COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DA INGRATIDÃO –

O GRATO E O INGRATO

Eu, considero a ingratidão um grande defeito do ser humano.

Posso até arriscar, e dizer, que é o seu maior defeito.

Nesse quesito, os irracionais possuem melhor comportamento que nós, os ditos seres possuidores da razão.

A internet está cheia de exemplos de animais que, após receberem um auxilio, tipo um golfinho que foi livrado das malhas de uma rede de pesca, veio agradecer ao seu benfeitor, lhe trazendo um mimo.

Quantos exemplos podemos tirar da fidelidade dos cães, que fazem agrados e defendem os seus donos, como recompensa pelos carinhos e afagos recebidos?

Uma das coisas que caracteriza a ingratidão, é o não reconhecimento do trabalho, esforço ou carinho que foi devotado a alguém.

O ingrato, pelo seu comportamento arrogante e egoísta, não dá valor e nem reconhece, o que lhe foi dedicado como ajuda, confundindo a prestimosidade e a atenção, fruto do trabalho e esforço de alguém a seu favor, como se fosse uma coisa merecida, fruto da admiração a sua pessoa.

O ingrato, é um ser abjeto.

O ingrato não tem consciência.

O ingrato é pior do que o ladrão, pois rouba a boa vontade de quem lhe acode.

UMA EXPERIÊNCIA NO TERRENO DA INGRATIDÃO

Sempre procurei ajudar àqueles que considero necessitados, sem, obviamente esperar algo em troca.

Como dizia minha mãe; “fazer o bem, sem olhar a quem”.

Pelo mundo por onde andei e pela vida que vivi, sempre estive com o flanco aberto para a ingratidão, e, por conta disso, algumas vezes, “dei com os burros n’água”, ao me deparar com algum ingrato.

Fazendo uma coleta de informações a respeito, encontrei uma delas, que se destaca pelo inusitado: uma ingratidão coletiva, talvez, pelas origens, talvez, pelo sangue dos seus componentes.

Para não sofrer ainda mais decepções, me afastei deles, e, Graças à Deus, nem os vejo mais.

Que Deus se compadeça deles, e, como diria Expedito: “isconjuro”.

E assim, vou levando a vida, sempre disposto a ajudar, pois, nesse assunto, sou incorrigível e não me arrependo de fazer o bem.

 

UM CASO CONCRETO

Conversando com Edimilton, marido de minha sobrinha Rosa Maria, e ele, senhor de muitas estórias, me diz que “a ingratidão é o câncer da alma”, e me conta um dos casos que se passou com ele.

A história é essa.

Durante uma campanha política num município do interior, onde trabalhava como técnico na área agrícola, por solicitação do candidato a Prefeito, assumiu a coordenação da campanha.

Como coordenador, era o “faztudo”, sendo responsável pela montagem do palanque, ligação das gambiarras, distribuição de camisetas e bandeiras, contratação de transporte para levar o pessoal aos comícios, além da distribuição de combustível e até socorro a eleitores que perderam o transporte para votar para casa.

Não era sem compromisso firmado. O candidato a Prefeito lhe compensaria com o cargo de Secretário de Agricultura, caso fosse eleito.

Homem ligado ao campo era por demais conhecido nas comunidades, e, por falar a linguagem do povo, só faltava ser carregado nos braços, reação popular, que cresceu durante a campanha.

Campanha vitoriosa, e passadas as comemorações, na hora da definição dos cargos, eis que surge uma “fake News”, criada e promovida pelo Vice-Prefeito eleito.

Segundo o que foi divulgado, Edimilton “estava de caso” com a mulher do Vice-Prefeito, o que seria uma desmoralização, sua nomeação para um cargo na administração.

Portanto, uma figura importante para a vitória política, após tanto trabalho, teve que ser “escanteado”, sendo cometida uma grande ingratidão.

