COISAS QUE VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO “BEIJO DE JUDAS” –

Às vezes, surgem coisas na memória, que a gente não sabe explicar o porquê.

Foi o que me ocorreu, com a história do “beijo de Judas”.

Sem mais nem menos, me veio na lembrança a desfaçatez de quem comete a traição, a falsidade e a discórdia, na acepção dos termos de cada uma delas.

Na verdade, o ato de Judas é muito mais do que, simplesmente, traição.

Judas, na sua falsidade, representa o que de pior pode se revestir o ser humano, qual seja, além de trair a confiança, ter a sordidez de utilizar, como enganação, de forma desleal, o beijo, que é um símbolo de amor, para representar o seu oposto, que é a falta dele.

Portanto, o “beijo de Judas” foi muito além que o simples fato de trair.

O “BEIJO DE JUDAS”, NA ANTIGUIDADE

A igreja católica, identifica Judas Iscariotes, como um dos apóstolos, que ao invés de proteger Jesus, o entregou aos seus algozes, por trinta moedas de prata, sendo responsável, direto pela sua morte.

O “beijo de Judas”, foi a senha para a identificação do Mestre, possibilitando que os soldados tivessem a certeza
de quem era que deveria ser preso e depois executado.

Por conta dessa artimanha, traição passou a ser sinônimo ou ter relação direta com o “beijo de Judas”.

Não adiantou o seu arrependimento, que diante da tragédia que provocou, veio a se suicidar, enforcando-se, pois a ele, somente se referencia, como traidor, sendo lembrado como tal nas artes e até na música.

O “BEIJO DE JUDAS”, NOS NOSSOS DIAS

De maneira geral, o “beijo de Judas”; representa uma ação que pode aparentar um ato de amor ou amizade, mas é, realmente, uma ameaça a quem recebe.

Nos nossos dias, pessoas inescrupulosas, usam do fingimento para esconder os seus reais motivos, utilizando
o “beijo de Judas”, para obter ganhos, quando ele pode até estar escondido atrás de um sorriso ou de um aperto de mão.

Um beijo sem afeto é o que se pode chamar de “Beijo de Judas”, e, todos nós, temos que ter cuidado com ele. Muito cuidado, com ele, pois a traição é imperdoável, e o traidor, voltará sempre à cena do crime.

A traição, nunca virá do desconhecido, mas sim, daquele em quem depositamos nossa confiança.

O desconhecido, apenas faz nos enganar, o que é bem diferente de trair.

A traição, diferentemente do engano, quebra um compromisso, simbolizado pelos gestos e palavras que representam a confiança.

EXPEDITO E O “BEIJO DE JUDAS”

Tempos atrás, Expedito me contou, que estava, distraído, lá na Praça da Liberdade, em Caicó, onde tem aquele monumento imitando o arco do triunfo, que segundo me disse João Dantas, foi construído em homenagem a passagem da imagem de Nossa Senhora de Fátima, por lá, nos idos de 1954.

Segundo Expedito, houve uma “acontecências”, que ele prefere esquecer, e se assemelha ao “beijo de Judas”, pois, de repente, não mais que de repente”, surge Zefa, e lhe dá um beijo na cabeça”.

Resumindo, a história foi essa.

Me disse ele, na época, que ficou entre puto e preocupado.

Puto, porquê tinha que correr até o banheiro para lavar a careca, e preocupado, porque podia ser que aquele gesto, que tem como significado o ato da traição, poderia estar lhe identificando ou lhe indicando, para algum pistoleiro, a exemplo de muitos crimes, tanto políticos como passionais, que já ocorreram por lá.

Afinal, Zefa não merece confiança.

Como os papos com Expedito são motivo de algumas coisas que escrevo, não apago da memória do celular e,
cascaviando, encontrei o “papo motivo” dessa história, que, sem tirar e nem botar, foi assim:

Dotô eu tava assentado na Praça da Liberdade, lá em Caicó, cunversando, jogando cunversa fora, cum os amigo
e o pessoal da facurdade, quando vi Zefa, lá du otro lado, camiando nus pacêio da praça.

