CONTRASTES MANTÊM CONFIANÇA NO FUTURO –

Nos anos recentes, o brasileiro viu o seu país repetir uma série de desempenhos medíocres nos mais diversos comparativos internacionais.

Vivemos no país da impunidade onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói! Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam “mensalões” e vendem sentenças!

Nesta terra, a propriedade privada, a qualquer hora e em qualquer lugar, pode ser tomada, e seus donos assassinados; os bancos são assaltados e os caixas explodidos.

Somos um País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas e lavouras destruídas, sem contar quando destroem pesquisas científicas de anos, irrecuperáveis!

Mas, felizmente, vez ou outra – em ocasiões raras e menos frequentes do que o desejado, o Brasil desponta como protagonista de algum sucesso. Em alguns casos, em áreas tão improváveis quanto a Matemática.

Há pouco mais de três anos um brasileiro foi agraciado com o equivalente ao Nobel de Matemática, algo inédito em nossa ciência, quando Artur Ávila recebeu a medalha “Fields”.

Agora toda esta área de conhecimento produzido no Brasil foi laureada com a promoção do país à elite da União Matemática Internacional, anunciada na última quinta-feira.

Além do Brasil, apenas outras dez nações fazem parte deste seletíssimo primeiro time mundial: Japão, China, Canadá, Alemanha, Rússia, França, Reino Unido, Itália, EUA e Israel (aqui ordenados segundo a posição de seus estudantes no ranking de Matemática da mais recente edição do Pisa).

A ascensão dos matemáticos brasileiros premia longa trajetória iniciada em meados do século passado a partir da criação do CNPq e do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), hoje um centro mundial de excelência na área. Aqui, mais que em qualquer outra situação, os números falam por si.

A produção científica brasileira em Matemática multiplicou-se por nove nas duas últimas décadas. A participação nacional no volume global de publicações na área mais que triplicou, para 2,3% do total mundial, e o de artigos em revistas científicas quadruplicou. Há hoje no país o dobro de doutorandos em Matemática do que havia dez anos atrás.

A Matemática de altíssimo nível que se produz em nossos centros de excelência contrasta, no entanto, com aquela que é lecionada cotidianamente a crianças e jovens em milhares de escolas de Ensino Básico do patropi.

O Brasil faz feio em exames globais como o Pisa: figura apenas na 65ª posição num grupo de 70 países onde provas comparáveis de Matemática são aplicadas. Segundo o mais recente Ideb, somente 7% dos concluintes do ensino médio têm desempenho satisfatório na matéria.

Entre jovens brasileiros de 15 a 16 anos, mais de 70% não sabem o básico da habilidade de somar, subtrair, dividir e multiplicar.

Por sua vez, desemprego, pobreza e violência estão associadas à trajetória dos jovens brasileiros há muito tempo. Muito mais do que se poderia prever.

A constatação é tanto mais grave quando sabemos que esse desemprego é estrutural, ou seja, é resultado do avanço tecnológico das forças produtivas. Quanto mais moderna a empresa, menos absorve força de trabalho.

Em outras palavras, o novo padrão de acumulação do capitalismo elimina postos de trabalho e os substitui por computadores.

É enorme o desafio de superar tamanho atraso, num saber tão fundamental para os tempos atuais.

Mas, o êxito da Matemática de ponta que se produz no Brasil tinge o horizonte de confiança.

Afinal, esta é uma ciência que depende menos de laboratórios e equipamentos e mais do talento humano, em especial do esforço individual.

Há, portanto, Esperança, ainda que às vezes esta apareça em números pequenos ou em baixas probabilidades.

Resumo da ópera: vivamos com o legado desta frase lapidar “Não existe caminho, o caminho se faz ao caminhar.” Façamos o dever de casa!

 

Rinaldo Barros é professor – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

 

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