CENTENARIO DE DOM NIVALDO MONTE  –                             
Nas vestes da formalidade, aqui represento o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, do qual o homem erudito, Dom Nivaldo Monte, era sócio efetivo.  Aqui deveria estar o seu presidente, Ormuz Barbalho Simonetti, impossibilitado de comparecer em consequência de uma cirurgia de catarata. Disse-me que seu compromisso com o passado preserva a lembrança de Dom Nivaldo em sua terra, onde, na condição de vigário de Goianinha, celebrou o matrimônio de seus pais, Arnaldo e Cirene Barbalho Simonetti.
Nas vestes da amizade e da admiração, quase devoção, aqui estou eu, discípulo de um grande mestre. Dom Nivaldo foi meu professor no Seminário de São Pedro. Observava-nos a todos, com os olhos de uma paternal psicologia. Gostava de ver nossas disputas futebolísticas. Sempre de bom humor, motivava-nos a imprimir qualidade em tudo o que fazíamos.
No decorrer dos anos, quando a maturidade nos acolhe, mais frequentes tornaram-se nossos encontros, seja no Serviço de Assistência Rural, então sob a batuta de Dom Eugênio Sales, seja em solenidades especiais, quando sua palavra imprimia o selo de qualidade ao evento. Lembro-me bem da força de sua palavra, temperada de lirismo. Não era assim, pelo encanto da palavra, e da verdade que transmitia, que o próprio Jesus revelou-se ao mundo?
Ah! Dom Nivaldo Monte, quanto bem foi plantado! Quantos frutos colhidos!
Certo dia, em visita ao Sítio onde eu morava, em Monte Alegre, Dom Nivaldo chegou ao meu escritório de trabalho e me indagou, diante de algumas estantes repletas de livros: Assis, você lê tantos livros e nada escreve? Sob o impacto da pergunta, passei-lhe às mãos alguns artigos e razoável número de poesias. Concentrou-se na leitura de uns poucos textos e me transmitiu a seguinte lição: “Nem todas as árvores são ornamentais. Muitas delas trazem a destinação de alimentar os homens. Por isso, dão fruto. A poesia, a música, a literatura, todas as formas de arte são frutos que alimentam a alma humana. Publique seus poemas. E arrematou: Rasgue o véu de sua timidez!”
Assim nasceu meu primeiro livro, Asas e Voo. No dia do lançamento, no Solar Bela Vista, Dom Nivaldo foi o primeiro a comparecer. Que mais posso dizer? O espaço da gratidão é infinito. Em sua homenagem, e após sua bela viagem transcendental, compus este soneto em sua homenagem:
DOM NIVALDO MONTE
Sendo a fé um dom de Deus, nele brotou
Muito mais viva do que a Teologia;
E sua palavra de amigo se mostrou
Mais cativante do que a Filosofia.
Nos jardins de Emaús ele ensinou
Que o melhor fertilizante é a alegria;
Fez do trigo e da uva que plantou,
O pão e o vinho de sua eucaristia.
Desprezando a ostentação e a vaidade,
Na enxertia de exemplo e santidade
Recolhe os frutos da admiração.
Com a força da palavra e do sorriso
Demonstrou que só encontra o Paraíso
Quem semeia o amor e a compaixão.
Francisco de Assis CâmaraEscritor
Obs.: Texto produzido e lido durante a Missa Solene celebrada na Catedral de Natal, dia 15 de março de 2018, por ocasião do Centenário de Dom Nivaldo Monte. 

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