Eu logo dixe pra mim mermo: pronto. Perdi o dia.

Apois, du mermo geito qui a visage apareceu, sumiu.

Cuma eu num gosto di pensá e di ocupá meu juízo cum coisa rim, afastei logo a visão e os pensamento, daquela
coisa.

Entonces, continuei as conversa, e já tava rindo cum as ricordação de Mané de Justino, quando aquela assombração parô na minha frente. Veio do nada, comu si diz.

Eu ispiei e quaji num acreditei qui era Zefa.

Di supreza, fiquei oiando, calado, e entonce ela falô: ôi “Ditinho”.

Era assim qui ela mim chamava quando quiria sê carinhósa ou fingida.

Já pensou? “Ditinho”…

Num sei onde ela foi incontrá esse diminutivo de Expedito.

E eu, qui num criditava nu qui via, só in sintí aquele prefume forte, qui ela incoloca di manhã, já me deu um
injôo.

Entonce, mais qui di repenti, Zefa deu um bote, e deu um bejo na minha careca.

Dotô, foi mermo tudo muito di repente.

Si eu tivesse visto, ela ví, tinha me alevantado e saído da ária.

Mais, num deu tempo.

Adespois desse bejo farso, eu fiquei “prá num morrê”.

Ela sabendo du qui feis, se adispidiu du pessoal da facurdade e se danô no mundo, qui eu nem oiei pru distino
dela.

Mim alevantei e fui nas carrêra no banhêro do bár, prumode lavá a cabeça, pra tirá os cuspe daqueles beiço
farso.

Ói, Dotô. O sinhô mim cunhece e sabi qui, quando eu gosto, eu gosto. Mais, quando eu odío, eu odío, mermo.

Pacêi o resto du dia, dizendo e preguntando, prá mim mermo: Deus, purquê num afasta di mim, esse tróço?

Dotô, aquilo foi o verdadeiro “beijo de Judas”.

Qual o motivo du bejo? Pru modi o que? Num sei.

Escutei tudo calado, pois, desde a época que Expedito faz da raiva de Zefa, ora um alívio de vida, ora, um motivo de abuso e até de raiva, que eu sei me comportar diante do assunto.

Não procuro questionar ou até dar opinião, pois sei que posso estar encontrando problemas com o meu amigo.
Embora me reserve, apenas à escutar suas observações, me atrevi, uma vez, a perguntar: Expedito você tem raiva
de Zefa?

E ele me respondeu, na bucha. Não Dotô Antonio. Zefa num inziste mais. Eu tenho raiva, é de mim.

Ponto final. Nunca mais, perguntei mais nada sobre Zefa.

Apenas, escuto.

EXPEDITO AO TELEFONE

Parece uma “transmissão de pensamento”.

Estava pensando em coisas de Expedito, e ele me telefona.

Fala Expedito, digo eu, ao atender.

Ói Dotô. Tudo bem pur aí?

Tudo bem Expedito. Apenas muita chuva. Chuva pra mais da conta.

É Dotô, aqui pur Caicó, também tem chuvido, e os matuto anda tudo “alegre qui nem pinto im bosta”.

Mais, fora isso, o qui tem prá contá?

Quase nada, meu amigo. Digo eu.

Foi aí que caí na besteira de falar na história do “beijo de Judas”.

Estava até me lembrando daquela história do “beijo de Judas”, que você me falou tempos atrás, e pensando em
escrever um artigo sobre o assunto.

Mais Dotô, num mim diga isso. Pur mim, num quero nem falá nesse açunto.

Dotô, somente us besta, adespois de uma serta idade, procura brigá cum a vida e arranjá sarna prá si coçá.

Veja. Trabaiéi muito, e ainda trabáio, sempre cum pensamento de chegá na veíce e discansá.

