COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE UM ADMINISTRADOR RESPONSÁVEL – DR. VAUBAN –

INTRODUÇÃO (ANTIGO HEIM?)

Agora, nesses tempos, em que, mais uma vez, como ´é necessário, se faz atualizações do Plano Diretor de Natal, buscando na minha “gaveta” de escritos antigos, encontrei esse.

Ele continua atual, pois, as vezes, em papos diversos, sou surpreendido com citações de autorias de obras e serviços, que se apropriam de feitos da administrações Vauban Faria.

Esse fenômeno de desinformação, deve-se ao fato, de que o seu trabalho não teve a necessidade da exposição política, pautando-se, apenas na realização de obras estruturantes e serviços básicos, que repercutem, até hoje, no desenvolvimento físico e administrativo do município de Natal.

VAUBAN BEZERRA – O “POLÍTICO”

Vauban Bezerra de Faria, Prefeito de Natal, no período de 1975 a 1979, foi um homem que se impunha pela simplicidade e pela inconteste honestidade.

Seu zelo pela coisa pública, aliado a sua capacidade de multiplicar os recursos financeiros para empregá-los em obras e serviços prioritários, o tornou respeitado pela classe política, notadamente, pela Câmara Municipal, cujos Vereadores nutriam por ele respeitoso apreço.

Deste respeito resultou uma liderança capaz de conviver com a Câmara de Vereadores de uma forma inusitada.

Contando com apenas 8 dos 21 vereadores, conseguiu manter todos os vetos que apresentou durante a sua administração, perdendo apenas um, relativo ao projeto da LEI DO SILÊNCIO, de autoria do Vereador Érico de Souza Hacrath.

Dentre suas vitórias merece destacar aquela que elegeu o vereador Lourival Bezerra da Silva, para Presidente da Câmara, tendo como Vice-presidente Antônio Edilson Godeiro, que era da ARENA, contra o Vereador Gilberto Rodrigues da Silva, que contava com apoio, dos líderes da chamada “paz pública”, da qual fazia parte o Governador Tarcísio Maia.

Deste episódio, não se pode deixar de comentar um fato pitoresco: a bancada da ARENA e os dissidentes do MDB ficaram concentrados, no dia da eleição, numa suíte do Motel Tahiti, somente saindo no horário da sessão, direto para a Câmara de Vereadores, pois, desta forma, estavam livres de “pressões”.

Resultado: como não foram localizados, conseguiram realizar as suas vontades pessoais, contra as vontades dos políticos detentores do poder, inclusive o Governador.

No mesmo episódio, verificou-se um acontecimento hilário: um dos vereadores escorregou e caiu na piscina de uma das suítes do motel.

Nada é perfeito!!!

VAUBAN BEZERRA – O ADMINISTRADOR

Tive a oportunidade de conviver com o Dr. Vauban Bezerra de Faria, quando ele, Prefeito de Natal e eu seu Secretário de Planejamento.

Foi assim que conheci algumas das suas virtudes, entre outras: ser Amigo, Grato, Sincero, Atencioso, Trabalhador, Humilde, tudo com letra maiúscula.

Honesto, dizia ele, não ser qualidade. Era obrigação.

Zeloso com a coisa pública, não descuidava dos mínimos detalhes.

Na sua administração foi feita a recuperação do Palácio Felipe Camarão, motivo de muitas “brigas” entre ele e o Eng. Muni Aby Faraj, por minudências que, para muitos, seriam desprezíveis.

Era o Dr. Vauban perfeccionista.

Com certa dose de brincadeira dizíamos – seus amigos Secretários – que iríamos escrever um livro relatando fatos passados na sua administração, pelo seu conteúdo sério, que muitas vezes tornava-se engraçado.

Ele tinha autoridade, sem ser autoritário.

Como em qualquer administração, às vezes, ocorria relaxamento nos prazos estabelecidos, mas ele tinha a sua maneira de mostrar que o fato não deveria se repetir.

Diante da possibilidade de permutar um terreno do Município com o Banco do Brasil, me mandou providenciar o levantamento da área, com o pessoal de topografia da Secretaria de Planejamento.

Cobrei o resultado na sexta feira, mas como não estava pronto, ficou prometido para a segunda feira próxima, dia da reunião com a Direção do Banco, risco, que Vauban não correria.

Ele me ligou no domingo após o almoço, perguntando se estava ocupado.

Respondi que estava tomando uma cervejinha e ele disse que passaria para me apanhar, e irmos, “rapidamente”, ver um assunto de interesse da Prefeitura.

Meia hora depois, quem passasse pela Av. Rio Branco ia ver o Prefeito e o Secretário de Planejamento, com uma trena, medindo o terreno por trás do Banco do Brasil.

Era o Vauban responsável.

