COMO A LUA, O HOMEM TEM FASES –

Era início da noite. Debruçado na varanda de meu apartamento, admirava a beleza do firmamento, imaginando como fora sábio o Criador, ao formatar o céu, fazendo-o tão lindo, puro e aconchegante, independentemente de onde estejamos: na pequenina Piranhas,  sertão alagoano, nas históricas pirâmides de Gizé, no Egito, nos frios lagos da Patagônia, Argentina, ou, até mesmo, na belíssima orla de Maceió, para, fitando-o, ficarmos anestesiados, a dor abrindo espaço à inspiração e levando ao sonho tantos quantos o vislumbrem.

Aprendi, desde cedo, sermos donos de nossa própria estrela. Para alguns brilhando mais intensamente, para outros sendo apenas guia e, aos menos esclarecidos ou descrentes, não passando de pequenas luzes. Para mim, porém, imagino-as rindo muito, inundando meu peito de felicidade.

No mesmo ponto de observação, mirando o bailar das aguas do oceano  ao beijarem as areias da Praia de Jatiúca, encantei-me com o brilho todo especial da Rainha da Noite, brotando das entranhas do mar e escalando, mansamente, os degraus dos céus, com as estrelas ladeando sua subida e, com seu brilho, emprestando-lhe uma grandeza toda especial.

Senti-me, então, embriagado pela imensa grandeza daquele astro,  imaginando sermos, todos nós,  outras luas, sempre rodeados de  pessoas, quais estrelas, pois, embora precisemos tanto de solidão, para criar, meditar, sorrir, pensar e repensar o já pensando, entendermos nossos defeitos ou apurarmos nossas virtudes, sem elas não poderíamos viver, até descobrirmos os motivos, desvendarmos os fatos, brigarmos com as emoções e esvaziarmos o coração.

Naquele momento a lua estava tão linda! Cheia, parecia decifrar a vida dos seres humanos. Enquanto se desloca em torno da terra, durante o mês, ela apresenta  diferentes fases,  caracterizadas por sua luminosidade,  sendo minguante, nova ou crescente. O homem, conforme poetizou Cecilia Meireles, também possui fases: de andar escondido, de vir para a rua, de estar disponível para o amor e, até permanecer sozinho…

Assim como a Lua, também sou cheio de fases, repleto de carinho, sempre alegre e feliz, embora às vezes desconfiado… Estas mutações, tenho certeza, me fazem ditoso. Encantado com a privacidade, descrente de política, apaixonado por quem me cativa, fiel às minhas crenças, responsável pelos compromissos assumidos, amigo de poucos, embora colega de milhares, sou principalmente, um amante da vida.

Aquela imensa claridade subiu e, se escondendo por detrás das nuvens, deixou em minha mente lembranças de momentos especiais. Ali mesmo, sentado, com a brisa a beijar-me a face, cochilei e, para minha surpresa, sonhei estar sentado ao lado da lua, bem debaixo de um céu de estrelas, recordando cada momento da vida. Pessoas já ausentes, embora ainda tão amadas, ou, aquelas alimentadoras de meu viver mas, também, outras, cujos brilhos nos olhos ainda não consegui decifrar…!

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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