CAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO – 

Segundo o Aurélio, indignação significa sentimento de cólera, ira, raiva, provocado por uma afronta, ação vergonhosa, enfim, injustiça que ocorre no meio em que vivemos. Em uma democracia, todas as pessoas devem possuir o sagrado direito de exercer tal sentimento.

Apesar de conhecedores desta verdade, a grande maioria dos brasileiros parece haver esquecido a importância de tal capacidade, talvez pelo fato de enfrentarem, a luta pela sobrevivência, em um mundo de maquinas sofisticadas, quando os homens, cada vez mais, se tornam reféns de suas ferramentas, distanciando-se da socialização com seus semelhantes e entrincheirando-se em seus egoísmos.

Tinha menos de dez anos de idade quando o Brasil vivia a era dos generais. Época em que, apesar do controle da economia, freando a inflação, o regime era criticado por grande parte da sociedade que, mesmo amordaçada, de alguma forma movimentava-se em busca do livre arbítrio. Recordo que, já na era da democracia, os brasileiros foram às ruas de várias cidades do país e influenciaram na retirada do poder, de um presidente, eleito pelo voto do povo. Lembro que, alguns anos atrás, um grupo de bandidos atormentava os habitantes de Maceió com crimes e assaltos. O alagoano, que se encontrava revoltado com os atos nocivos dos fora da lei, talvez, até, de forma inconsequente, mas, embasada na indignação, aplaudiu as Polícias, Civil e Militar, quando exterminou o grupo de facínoras, entrincheirado em apartamento de condomínio residencial, localizado no bairro da Cruz das Almas.

Hoje, as coisas mudaram. Os roubos oficiais dos governos, que são semanalmente desnudados, transformam as razões que possibilitaram o impeachment de um mandatário maior da nação, em contos infantis. Os crimes, ocorrendo em cada esquina da cidade, deixam todos boquiabertos, principalmente pela inoperância do aparato militar que, de alguma forma, encontra-se tirantado pelas regras ora vigentes dos direitos humanos. As drogas proliferam à luz do dia. Nas cidades do interior e bairros afastados da capital é comum se ver, já no inicio da manhã, homens de diferentes idades, sem rumo, sentados ao redor de uma garrafa de cachaça, esperando o tempo passar, enquanto, no interior das residências (se é que assim podem ser chamados tais aposentos), não existem menos de três crianças, com idade inferior a cinco anos, paridas por mães, a maioria já banguela e sem futuro, embora ainda não tenham completando duas décadas de vida.

O poeta um dia falou que: Quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades cometidas contra os outros, perdemos também nossa condição de seres humanos. Assim, cada vez mais me conscientizo: construir estádios de futebol para a copa do mundo e duplicar estradas, é fácil; edificar escolas e hospitais é possível. Contudo, formar uma nação de homens dignos é tarefa longa e árdua.  Que bom seria se todos os que podem influenciar neste sentido pensassem assim.

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

 

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