CONHECIMENTOS NO VAREJO –

Certamente você sabe que inveja, ira, soberba, luxúria, gula, avareza e preguiça são os sete pecados capitais; mas, é improvável que lembre generosidade, humildade, castidade, paciência, caridade, temperança e disciplina como as sete virtudes.

Sabe que Baltazar, Belchior e Gaspar são os três Reis Magos, entretanto, não deve estar seguro de eles serem, respectivamente, oriundos da Arábia, da Índia e da Etiópia. Conhece bem os dias da semana, mas não garante que sejam considerados, a partir do domingo, os dias do Sol, da Lua, de Marte, de Mercúrio, de Júpiter, de Vênus e de Saturno.

Decorar essas minúcias caracteriza possuir conhecimentos gerais? Não! Trata-se de conhecimento ofertado no varejo e a granel sem conteúdo nem serventia. Para obter esse tipo de cultura basta acessar o Google, na Internet, e encontrará a fonte geradora do saber sem qualquer dificuldade. Tais informações representam um amontoado de dados inúteis para sobrecarregar espaços valiosos na nossa memória.

Eu quero lá descobrir qual a cor do cavalo branco de Napoleão Bonaparte? Ou qual volume pesa mais: se um quilo de chumbo ou um de algodão?  Que acrescentará ao meu conhecimento identificar quem roubou a embreagem do sapo, esticou o pescoço da girafa ou cortou a perna do Saci Pererê?

Existem coisas mais interessantes, profundas e gratificantes de serem analisadas e catalogadas pela mente. O difícil é saber diferenciá-las, processá-las e adequá-las em nosso próprio benefício e no daqueles que nos rodeiam.

Nós convivemos num mundo formado pelo ensino disciplinar. As disciplinas ajudam o avanço do conhecimento e nisso são insubstituíveis. Mas, somente a quantidade de informações não é capaz de colocar o conhecimento no contexto da vida de cada ser pensante.

Já a literatura é, para o indivíduo, uma escola de vida e um meio para se adquirir conhecimento. Através da literatura se compreende a complexidade humana. O ensino fornece saber, erros e ilusões sobre o mundo e a realidade; a dificuldade consiste em amoldar esse conhecimento à realidade da vida e do mundo.

O escrito acima foi um preâmbulo para o questionamento a seguir. É possível evolução sem educação? Não! O conhecimento é a luz e a ignorância a escuridão. Educar pode se traduzir como adquirir conhecimento e transformá-lo em habilidades, aptidões e atitudes, ferramentas necessárias para o desenvolvimento do homem e da sociedade na qual está inserido.

Então, por que não investir com seriedade e determinação no ensino brasileiro? Por que não eliminar o hiato que afasta nosso país de nações desenvolvidas quando o assunto é educação? Por que insistir em manter legiões de analfabetos beneficiando a ignorância e retardando o desenvolvimento nacional? Por que não aplicar recursos em conhecimento quando sabemos ser a educação a base do crescimento econômico?

“Elementar, meu caro Watson!” – diria o detetive inglês Sherlock Holmes em sua análise. Além da falta de interesse dos governantes, da falta de responsabilidade social, de não tornar atrativa a profissão de docente e de não imprimir rigor na seleção de educadores é sabido que a ignorância sustenta a corrupção ao impedir a liberdade de pensamento, de escolha e de atitude do indivíduo.

É mais fácil engabelar quem duvida haver o homem posto os pés na Lua, do que convencer quem sabe diferençar a “Pomba-Gira” do “giro da pomba”. Receba, estimado leitor, para sua reflexão, esta mensagem de revolta de um cidadão impotente diante da ignorância crônica brasileira, que lamenta não antever nenhuma mudança revolucionária no nosso sistema educacional durante as próximas décadas.

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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