CONVERSANDO COM DEUS –

Ninguém tem mais dúvidas de que a internet veio para ficar, e que modificou costumes, tradições, a indústria, o comércio e, principalmente, os meios de comunicação. Um século atrás a forma de contato entre residentes de uma mesma rua ou bairro, somente ocorreria mediante auxílio de um mensageiro ou com o deslocando de uma das pessoas. À medida que a distância aumentava crescia o grau de dificuldade.

Cinquenta anos atrás, os meios de comunicação, já bem mais aprimorados, ainda não estavam disponíveis para a grande massa populacional por causa de custos elevados de aquisição da aparelhagem e de sua utilização. A prioridade se estabelecia nos Correios e Telégrafos. No início dos anos 70 foi lançada a faísca da internet, mas a integração mundial começou a tomar forma ao nascer do novo século.

A partir daí as modificações foram surgindo e surpreendendo, chegando ao ponto de não podermos antever como será o futuro das comunicações no planeta, por inexistirem formas de como barrar ou controlar tais avanços. Em tempo algum imaginamos podermos nos comunicar com qualquer pessoa, em qualquer local da Terra, utilizando voz e imagem perceptíveis e claras, a custo zero – melhor que isso só o teletransporte de partículas humanas, do qual ainda espero desfrutar.

Todo esse trololó foi montado para eu discorrer sobre uma postagem que recebi dias atrás. O vídeo filmado do interior de um carro, mostra ele se aproximando de um jovem, na rua, tentando vender “Paçoquita” a granel. Estacionado o veículo, o motorista que não mostra o rosto, inicia um papo semelhante ao seguinte:

– E aí, meu irmão! Batalhando pela vida, né! Qual o seu nome?

– Fernando!responde o vendedor de paçocas. Tá desempregado?pergunta o motorista. E ouve um Sim! – o condutor insiste – São quantos na sua casa? Fernando, prontamente, esclarece: Eu, meu irmão menor de 3 anos e minha mãe!

– Deus não lhe esqueceu irmão!

Nesse momento o motorista entrega-lhe duas cestas básicas. E antes que o rapaz emitisse qualquer som, oferece-lhe duas cédulas de cem reais, dizendo: Isso é seu!Fernando, assustado, se afasta do carro e balbucia:

Não é meu, não! É mentira! É mentira! Não é para mim, não!

– É sim. Deus ouviu os seus apelos!

Olhos marejados, Fernando consegue murmurar, o seguinte: – Hoje, desde que cheguei aqui, eu estava conversando com Deus! a câmera foca o rapaz enxugando as lágrimas, por um tempo, e acaba a transmissão.

É piegas? Sim! Também não sei se o vídeo é montado ou real; se é fake news ou lá que o seja. A verdade é que mexeu comigo, e pronto! A cena me alertou que não tenho ajudado ao próximo como deveria, nesse momento difícil para tantos de nossos irmãos. Quantos jovens, Brasil afora, desempregados, falam com o Pai à espera de um pequeno milagre como o concedido a Fernando. Quantos rogam por uma cesta básica, alguns trocados, qualquer adjutório apenas para saciar a fome.

O pior é que poderíamos, isoladamente ou em comunidade, sermos promotores desses pequenos milagres, em nome de Deus, no entanto nos acomodamos sem nada fazer. Sempre amparados na desculpa de temor ao vírus, enquanto o vírus da fome, da desgraça e do desespero corrói tantos de nossos semelhantes sem condições físicas nem meios materiais de o enfrentar e, o pior, sem esperança de qualquer ajuda.

Ao passo que nós, privilegiados se comparados com tantos deles, dormimos em berço esplêndido aguardando que a ajuda aos necessitados ocorra, sim, porém, por intermédio dos outros. Realmente, precisamos conversar mais com Deus!

 

 

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

3 respostas

  1. Sim, que sejamos mais solidários.
    Para alguns, a ajuda individual pode ser mais complexa. Nesses casos, sugiro que os Condomínios se organizem para oferecer cestas básicas, a exemplo do que está sendo feito no prédio onde moro.

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