Apois, Deus mim castigô. Quando eu já tinha dinhêro junto, mermo passandu pêlos pobrema qui pacei, me aparece uma “alma penada”, qui mim leva o qui eu tinha.

Mais, sabe o qui ela num levô de mim?

A saúde, a filicidade, a aligria di vivê, os meus amigo e a vivença cum a minha famia, o amô e o carinho dus meu
filhos e netos, qui mi perduáro das bestêra qui fiz.

As veis, quando óio prá êlis, cum pena, me alembrando qui num lhe dei o qui divia, vejo êlis oiando prá eu, cum pena di mim.

É os inverso.

Então prá terminá o açunto, cheguei a concrusão, qui se eu e minha famía num si ajudá, num vai tê nunguêm prá ajudá nóis não.

E tem mais. Num é qui eu vi aquela praga hoje? Fazia tempus qui não tinha esse disgosto.

Mais, sabi de uma coisa? Fáis de conta qui eu num vi, prá num mim fazê tê raiva.

É como diz minha amiga Raquel. Eu num quero tê razão.

Eu quero é sê filiz.

E “vâmo falá di jangada, qui é pau qui aboia”.

Sinceramente. Fiquei impressionado com a reação de Expedito, mas, ao mesmo tempo satisfeito, pois pensei ter
cometido uma inconsequência.

Continua Expedito com a palavra, engata marcha e segue. É acim Dotô. Nus meu setenta e sete ano, tô dando
cambaióta nu ar.

Perdí tempo cum qui num presta, e quagi mi indispuz cum quem num divia mi indispô.

Só quero agora pensá em vivê meus dia, cum minha famía, curtindo meus filho e neto, cunversando bestêra, bebendo minha cachaça Extrema, qui o sinhô mim manda, e dando meus pulinho, inquanto Deus qué e cósente.

Sim, vortei a vê meus amigo. Sabi quem eu vi astro dia, aqui im Caicó?

Joãozinho di Binidito. Joãozinho, ex gago.

Como assim, ex gago? Pergunto.

Purquê, agora, ele num gagueja muito mais, não. Num sei o qui ele féis.

E o que ele tava fazendo aí? Pergunto também.

Tava comprando quejo de qualho, prá levá prum amigo dele lá de Natal.

Mim disse: é prum baxinho amigo meu.

Inté pensei. Será qui é pru Dotô Antonio?

Não Expedito. Não era pra mim não. Há dias, não vejo Joca. Só pelo Zap.

Ele comprou um queijo desse, e me deu, quando a gente voltou de Petrolina, onde fomos adquirir umas mudas de umbu gigante.

Sim, E como vai os pé de umbu gigante?

Expedito. Com essa chuva toda, daqui a pouco, já estão botando fruto. KKKKKK.

Tá serto Dotô. Cum mintira e tudo.

Ói Dotô, tenho um açunto prá lhe contá, sobri uns sonho qui ando tendo, mais vô dexá pra ôtro dia.

Promití a sua filha Flávia Regina e prá Dotôra Tatiana, sua nora e grande adevogada, qui num ia falá nisso agora.

Hoji, tô muito filiz, e num quero trapaiá minha vida, cum ôtras coisa.

Rosangela tá vindo ali, trazendo, pra mim, uma camisa de Bolsonaro, qui ela comprô na carçada da Casa de Saúde São Lucas, e eu achu qui as coisa vai dá certo, aqui no cafofo, qui num é uma manção, mais tem filicidade.
Inté ôtro dia. Dotô.

Respirei aliviado, pois pensei que a minha indiscrição ia criar problema, mas, Graças a Deus, nenhuma
consequência ruim.

Celular ainda ligado, escuto Expedito gritar: ei essa minina, ói eu aqui! Essa minina, ói eu aqui!!!

Depois disso, só o alegre assobio da música de Bolsonaro, a caminho do cafofo, até que desliguei o telefone, para não ser indiscreto.

 

 

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]

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