O coronel Antônio de Castro (meu pai – 1989-1992), em plena atividade cerebral, guardava e trazia, no repouso da sua memória, lampejos e proezas que bem o caracterizavam. Oscilava silêncios pausados, rememorando a sua rica história policial; momentos de exaltação de uma boa literatura clássica, poética; instantes de um bom e refinado senso de humor. Recordo e relembro algumas de suas tiradas e causos:

Dizia ele:

1 – É melhor ser corno do que ser Prefeito: o Prefeito  só ostenta sua plenitude de autoridade, como chefe da cidade, por um curto período de 4 anos; já o corno, leva o seu permanente e eterno diploma pelo o resto da vida.

2 – Meus filhos, nunca brinquem nem  desafiem três espécies de gente: menino, índio e doido.

3 – Enganado pela compra de um galeto recheados de pés, escondidos na sua carcaça, rechaçou ao despachante: “Devolva o meu dinheiro, espertinho , eu comprei um galeto e não um embuá”!

4 – Perguntado sobre o que mais gostaria de ter, respondeu: “Um bicho de pé entre os dedos e uma rede de tecido grosso com amplas varandas pra poder coçar e esquecer o tempo e o mundo.”

5 – Gostava, em seus momentos líricos, poéticos, de  lembrar o genial escritor e poeta romântico, Álvares de Azevedo (1831-1852) –Noite na Taverna, quando recitava: “Vinho! Vinho! Não vês, taberneiras, que as taças estão vazias e bebemos o vácuo, como um sonâmbulo?… Olá, taberneira, bastarda de Satã, não vês que tenho sede, e as garrafas estão secas, secas como tua face e como as nossas gargantas”?.

6 – Quando, já em idade avançada, no repouso do lar, assistindo os netos numa superatividade sem fim, pedia: ” Mande os meninos pararem, pois já estou morrendo de cansado só em ver”.

7 – Quando alguém tentava  lhe causar inveja desfilando  a sequência de uma gostosa e requintada refeição, dizia: “Cospe um pouquinho aqui na minha boca”!

8 – Gostava muito de ouvir causos, e chamava sempre o galego Assis, seu funcionário (mentiroso nato), para ouvir suas estórias, dando-lhe muito atenção e respeito. Quanto tudo terminava, com a seriedade de um carrasco nazista, dizia em voz alta: MENTIROSO!!!

9 – Contava que em certa  ocasião, diante  de uma  discussão acirrada em um festejo de interior, um dos integrantes/intrigantes bradou:

– Me respeite seu cabra!

– Você sabe com quem está falando?

– Não! Nem quero saber!

– Olhe bem que posso lhe prender!

Depois de multo falatório e muita discussão, o intrigante ameaçado perguntou;

– Quem é você finalmente?

– Eu sou o cara! Promovido recentemente a segundo suplente do subdelegado de Mangabeira, distrito de Macaíba! Quer mais?

– Teje  preso!

10 – Relembrava que em uma dessas suas andanças pelo interior como delegado de polícia, um cidadão comum, muito aflito, procurou o médico da cidade, (raridade na época), que junto com o padre e o delegado constituíam o triunvirato mais importante do município: resolviam tudo.

O humilde senhor foi até casa do médico, em estado desesperador, pedindo por tudo que o doutor lhe atendesse, indo até em sua residência consultar sua esposa que estava passando muito mal.

 O doutor muito carrancudo, na tranquilidade do seu repouso domiciliar, perguntou:

–  Trouxe o carro para me levar?

– Não doutor!

– Trouxe uma carroça?

– Não doutor!

– Trouxe o cavalo?

– Não senhor doutor, é bem perto, é aqui em cima!

Rebateu de pronto o doutor já irritado:

– Então traga a escada!

Berilo de Castro – Médico, escritor, membro do IHGRN  – [email protected]

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