A CASA DAS LETRAS –

Quem transitar pela avenida Rui Barbosa, cortando o Recife desde o Parque da Jaqueira até a Praça do Entroncamento, limpa a vista com um belíssimo cordão de palacetes dos dois lados da via. Trata-se de um bem posto agrupamento arquitetônico do Século  Dezenove, aí incluso elevado número de estabelecimentos escolares tradicionais.

Na confluência com a rua Doutor Malaquias o freguês tem a sua atenção chamada por um belo casarão, que de 1827 a 1893 serviu de residência à família do Barão Rodrigues Mendes, um rico comerciante português. Saltando na linha da história, tem-se que em 1965 o palacete foi adquirido pelo Governo do Estado  e doado à Academia Pernambucana de Letras, que até hoje ali tem a sua sede.

O conjunto imobiliário que é o lar da guardiã da cultura de Pernambuco está encravado em um terreno de cerca de um hectare. Após passar nos anos uma série de dificuldades de conservação, o imóvel da APL sofreu nos últimos meses um rigoroso processo de revitalização, incluindo cobertura, forros e fachadas, com o patrocínio de verbas do BNDES, dentro do Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONC, sendo os arremates custeados por empresas e pessoas da sociedade recifense. As obras atenderam a projeto do arquiteto e restaurador Jorge Passos.

O chamado “Casarão”, núcleo mais nobre da APL, foi  reinaugurado, com a devolução, à comunidade, do acesso a bens culturais preciosismos, a exemplo de uma biblioteca com mais de trinta mil volumes, do piso francês, do mobiliário de época, da pinacoteca e dos belíssimos lustres de cristais importados.

A atual presidente da APL, escritora  Margarida Cantarelli, trouxe para a mencionada instituição cultural a experiência de gestora  de muitas entidades do serviço público, inclusive tendo presidido o Tribunal Regional Federal da 5a  Região, de onde é desembargadora  aposentada. Na solenidade que reabriu as portas da secular instituição, ao público pernambucano, Margarida lembrou Churchil, registrando a sua inquietude para dotar a Academia de instalações compatíveis com a dignidade da sua missão: “Não estamos no fim, nem no começo do fim, mas no fim do começo”. Quem a conhece, como eu, não duvida que esse  propósito será concretizado.

IVAN LIRA DE CARVALHO – Juiz Federal e Professor – [email protected]

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