COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS BOAS E APERREIOS DE VIAGENS –

 

Desde criança, aprendi a gostar de viajar, independentemente de qual destino fosse, até porque, as limitações eram grandes, e, portanto, “o que caísse na rede era peixe”.

Filho de João Ferreira e Maria Cordeiro, que me ensinaram, a alegria era arrumar a bagagem, o “farnel”, e pegar a estrada para ir para o interior do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará, mais ou menos os nossos limites territoriais do turismo familiar, ou mesmo para os “piqueniques” de final de semana.

Daí, minha paixão por viajar, preferencialmente no nosso Brasil, e preferentemente “de carro”.

Para uma boa viagem, é importante uma boa companhia, e que o estado de espírito esteja preparado, para o que der e vier.

Sem eventos inesperados, independentemente de sua extensão, engraçados ou não, os passeios se tornam monótonos e não temos o que contar depois.

Relatar apenas o que se viu e não o que se passou, parece apenas uma demonstração “gabola”, mesmo que tenha sido uma viagem ao Canindé de Padrinho Padre Cícero.

UMA VIAGEM E UMA DESOBEDIÊNCIA

Ainda criança, numa das nossas viagens para Pernambuco, passeando em Recife peguei um pedaço de arame, que encontrei na calçada, e, ao ficar brincando com ele, bati em um dos meus irmãos, que reclamou, e o meu pai mandou que eu jogasse o arame fora.

Coisa que não se discutia.

Pegando a estrada de volta à Natal, na época em que se parava para prestar socorro, encontramos um veículo, “no prego”, cujo problema se resolveria com um pedaço de arame.

Meu pai, conhecendo o filho que tinha, me chama, e pergunta pelo arame que me mandou jogar fora.

Muito desconfiado, meti a mão no bolso e entreguei o rolo de arame, que “tirou o carro do prego”.

O BAR NO CABARÉ

Estando em Santiago do Chile e com as manias do nosso RN, que bebíamos até tarde, estávamos num restaurante, que, já com a farra em andamento, nos comunicou que tinha o seu limite de funcionamento às 10 horas da noite, o que, para nós era muito cedo.

Como no hotel, também não teríamos atendimento etílico, perguntamos ao taxista onde poderíamos continuar a beber, e ele nos informou que, em Santiago, somente os cabarés eram autorizados a funcionar após aquele horário.

Foi para lá que nos dirigimos e bebemos até a madrugada.

Parecido com isso, foi o que VIVI em Curitiba, no Paraná.

Embora não possa nominar as pessoas que participaram do caso, vou conta-lo, com a omissão, o que não lhe tira o mérito da graça.

Como a rua 24 horas estava em obras, após as 21 horas, saímos em busca de outros locais, para bebericar, e terminamos num cabaré de alto nível, onde tinha um restaurante de excelente qualidade e também um “SHOW VIP”, para fazer jus ao conceito do cabaré.

Nos excedemos olhando a “performance” das mulheres, muito bonitas, e esquecemos de olhar o preço das bebidas.

O fato é que a conta atingiu um nível estratosférico.

Eu, que me divertia muito, com as mulheres que tinham duas vezes o meu tamanho, ao final da “farra”, questionei o valor da conta, e disse que não pagaria.

Foi quando o garçom falou: “é melhor vocês pagarem. O dono da boate é um delegado de polícia, e, normalmente, quando ocorre esse tipo de problema, termina o caso na delegacia”.

Assunto encerrado. E conta paga.

Isso, me foi lembrado, por um dos participantes, que encontrei no Iate Clube de Natal, num desses fins de semana.

AS HOSPEDAGENS NO RN DE ANTIGAMENTE

Na década de 70, trabalhando na Assessoria de Planejamento do Governo do Estado, cobríamos todo o Rio Grande do Norte, que não tinha boas acomodações e, muito menos, bons serviços de alimentação.

Por conta disso, era comum que, como viajávamos para atender os municípios, os políticos locais “facilitassem” as nossas acomodações, as vezes, nas salas de aula dos colégios.

Numa dessas situações, na cidade de Pau dos Ferros, ficamos hospedados numa casa do Deputado José Fernandes, pai de Elias e Sílvio, sogro de João Faustino, político de grande influência local.

Era uma casa enorme, um casarão antigo, e, no quarto em que eu estava “hospedado”, tinha uma “penteadeira” que devia remontar ao século XIX, e junto dela, uma caixa, cheia de óculos de grau, que eu não consegui imaginar a sua finalidade.

Fui conhecer, num momento, digamos assim, “difícil”.

No início da manhã, tendo acabado de tomar banho, e estando nu, vi a porta do quarto ser aberta repentinamente.

