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Adauto José de Carvalho Filho

Tristemente, revi o meu diploma de Contador que se encontrava tecnicamente organizado entre os meus documentos pessoais. A tristeza não vem do fato de ser contador, o que sempre me orgulhou, mas ao ler na Revista Veja que a PETROBRÁS negocia com os interessados, a data da entrega do balanço de 2014, isso por que o fato pode gerar uma multa de R$ 360.000.000,00 (trezentos e sessenta milhões de reais) e que poderá embicar de vez o bruxuleante orçamento brasileiro para o ano de 2015.

Alguém sentiu o drama?

A maior empresa brasileira, imersa no maior escândalo de roubalheira nacional e internacional, ainda não fechou o balanço de sua contabilidade relativo ao ano de 2014. Aliás, fechou, mas não aceitaram. O Balanço Patrimonial, a mais importante das demonstrações contábeis escondia (ou maquiava) os nômades números da operação lava a jato.

E pior. Foi preciso contratar uma empresa de auditoria internacional, ao preço da desvergonhada gestão da empresa, para que os números possam ser aceitos pelos investidores estrangeiros (os nacionais coitados nem são considerados). Lembro os velhos bancos da Escola Técnica de Comércio Reverendo Doutor Mathews, uma escola pública, municipal, que por anos foi a grande formadora de profissionais da contabilidade no Estado, muitos ainda no mercado e do grande Professor Horácio Alves Pedroza Neto que emprestava o seu entusiasmo para mostrar aos jovens estudantes (olha eu aí) a importância de Luca Bartalomeo de Pacioli (nascido em 1445, foi um monge franciscano e célebre matemático italiano. Ele é considerado o pai da contabilidade moderna. Em 10 de novembro de 1494, foi descrito por ele, pela primeira vez, no livro “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalità” (Conhecimentos de Aritmética, Geometria, Proporção e proporcionalidade), no capítulo “Tratactus de Computis et Scripturis” (Contabilidade por Partidas Dobradas), o famoso Método das Partidas Dobradas.

O coitado do Frei foi desmoralizado pelos grandes profissionais (não falo nem dos que ganharam ou não propina, não é o meu departamento) que assinam a contabilidade da Petrobrás, cujo balanço foi rasgado em suas “fuças”, por não atenderem as normas técnicas.

Meu Deus! Será que a cada débito ainda corresponde um crédito de igual valor, a soma dos valores ativos corresponde a soma dos valores passivos ou, quem sabe, existe um novo manual de contabilidade próprio da Petrobrás (logicamente estão sendo desconsiderados os complexos atos normativos e se detendo ao fato) para maquiagem de balanços?

Alguém ouviu ou leu alguma referência do Conselho Federal de Contabilidade (CFC) ao fato?

Não? Estranho!

Socorro!

Estou aflito. Eu não sei se mantenho meu velho e querido diploma guardado entre as poucas realizações de minha vida, ou se o deixo na vala comum dos grandes questionamentos brasileiros que ficam sem respostas por muitos carnavais.

Até então estava preocupado com a dimensão do escândalo na empresa, de notório conhecimento, mas levar meu velho diploma na lama pisou nos meus calos e me chamou para a briga.

Querem uma solução contábil?

Apurem os fatos, apurem os valores negativos ou positivos, façam as conciliações, apropriações e batimento documental. Os valores baterão até os centavos. Assim falava o coitado do Frei e assim me ensinou o velho Professor Horácio.

E os roubos?

Já estão querendo demais. Estou tentando salvar a idoneidade de um dos institutos mais antigos do mundo (e ainda hoje utilizado) e que não tem nada com os roubos e jão estão apelando.

Se o Ministério Público e os doutores do Poder Judiciário não punirem alguém, nem que seja de brincadeirinha, uma coisa fica certa: eles não sabem nada de contabilidade, com exceção do valente Juiz Moro, responsável pela investigação em primeira instância. Mesmo que não tenha conhecido o velho Frei e o Professor Horácio sabe o que faz e até aqui não perdeu uma. Esse juiz exerce o seu trabalho com conhecimento e critério e, mesmo sem cogitar, salvou a integridade histórica do Frei Luca Pacioli e, puxando o saco para a minha farinha, do velho professor Horácio e, de resvalo, do valoroso trabalho do pai do “blogueiro” para a valorização da classe contábil e da Ciência da Contabilidade.

E pensar que nessa época a escola pública era considerada a melhor entre todas, inclusive entre as grandes e valorosas escolas de origem católica e que, mesmo sendo uma escola municipal, a contabilidade da caixa escolar cumpria fielmente o método das partidas dobradas.

Adauto José de Carvalho Filho, ARFRB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, consultor de Empresas, Escritor e Poeta)

 

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