COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS E FIGURAS DE NATAL –

FERNANDO FILÉ

Fernando Filé, que já nos deixou, era uma pessoa enigmática.

Eu mesmo, muitas vezes, não sabia se ele estava falando a verdade ou se estava inventando uma história.

Às vezes, me encontrava com ele lá no Clube dos Radioamadores e ele, começava a contar uma história, para no final, eu entender que era uma piada. Daí, quando eu soube de sua morte, preferia que tivesse sido outra brincadeira, que ele estava aprontando.

Infelizmente, era verdade. Apesar de lhe conhecer de há muito, por conta dos bares da vida, dos amigos comuns, e por termos sido vizinhos próximos na praia de Muriú, não posso dizer que lhe tinha intimidade.

No entanto, tinha a proximidade suficiente para conviver com ele, em especial, nas noites das sextas feiras lá no
Clube dos Radioamadores, quando uma grande turma se reunia para conversar besteiras e brincar.

De outras vezes ele chegava no Clube no final da tarde, e, bebendo o seu uisquinho, sentava próximo ao sinuca para conversar e brincar com Zé Barreto.

Fernando tem a autoria de muitas histórias engraçadas. Na verdade, ele era um presepeiro. Gostava de fazer graça.

Tarso Nunes me disse, que, certa vez, um grupo, foi passar um fim de semana na fazenda de Ivanilson Araújo, lá na Serra de Santana, que o anfitrião fazia questão de dizer que era uma região tão fria quanto a Serra Gaúcha.

O fato é que, por azar, nessa oportunidade – que se prenunciava chuvosa e fria – tanto a chuva quanto o frio,
fizeram “forfait”, como se dizia antigamente, e não compareceram.

O TERMOMETRO

Irresignado, vez por outra, Ivanilson consultava o seu termômetro, trazido da Alemanha, torcendo para que a
temperatura baixasse.

Como o termômetro tinha a propriedade de medir a temperatura interna e externa, pois uma das partes funcionava como “bluetooth”, Fernando, alegando que ia ao banheiro, pega uma pedra de gelo e coloca junto a parte externa.

Ivanilson, ao olhar para o controle central e ver a temperatura abaixo dos 15 graus, vibrando, mostra para a turma: “tá vendo”, “tá vendo”, eu não disse que aqui fazia frio?

O pessoal, “de bermudas”, gozava de Ivanilson, com a presepada de Fernando.

O PLUVIOMETRO

Como não podia deixar de ser, ao avançar da noite a temperatura veio a baixar, e, quando a turma estava para
se recolher, “o tempo fechou”.

Apareceram as escuras nuvens e se prenunciaram as esperadas chuvas.

Fernando Filé acorda logo cedo, vai na cozinha, pega uma jarra com agua e enche o pluviômetro próximo à casa, até os 30 ou 40 milímetros.

Chegando para receber seus hóspedes, para o café da manhã, Ivanilson, indo ao lado de fora da casa grande, vê o milagre da chuva, e, vibrando, chama o administrador para compartilhar a alegria, mostrando o pluviômetro.

Veja, Otávio, mais de 30 milímetros de chuva, durante a noite.

É quando o funcionário diz: “Dotor”, a “lebrina” não apagou nem a poeira!!!

Chegando, a tempo de presenciar a conversa, os “visitantes”, como já sabiam da presepada, aproveitam para rir, de, e junto, com o anfitrião.

É assim que se faz uma brincadeira.

A MUDANÇA DA BEBIDA

Essa, quem me contou foi Wilson Cardoso.

Fernando Filé chega no Clube dos Radioamadores, como rotineiramente fazia, e, diferentemente do usual, pede uma dose dupla de vodca.

Alguém pergunta: Fernando, você não é bebedor de uísque?

E ele fala. Sou. O caso é que eu fui ao médico e ele me disse que eu tinha que suspender o uísque.

O interlocutor pergunta. E então? Não era para você parar de beber?

Ele então, conclui: acho que não, pois ele não falou nada de vodca!

OUTRA DO MÉDICO

Outra que também foi Wilson Cardoso que me contou e também é ligada ao assunto de restrição de bebida, pelo médico.

Fernando Filé, saindo do consultório e verificando a receita, constatou a recomendação de que deveria tomar três caixas de determinado remédio, que não permitia “associação” com o álcool.

Ainda tinha, também, um detalhe. Caso interrompesse o tratamento, deveria suspender a tal da bebida, por algum tempo, antes de começar a caixa seguinte.

Enfim, um complicado processo e, como diz o matuto, um “avurtado” tempo.

Depois de uns seis meses, um amigo lhe pergunta: e aí

Filé, terminou de tomar as três caixas do remédio?

Ele responde: não. Ainda estou na dúvida. Depois que suspendi a primeira, não sei quando deveria começar a segunda.

MINHA COLEGA ANA ILMA

Ana Ilma, sua mulher, era minha colega, nos tempos de trabalho, e os seus filhos são contemporâneos dos meus.
Com relação a Ana Ilma, uma história.

Comprei um fusca, e mandei “arrumar” todo, gastando o dinheiro que me sobrou da compra.

Com a pintura nova e os equipamentos – quando um “toca fitas”, não podia faltar – o carro ficou uma “joinha”, e eu fiquei mais endividado que a “mulestra”.

“Tirei” o carro da oficina, e, no primeiro dia, quando cheguei na “repartição”, Ana Ilma me pede o carro emprestado para ir resolver um problema qualquer.

Eu falei: Ana, tenha cuidado. Depois desse serviço que fiz no carro, tô mais liso que bunda de menino novo.

Ela falou: nem se preocupe. Dirijo bem.

Não deu 10 minutos e o telefone da Secretaria “toca”.

Alguém me chama. Ana Ilma está querendo falar com você.

Imaginei logo! ”Foi merda”.

Não deu outra.

Falei: o que houve Ana? Bateu onde?

Ela disse onde tinha acontecido a “batida” e fomos buscar o carro.

Porém, isso é o “de menos”. São as coisas da vida.

Ruim é não ir encontrar Fernando Filé, para escutar suas histórias e beber uma dose de uísque com ele.

 

 

 

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]

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