Como se estivesse comandando um pelotão, adentra o Deputado José Fernandes, a frente de um grupo de senhoras, para serem “atendidas”, experimentando os óculos – que eram retirados da tal caixa – e mirando-se na antiga e bonita penteadeira.

Conclui, de imediato, que os óculos, com diversos tipos de lentes de grau, eram moeda de agrado político, para os eleitores, em época de campanha, como a daquele momento.

Só tive uma atitude.

Levantei a rede de dormir, como uma cortina, enquanto o cortejo passava, e foi possível me enrolar na toalha e correr de volta ao banheiro, para me vestir.

OUTRA

Dessa época dos trabalhos da Assessoria de Planejamento Coordenação e Controle, a famosa APCC, temos muitas histórias.

Recentemente remexendo no meu “baú”, encontrei uma fotografia “tirada” num “restaurante”, para não dizer “bodega”, de uma cidade do nosso interior, que, me parece, era a sede do Município de Riachuelo.

Nesse tempo, obviamente, já existiam as diversidades das preferências sexuais, embora fosse inimaginável, que atingissem o nível das exigências dos seus preferentes dos dias atuais.

Portanto, não era possível acreditar na existência do seguinte cenário: nos fundos do “restaurante”, existiam três sanitários. Os das extremidades eram nominados como MACHO e FÊMEA. O do meio tinha como título: ESSE É NULO.

Para compor a fotografia, está Cláudio José Bezerra de Araújo, o meu amigo Cláudio Burrão, pousando, escorado na porta do sanitário central, fazendo uma pose “duvidosa”.

OS COSTUMES

Nessas coisas de viagens, um negócio que aprendi, mas não uso, é a necessidade de se informar sobre os costumes e normas “da terra”, para não ser surpreendido e passar momentos de aperreio, alguns maiores e outros de menor intensidade.

Chego com a minha mulher Salete, em Capri, e, na hora do almoço, tive um grande problema por desrespeitar os costumes italianos, que eu já conhecia, mas não imaginava tanta exigência.

Inicialmente, no “antipasto”, serviram os queijos, azeitonas e pão, pra enganar a barriga, mais ou menos como o nosso “serviço”.

Depois, como o “primo piatto”, veio a massa, e eu fiquei esperando por mais alguma coisa, para completar o almoço.

Quando chegou o “secondo piatto”, que é a proteína, a nossa “mistura”, e eu estava me preparando, para juntar tudo, a garçonete não concordou com o meu “sistema”, e pegou o prato para retirar.

Então, eu agarrei no outro lado, para não permitir que ela levasse o macarrão.

Esse jogo, tipo “escravo de jó”, pra lá e pra cá, somente foi resolvido pelo “maitre”, que, vendo a “confusão, veio até a nossa mesa, e apaziguou os ânimos, me dando razão.

Então, eu pude almoçar do jeito que eu queria, sob o olhar de repreensão da garçonete.

PASSEIO NA HOLANDA

Terminado um curso que fiz na Espanha, fui com Salete até Paris, onde morava minha prima Marisa, esposa de Laércio, no apartamento de quem, ficaríamos hospedados.

Liberado dos compromissos em Madri, viajamos, porém, sabendo, que naquela data o casal não estaria em Paris, pois iria passar o feriado na Normandia.

Era 6 de junho, feriado na França, relativo ao “Dia D’, dia da “Operação Overlord”, codinome da Batalha da Normandia, que iniciou a invasão da Europa Ocidental, pelos Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial.

Então, com o auxílio de um amigo do casal, com quem tinha ficado a chave da habitação, deixamos as malas, e resolvemos ocupar o tempo, pegando um trem para ir até a Holanda.

A ideia era fazer um “bate e volta”, em face da pequena distância.

Porem, chegando em Amsterdam, fomos conhecer a cidade, presenciando os jovens tomando “pico na veia”, em plena praça, visitando a rua das mulheres na vitrine, pegando um barco para passear pelos seus canais, onde estão as “casas flutuantes” e, até, ver a casa de Anne Frank.

O fato é que nos esquecemos do horário. Ainda tenho na lembrança, um relógio em uma torre dentro do mar, que marcava 6 horas da noite, sendo ainda dia claro.

Chamados à realidade, imaginamos conhecer a vida noturna de Amsterdam, e consideramos a possibilidade de dormir lá.

Porém, – sempre o tal do porém – como não tínhamos nos informado, ao procurar a agencia de reservas de hospedagens, fomos surpreendidos, pelo fato de que não havia disponibilidade de vaga, em hotéis da cidade, de qualquer categoria.

Com muita dificuldade, conseguimos alugar um hotel, numa cidade próxima e, devido ao pouco tempo que nos restava, corremos até a estação ferroviária, que, diga-se de passagem é uma obra de arte, uma verdadeira escultura arquitetônica, para “pegar o trem” e nos deslocarmos até o nosso destino.

