CALDEIRÃO DO DIABO –

Um Estado não é apenas o seu tamanho territorial. É o tamanho de suas lutas para existir como tal. O Rio Grande do Norte, ao longo do tempo, degradou-se administrativamente, vítima dos privilégios das suas elites. Hoje, ele é soma de todos os erros. O que o povo perdeu nesse fogo não será mais achado nas cinzas. O governante procura convencer permanentemente as pessoas daquilo que elas não precisam. A cirurgia a ser feita no corpo de delito é mais em cima. Vejam o somatório de eventos depressivos no Estado calamitoso: crise no sistema penitenciário, verdadeiro barril de pólvora; incertezas com relação a segurança da população face a colisão frontal do atraso que ainda persiste e que não vai sarar até o fim do governo; greve dos servidores da saúde por melhores salários e condições de trabalho, além do desabastecimento dos hospitais públicos; ausência de uma política efetiva de socorro aos municípios contra a estiagem pois dezenas deles já entraram em colapso de abastecimento; perseguição aos aposentados aumentando a contribuição de onze por cento para quatorze. Essa categoria funcional, que contempla todos os segmentos administrativos, teve o fundo previdenciário arrombado pelo gestor com o saque de um bilhão de reais. O governo vai pagar quando?

É urgente que as associações representativas dos inativos, compreendendo desembargadores, juízes, conselheiros, procuradores e outros setores do legislativo e do executivo civil e militar, se irmanem para protestar. A Assembleia Legislativa não pode coonestar dois assaltos seguidos ao bolso do aposentado que já percebe com atraso de dez, quinze, vinte e trinta dias os seus proventos.

A gordura da folha do Estado reside no excesso dos “auxílios” ativos, retroativos e putrefativos, ali e alhures, concedidos aos que percebem altos salários. Aliás, é de bom alvitre investigar sim, as licenciosas e gordas aposentadorias, sem critério e sem vergonha, concedidas nas órbitas dos planetas Saturno e Plutão. Inclusive, o portal da transparência do sistema já exibe os nomes dos que apostaram e continuam ganhando. Nesse particular, as distorções são gritantes e precisam ser reexaminadas, revisadas, se possível. É incontestável! Erros foram cometidos de forma intencional, graciosa e deliberadamente.

Quanto à suspensão do cessar-fogo entre o governo e os policiais, através da assinatura de um pacto, de um documento, apenas traduz o reconhecimento de que os agentes militares e civis tinham razão. Tanto é assim, que o governo não cogita punir ninguém, porque reconheceu que tinham razão. A situação era grave mas não era greve.

Faria já falhou antes, no início do governo, com essa categoria. Quero dizer que “bem estar o que bem acaba”. Aliás, é o título de uma comédia de William Shakespeare. Não sou profeta, nem ave de mau agouro. Mas papel, com o tempo, ele se rasga no cartório, na igreja, no banheiro, na padaria, na loteca ou em qualquer parte. Tudo isso dependerá, da maturidade, da competência e da firmeza dos que assinaram o documento. Circunstância é circunstância. Nessa vida, a gente administrará sempre o tempo, as temperaturas e os temperamentos. O importante é que o Estado seja salvo, visto ser o que fica quando tudo passar. Governo vem, governo vai. É o ciclo natural da vida pública. Nela, jamais deixará de ferver o caldeirão do diabo porque é obra de César. Desde o tempo dos romanos.

Esperamos que os vinte e cinco itens apresentados pelos policiais sejam atendidos. Aguardamos a queda do índice de criminalidade no Rio Grande do Norte. E que o aposentado não pague a conta sozinho. Ele é sempre réu dos crimes imaginários. Desejo desarmar todos os meus presságios, dúvidas e dívidas. É preciso, contudo, desviver esse tempo mal assombrado. Porque terrível é ter que desamar os frutos.

 

 

Valério Mesquita – Escritor – [email protected]

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