COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE PESSOAS DE NATAL – BATISTA, O MECÂNICO

QUEM ERA BATISTA

Batista, tinha muitas virtudes, mas, para não “carregar nas tintas”, vamos destacar apenas 3: conhecedor da mecânica automobilística, raparigueiro e cachaceiro.

Nos meus tempos de “rapaz”, sem muitas “posses”, iniciando a minha vida profissional, costumava comprar carros que não eram “do ano”, e consertar, para usar.

Quem era o meu mecânico? Batista, que como já foi dito, era conhecido pelas suas raparigagens e irresponsabilidades etílicas.

UM EXEMPLO

Comprei um Jeep da época da segunda guerra mundial, a João Bosco Amorim, que foi Presidente da CIDA – que muitos nem ouviram falar – e era a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola, criada pelo Governador Cortez Pereira, e, por conta disso, o veículo estava “guardado” no Parque Aristófanes Fernandes.

Uma particularidade: o Jeep, estava parado há anos.

Então, fui com Batista para examinar o velho veículo, imaginando contratar um reboque para leva-lo até a oficina.

No entanto, ao fazer a sua avaliação, Batista constatou que poderia colocá-lo para funcionar.

Me pede para comprar as velas e o combustível, e, quando voltei, ele tinha colocado óleo nos pistões, e estava empurrando o Jeep pra lá e pra cá, ajudado pelos funcionários do Parque.

Então, ele coloca as velas e a gasolina, e o “bicho”, por incrível que pareça, “pegou”.

O grande mecânico já veio de Parnamirim, “montado” nele, e, imagine. Nem com o freio ele se preocupou.

Assim era Batista, um mecânico que “entendia do riscado”.

BATISTA E A CONCLUSÃO DOS SERVIÇOS

Como Batista não possuía carro próprio, utilizava para suas farras, aqueles que se encontravam na oficina e sabia que o dono “permitiria” essa liberdade.

Por conta disso, dificilmente, o carro ficava pronto na sexta feira.

Na noite de uma dessas sextas feiras, indo do “Bar Brisa Del Mare”, para a praia de Areia Preta, resolvemos cortar caminho, pela Ribeira.

Explicando: o “Brisa”, era um bar da Cidade Alta, na verdade, localizado no Paço da Pátria – quando ainda era possível ser frequentado.

Ao passar em frente da “Boite Ideal”, também chamada de “pensão estrela”, lá estava o Jeep – que não tinha “ficado pronto”.

Descemos e entramos no puteiro.

Batista, estava “aboletado” numa cadeira, “rodando” a chave do “carro” no dedo, como se fosse de um modelo “último tipo”, e, na maior pose, encontrava-se arrodeado de raparigas.

Como não imaginava ser encontrado, saiu-se com essa: Doutor, acabei o serviço agora, e vim aqui tomar uma cerveja para abrir o apetite.

Para não dar tempo que eu falasse, foi logo apresentando as “mininas”, que sabia delas, os mínimos detalhes. De onde veio, como perdeu a virgindade, etc. etc.

O jeito foi rir.

A MATRIZ E A FILIAL

Batista não era apenas frequentador dos cabarés do Bairro da Ribeira.

Tinha duas mulheres.

A sua mãe, que não prezava pelos bons modos, tinha preferência pela sua mulher legítima, mãe dos seus netos, e ameaçava, frequentemente tomar atitudes beligerantes contra a filial.

Batista fazia de conta que aceitava as críticas, aparentemente, dando sinais que iria se corrigir.

E falava: tá certo mãe, tá certo mãe, pra ver se encerrava a “cantilena”.

Ausentando-se a sua genitora, voltava a ser “tudo como dantes no quartel de Abrantes”.

Porém, quando D. Geralda – acho que esse era o nome dela – tomava conhecimento de que nada tinha mudado, o fato provocava, mais ainda, a sua ira.

Certa vez, cheguei na oficina e estava montado o “quiproquó”.

Desde os fundos do Teatro Alberto Maranhão, que não me lembro se ainda se chamava Teatro Carlos Gomes, ouviam-se os gritos.

Chegando lá, ainda pude presenciar o desfecho.

Dizia D. Geralda: se eu pegar você com aquela rapariga, eu corto o “priquito” dela.

Você vai ver.

No que Batista respondeu: eu “sordo” mãe, eu “sordo”.

Acostumado aos serviços de lanternagem dos veículos, assim, materializava a solução, “soldando”, para fazer a operação restauradora, do “priquito” cortado.

O CARRO QUE CAIU NA LAGOA

Um meu amigo, que não posso dizer o nome, pois tem uma mulher, igual a Zefa, que, segundo Expedito, faz confusão por tudo, possuía uma granja numa das lagoas próximas a Natal.

Certa vez, estando a mulher viajando, resolve fazer uma “brincadeira”, com umas amigas, na granja, e, lá chegando, estacionou o carro na parte alta da ladeira, porem esqueceu de puxar o “freio de mão”, ou tirar do “ponto morto”, colocando “em marcha”.

O fato é que, quando estavam no “bem bom” da brincadeira, o veículo desceu a ladeira, flutuou e depois afundou na lagoa.

Porém, antes que afundasse, os participantes da “festa” passaram uma corda no para-choques e amarraram numa árvore, até que um trator fosse mobilizado para puxar o carro.

Providenciado o “salvamento”, e abortada a farra, conseguiram socorro com um morador de outra granja, que possuía um “transporte”, e voltaram para Natal.

Sabedor de que eu conhecia “esse povo de oficina”, logo cedo do dia seguinte, me comunica o problema e pede minha ajuda.

Obviamente, indiquei Batista, como a pessoa que poderia tentar salvar o motor do carro e, para a sua oficina, ele foi rebocado.

Não lembro qual foi a desculpa que ele inventou para a mulher, mas o fato é que, quanto ao motor, não houve grande problema. Batista logo resolveu.

Trocou o óleo e as velas, retirou a gasolina, pois entrou agua no tanque, enfim, deu uma geral, inclusive na parte elétrica.

O problema mesmo, foi acabar com o cheiro de mofo nas “alcatifas” do grande veículo, e, para isso, Batista deixava o carro no sol, com as portas abertas, mas não conseguia eliminar a catinga.

Passados vários dias, como a “inhaca” permanecia, ele teve então, a brilhante ideia, de pulverizar grande volume de essência de eucalipto, no interior do carro, cujo ar, ficou “irrespirável”.

O meu amigo, que todo dia passava para ver o “progresso” das providências, chegando na oficina e desconfiando que Batista estava demorando a entregar o carro para ficar usando nas suas farras, ameaça levá-lo de qualquer maneira.

Então, fala pra Batista: olhe, não aguento mais os questionamentos da minha mulher, que não me deixa em paz, querendo saber porque o carro está demorando tanto para ser consertado.

Então, por conta disso, mesmo fedendo a roupa mal lavada, vou levar assim mesmo.

É quando Batista fala: Doutor, não faça isso. Sua mulher não vai gostar. Ontem, dei uma carona pra umas “mininas”, e, até hoje, elas estão com os olhos chorando.

E tome mais uma semana de sol e uns passeios noturnos, pelos cabarés da Ribeira.

 

 

Antonio José Ferreira de Melo – Economista [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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