Um fato inusitado, para complicar. Entramos na composição de vagões que não era a nossa. Uma senhora vendo o nosso bilhete, usando a mímica, informou que aquele trem ia no sentido oposto ao nosso destino.

Descemos, e, imitando a linguagem dos mudos, mostramos os bilhetes, a uma dupla de policiais, que nos levou até o embarque correto.

Um detalhe. Os policiais, tinham, no mínimo, dois metros de altura. Eles andavam, e nós corríamos. Chegamos esbaforidos, porém, uma pequena demora teria feito com que perdêssemos “o trem da viagem”, ou encontrássemos “o chapéu da viagem”, tendo que passar a noite em claro, junto aos drogados de Amsterdam.

Durante o pequeno percurso ferroviário, conhecemos um holandês, que morou na Argentina, e ele tinha residência na cidade para onde nos dirigíamos.

Usando o “portunhol” – que facilitou o diálogo – com as suas informações e o seu auxílio, ao parar na estação da cidadezinha, abandonamos a ideia da hospedagem, deixamos de lado o “voucher” do hotel, e compramos as passagens para “pegar” um trem com destino à Paris, que passaria nos próximos 15 minutos.

Embora tivéssemos considerado uma grande solução, “um verdadeiro achado”, o trem vinha lotado de jovens, que tinham ido para a Holanda, gozar das “liberdades”, não permitidas na França.

Pense numa noite de desconforto, pela “esculhambação” reinante.

O trem, mais parecia movido a maconha.

Chegamos em Paris, ao amanhecer, cansados e com sono, porem satisfeitos, e rindo de tamanha presepada.

Enfim. Nada à reclamar, e muito para contar.

A PEIXADA DE TERESINA

Sempre fui curioso e gostei de ver ou desfrutar, de coisas diferentes dos meus usos do dia a dia.

Chegando em Teresina, no Piauí, resolvi conhecer uma boa e tradicional peixada.

Tomei banho, para me livrar do absurdo calor daquela terra, e perguntei ao pessoal da recepção do hotel, onde tinha uma, de boa qualidade, sendo informado da melhor do pedaço.

Peguei um taxi, e me mandei pra lá, que era um local bonito e distante, às margens de um rio, com uma cozinha típica, de excelente qualidade.

Começo a comer peixe e beber cerveja, tendo como companhia, o próprio dono do estabelecimento e os garçons, pois, não era uma tarde de movimento.

Já anoitecendo, vejo o ambiente se esvaziando, com a saída dos poucos fregueses.

O fato é que, quando resolvo ir embora, fui informado que não tinha como fazer.

Não existia transporte e como ainda não era no tempo do celular, nem era possível, contato telefônico.

Imaginei ter que dormir nas cadeiras, já pensando nas consequências das picadas dos “carapanães”.

Por sorte, chega um casal de turistas, desavisado, e, antes que dispensasse o taxi, o garçom vai até lá, para dizer da situação e pedir uma carona para mim.

O casal, “para não perder a viagem”, resolve beber uma cervejinha, com casquinho de muçuã.

O motorista adormeceu no carro, e, pelo que eu me lembro, saímos da peixada, por volta das 23 horas.

Graças a esse episódio, voltei para o ar condicionado do hotel de Teresina, escapando dos mosquitos, na beira do rio.

OUTRO, EM PORTO RICO

Mudando um pouco de local, e estando em Porto Rico, para um encontro sobre energia alternativa, eu e mais três participantes, aproveitamos uma tarde de folga e fomos passear na parte antiga de San Juan.

Terminado o “city tour”, nos aboletamos num bar, para comer e beber, sem tempo para terminar.

Porém, chegando a hora do estabelecimento fechar, somos intimados à sair, e ficamos na rua, sem ter como ir para o hotel.

A realidade: por incrível que possa parecer, àquela hora, na área, não havia disponibilidade de taxi e nem de transporte coletivo.

Ao invés de nos preocuparmos, sentamos na calçada e começamos a rir, imaginando voltar para o hotel, a pé, sem a menor orientação e, muito menos, noção de distância.

Quando resolvemos empreender viagem ao desconhecido, eis que chega um nosso colega do “IFREE – The International Foundation for Research in Experimental Economics”, organismo que realizava o evento.

Ele sabia do nossa ida à parte antiga da cidade, e, como constatou que até aquela hora da noite, não tínhamos retornado ao hotel, foi nos procurar, obviamente, na área dos bares e restaurantes.

Lembro que ele estava num carro esporte da Mitsubishi, quase que construído, para somente duas pessoas, e agora, transportava cinco, sendo eu, o menor.

Imagina a presepada. Tudo “socado”, feito sardinha, dentro de uma lata.

 

 

 

 

 

Antonio José Ferreira de Melo Economista, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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