DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

Sempre acordo mais cedo do que Ione, minha mulher. Nossa assistente vai embora sexta depois do almoço e só volta na segunda. Ficamos sós, os dois. Fins de semana, temos que nos virar. E enfrentamos o problema. Nunca pensei fazer o café da manhã. Tentando aliviar a barra de Ione, resolvi enfrentar o problema, para mim, até a primeira vez, problemão.       Já faz uns quatro meses dessa minha nova experiência.

Lembrei-me do meu professor de “Tempos e Movimentos”, quando fiz o meu curso de mestrado na Utah State University, George Shaw, figura simpática que se tornou meu amigo. Cinqüenta anos atrás. Cheguei em Logan, cidadezinha onde está a Universidade, e que responde praticamente pela economia do lugar, em pleno inverno, Janeiro. Frio danado, neve às rumas, caminhar um sofrimento. Ainda não tinha comprado carro, e Shaw, que tinha estado em Natal e onde eu o assessorei, ofereceu-se para ir buscar-me. Sua aula era a primeira do dia, começava as 7 da manhã, e com uma temperatura de 25 abaixo de zero, neve, ainda escuro, não era nada fácil caminhar até o prédio onde se dava a aula, embora não fosse longe. Meu apartamento era dentro do campus, mas não dava para ir a pé. Aceitei na hora

Ele me apresentou os papas do assunto, Fayol e Taylor. Na primeira aula, nos deu o primeiro problema – preparar o café da manhã, marcar os tempos e movimentos, e apresentar a solução na próxima aula. Esse foi a motivação adicional para que resolvesse o meu problema local. E comecei a fazer o café, gastando pouquíssimo tempo. Certo, é um café descomplicado.

Ponho a água para ferver. Enquanto isso preparo a garrafa térmica, ponho o saco de papel e o café; corto a minha fruta preferida, quase sempre um mamão desses pequenos, corto a fruta de Ione, geralmente uma maçã ou uma pêra, ponho o pão no microonda. Aí, a água já ferveu e é só coar o café. Pronto, tudo pronto. Tempo em que ela já acordou e vem chegando na cozinha. Tomamos nosso “breakfast” e para ela fica o mais fácil, lavar os pratos e as xícaras. Divisão equitativa do trabalho, exatamente como recomendado por Taylor. E eficiência total, como exige Fayol.

E já me acostumei. E ela já se habituou. Da primeira vez, perguntou, que é isso? Algum problema? Deixe que eu faço isso. Não, deixe comigo, respondi. Hoje, não pergunta mais nada. E meu medo é que queira que eu faça também o almoço. Prevenido, almoçamos fora sábados e domingos.

Dalton Mello de Andrade – Ex secretário de Educação do RN

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