essa frase evoca o velho PSD de guerra do tempo de Túlio Fernandes, Alfredo Mesquita, Theodorico Bezerra, Lauro Arruda, Israel Nunes e tantos outros, pois seria difícil mencionar todos. Era o partidão, rolo compressor cujo hino tinha uma estrofe assim: “PSD nunca foi nem será vencido”. O major Theodorico Bezerra, seu presidente, conta Marcelo, promovia vaquejadas políticas naquele tempo a fim de aglutinar forças eleitorais e constituía a mídia rural do partido. Na região do Trairi o velho cacique tinha um boi brabo de 25 arroubas, turrão, que ninguém derrubava nas vaquejadas. E ganhou logo um apelido: PSD. Esse era o espírito dos políticos e dos militantes daquela época, tão bem realçado por Marcelo Fernandes na memorização dos atos e fatos de um mundo partidário desaparecido. De contraponto, registre-se, havia uma UDN hábil, oposicionista, vigilante com uma lanterna de popa. Na rotatividade do poder, a UDN de cima e o PSD de baixo, esse último exercia também com denodo e desassombro a oposição. E foi assim inclusive à época dos governos autoritários. Hoje, o espírito desses antepassados desapareceu. Na plenitude do regime democrático, quando se tem um ex-metalúrgico na presidência da república, os partidos se esfacelam, se estiolam e se misturam. Até parece um Arenão. Ou um navio com passageiros além da sua capacidade com risco de ir a pique antes de chegar ao próprio porto eleitoral de 2010. Mas, política é carrossel. Longe vai o tempo do PSD/UDN. A propósito, certa vez, o ex-vereador mestre Pedro Luiz de Araújo, refratário à torrente de adesões ao governo municipal, anos atrás, preveniu o prefeito: “Doutor, tantos “piriquitos” assim numa quenga não tem “mio” que chegue”.

02) E para ratificar o contraditório dos tempos políticos de ontem com os de hoje, vale recontar aquela história do banquete de Catolé  do Rocha, onde o folclórico Mané Forte se intrometeu  no meio de toda a ilustre família Maia, sentando-se no  último  lugar  à  mesa. As mocinhas prendadas que serviam a refeição todas as vezes que chegavam perto de Mané Forte suspendiam a bandeja. E assim aconteceu com as travessas de feijão, arroz, macarrão, verduras, frutas da estação, etc. Na hora de servir a tradicional farofa todos os convivas recusaram levantando levemente a mão. Aí sobrou para o adesista eventual Mané Forte, que teve o seu prato entupido de farofa. Não contendo a indignação, Mané protestou: “Cuidado, menina, prá mim só tá chegando cereais…”. Ó tempos, ó costumes…

03) Em Lagoa Salgada, Clidenor de Almeida, era considerado o maior corredor de vaquejada da região, além de destemido e corajoso. Quando estava “puxando fogo”, aí é que não tinha medo de cara feia. Certo dia, ato tipicamente interiorano, tomando cachaça em um bar, falaram mal de um certo político. Clidenor levantou-se da cadeira e gritou: “Quem disse isso foi Zezinho da Mutamba? Aquele é corno que nem presta! A mulher dele é da raça machado!”. Um amigo ao lado, procurou atenuar: “Senta Clidenor! Aquele cara ali, do bigode de guidom de bicicleta, é irmão dele”. Nisso, o bigodão se levantou e o suspense foi geral. Clidenor falou mais alto ainda: “Eu não tenho medo de nada!”. Abrindo a camisa, provocou: “Eu vou dizer agora o nome do camarada que saiu ontem com a mulher daquele cornão!”. A platéia esperava uma tragédia iminente e forte da parte do bigodão. Só que o sujeito afrouxou, e apenas cumprimentou ante a platéia estupefata. “Diga aí amigo, fale pra todo mundo saber que aquele corno não presta mesmo!!…”.

(*)Valério Mesquita – Escritor e Presidente do IHGRN – [email protected]

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