Os Padres da igreja do Bom Jesus pediram para que não fosse colocada uma caçamba de lixo por trás da Igreja para evitar o mau cheiro, as moscas e tudo o mais que desagradável o lixo provoca.

O Prefeito Vauban mandou Paulo Mariz, Secretário de Serviços Urbanos, relocar a caçamba, tendo Paulo argumentado, com convicção, ser aquele ponto o que melhor se prestava para localizar o coletor.

Diante dos argumentos, ele resolveu aceitar, desde que fosse retirado o lixo diariamente, ou até, se necessário, mais de uma vez por dia.

Como as ordens não foram cumpridas, conforme o combinado, ele chama Paulo ao Gabinete, e, mesmo após veemente reclamação, Paulo insiste, garantindo que o lixo está sendo retirado todos os dias.

Ele contesta dizendo: “está não Paulo, eu passei antes de ontem, coloquei uma fita vermelha em determinado local do lixo e ela ainda está lá”.

Diante do fato não restava mais argumentos.

Era o Dr. Vauban dos compromissos.

Como autoridade maior do Município, porém, de fácil acesso, muitas vezes era procurado por funcionários ou pessoas simples, que lhe pediam ajuda, uma vez que os processos do interesse deles estavam demorando para serem solucionados pela Secretaria de Administração.

Lucio Santos, o Secretário, justificava a demora pela burocracia e também pelo excessivo número de processos.

Certa vez, faltando paciência, Vauban retrucou: “Lucio, quando o assunto é para beneficiar pessoas carentes o processo se arrasta como cobra. Mas, quando é para gratificação dos funcionários abastados, eles, (os processos), andam pulando como se fossem bodes em cima das pedras”.

Era a filosofia do Vauban sertanejo.

Do seu feitio constava a observância de horário e nesse quesito ele se excedia.

De fato ele era madrugador.

Quando tinha de viajar, gostava de chegar no aeroporto, pelo menos, uma hora antes do “check in” e, justificando economia, “sugeria”, quando viajávamos juntos, irmos “pegar o avião”, num mesmo veículo.

Como os vôos mais estratégicos para Brasília partiam logo cedo da manhã, dá para imaginar que tínhamos de chegar ainda no escuro e, para completar, nos dias de segunda feira.

Após resolver colocar em prática a “carona solidária”, chegando à minha casa para me apanhar, aproveitei a buzinada para acordar.

Repetindo a dose uma outra vez, quando cheguei ao carro ele disse: “Paulo Lopo Saraiva, (Secretário de Finanças), tem razão; o seu fuso horário é diferente”.

REALIZAÇÕES

A sua administração foi profícua em ações importantes, citando-se como exemplo: Construção da Av. Prudente de Morais, Viaduto do Baldo, Av. do Contorno e o trem urbano, Contensão das Encostas da Av. Getúlio Vargas, entre outras.

Quem era criança em 1995, não se lembra dos alagamentos do bairro da Ribeira, e os que vieram depois, não têm conhecimento de que o plano de drenagem de Natal foi elaborado na sua administração, e parte dele foi executada, inclusive com relação a drenagem do Bairro da Ribeira.

Como instrumento para bem administrar, não se pode esquecer a Implantação do Cadastro Imobiliário e a atualização do Plano Diretor.

No entanto, gostava de soluções simples.

Tendo reformado a Av. Hermes da Fonseca resolveu plantar chananas no canteiro central.

Sendo uma planta nativa, ela, além de simples, é resistente, e a sua floração traz alegria ao amanhecer.

Embora com esses predicados, as chananas não eram agradáveis aos jardineiros da Prefeitura, que preferiam plantas exóticas, como se só elas fossem sinônimo de beleza.

Dr. Vauban tinha por hábito, sair muito cedo dirigindo o seu próprio carro, para verificar providências determinadas, fiscalizar obras em andamento ou mesmo identificar problemas a serem resolvidos.

Durante um desses périplos, estacionando o carro na Av. Hermes da Fonseca, dirigiu-se aos jardineiros e perguntou, como se não soubesse, o que eles estavam plantando.

Sem reconhecê-lo, um operário respondeu: “esse FDP do Prefeito não tem o que inventar, e mandou plantar a merda dessa chanana”.

Ele, realmente, ficou p. da vida, e relatando o fato logo em seguida, me fez rir a vontade, dentro dos limites que a nossa amizade e o respeito me permitiam.

Era Dr. Vauban, o homem simples.

A fúria dos jardineiros contra as chananas permanece até hoje, embora eles não possam conter a sua teimosia de rebrotar.

Quando passo pelos canteiros e vejo as chananas sendo arrancadas, me lembro do Dr. Vauban.

Talvez, porque as chananas representem a sua simplicidade e a sua teimosia.

Assim era Dr. Vauban, UM HOMEM BOM.

 

 

 

Antonio José Ferreira de Melo – Economista – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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