Veja bem. O Vice-Prefeito preferiu passar por corno, para impedir a ascensão política de alguém, que viria a ser o seu concorrente, na próxima eleição.

Daí, fica claro, que, para cometer uma ingratidão, não falta nada. Nem a criação de chifre, que Edimilton jura ser mentira.

O caso foi esse, e deixamos de colocar o nome do personagem, mas, se ele vier a ler esse artigo, se identificará.

Como diria Expedito, “coloca a carapuça na cabeça”, com ou sem chifre.

EXPEDITO NA ÁREA

Estou nessas divagações sobre o ingrato, quando toca o telefone.

Era Expedito, uma das pessoas mais gratas que eu conheço, me ligando para falar das coisas da sua vida atual.

Quando digo que estou escrevendo sobre a ingratidão, ele fala: ói Dotô,  em sí tratandu desse açunto, tenho qui dizê, qui o ingrato pissue a asimilhança da traição, e o traidô, num tem cocêrto.

Só si matando.

Lá nu Siridó, esse meis, aconteceu um pobrema seriu. A família tumô ciência da traição, e matô o inconseqente do cara qui tava traindo a confiança do pessoal.

É acim, qui si resove as traição.

Olha Expedito, nisso, do traidor, eu estou de acordo com você, embora, em momentos de reflexão, achar que o ideal, é não fazer justiça com as próprias mãos.

Na minha vida, posso até, ter cometido algum gesto ingrato. Porém, “puxo pela memória”, e nenhum me vem à lembrança.

A TRAIÇÃO/INGRATIDÃO DE ASUERO

Expedito toma gosto pelo assunto e traz um caso muito conhecido, que é o caso de Asuero.

Vai logo me perguntando; Dotô, o sinhô se alembra de Asuero, lá de Moçoró.

Dando corda, eu digo: Expedito, ando meio esquecido dos detalhes do caso.

Dotô, o qui anda acontecendo cum o sinhô, homi de tão boa lembrança?

Se alembre, Asuero, era filho adotivo de Mauriço, pois Maria, por uns tempo, se asseparou da famílha e nesse tempo, teve um namôro cum um gringo, qui trabaiava nas salina, e desse namoro nasceu ele.

Adespois, o gringo vortô pras terra dele, lá pelas Oropa,  e Maria terminou se ajuntando ôtra veis cum Mauríço, seu ex-marido, dono das salina.

Mauriço criou Asuero, como si foçe filho dele, butô ele nas escola e, como si dizia, inté mais qui os próprio filhos dele.

Cum us tempo, Asuero, homi feito e istudado, qui gosava das confiança da familha, deu um gorpe nas finança de Mauriço, e dexô eli e os filho, “falando sozinho”.

Tá vendo?

Alem de ingrato, traidô, ou além de traidô, ingrato.

Ói Dotô. Tôda vida qui falo nessi açunto, mim dá raiva, pois já sofrí ingratidão, e num gosto de me alembrar daquela praga.

A DESPEDIDA

Dotô, vô tê qui disligá. Tô decendo na praia, e tô vendo Cristina se alevantando da rede, adespois dum cuchilinho, nesse ventinho do terraço, aqui da Barra do Cunhaú.

Vô fritar um camurim, qui o turismo mudô o nome prá robalo, prá fazê “parede” cum uma cachacinha Extrema, qui o sinhô mim mandô.

Adespois, vô cunversá, miolo de pote cum Cristina e vâmo só falá di amô.

Como Expedito não desliga o celular, escuto ele cantarolar, enquanto caminha pra casa:

Minha jangada vai sair pro mar

Vou trabalhar meu bem querer

Se Deus quiser quando eu voltar do mar

Um peixe bom eu vou trazer…

Quando para a música, ouço ele dizer, quase gritando: ói amôzinho, veija o qui eu pesquei prá você…

E quase murmurando, fala: agora, é correr pro abraço.

 

 

Antonio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *