COISAS E ETC –

Amigos, corajosos, têm cobrado meus escritos. Na verdade, como diria minha mãe, “deixe de ser relapso”. Mas, como penso sempre dizer o que me passa pela cabeça, tenho mesmo sido vencido pela preguiça, que mereceu até um dos melhores versos do escritor cearámirinense Juvenal Antunes, “Elogio à Preguiça”.

Para quebrar essa ausência, que meu primo e amigo Nelson Freire sempre cobra, comecei a escrever essas “mal traçadas linhas”, como se dizia antigamente. Como eu sou de antigamente, até que não faço mal-uso da expressão, que também me sugeriu o título. Quando comecei a escrever, não tinha a menor ideia do que iria ser. Uma palavras puxa a outra, e o único trabalho que você tem é de juntá-las. Aliás, me espanta a prolixidade de certas pessoas.

Dentre esses campeões de falar, ou escrever, demais, lembro sempre dois nomes, opostos nesse sentido. De um lado, pela prolixidade, José Saramago, sem dúvida um grande escritor (quem sou eu para dizer que não), mas de uma verbosidade cansativa. Homenageando o seu centenário, resolvi reler o seu “Viagem à Portugal”. Nunca pensei que Portugal fosse tão grande! Consegui ir até o fim, mas só empurrado à vinho português.

Do outro lado, Churchill. Escreveu tanto, ou mais, do que Saramago. Só sobre a Segunda Guerra Mundial escreveu seis volumes. Todos objetivos e concisos, nada deixando de mencionar se realmente importante. Escreveu muitos outros, entre os quais “Minha mocidade”, gostoso de ler e sem estórias compridas. Sempre objetivo. Aliás, ele dizia, em relação aos discursos e os escritos: “seja breve, use palavras simples e frases curtas”. Cumpria essas observações.

 Sempre procurei seguir esses ensinamentos, mas descobri uma forma muito melhor. Escreva, no máximo, o que você pode ler sem cansar. Objetividade, simplicidade, e sobre assuntos que possam despertar algum interesse. Que pelo menos gere uma dúvida quando começarem a ler: que diabo esse maluco quer dizer?

Com essas regras e sugestões em mãos, você pode pelo menos ter uma certeza, a de que será lido ou não. Se você despertar curiosidade, será lido até o fim, mesmo que o leitor ache tudo meio louco. Talvez até por isso mesmo.

Quando escrevia semanalmente para o “Jornal de Hoje”, por obrigação, embora não remunerado, procurava ler todos os jornais, alguns até estrangeiros, para encontrar inspiração. Escrevia sobre quase tudo, inclusive política. Hoje, não escrevo sobre nada a não ser o que brota da minha cabeça. Evito, mesmo, comentar sobre qualquer assunto polemico, embora me mantenha em dia com o que vai pelo país e pelo mundo. Ambos, diga-se, cada vez mais loucos.

Estão vendo? Já completei a minha quota de asneiras para um dia.

 

 

 

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN, [email protected]

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