JOSUÁ COSTA

Carlos Alberto Josuá Costa

Os preparativos logo cedo são articulados por LUCAS Josuá Rocha, através de telefonemas pra lá e pra cá. Os primos LUIS AUGUSTO Costa Soares e PEDRO HENRIQUE Josuá Maciel Ferreira, são indagados: “Vamos andar de bicicleta”?

“Vovô, pronto, tudo combinado!”

Aí é que começa a logística (de fazer inveja ao exército americano): Combinar para tomarem banho, almoçar cedo, dar um pequeno cochilo, marcar horário, checar as bicicletas, colocar o suporte no carro, enfrentar o trânsito, disputar estacionamento, dar orientações e finalmente o Parque das Dunas (Bosque dos Namorados).

Caminho os primeiros 400m e sob as árvores escolho um banco como posto de observação. Em pouco tempo restabeleço as energias e de posse do meu caderno de anotações, vou escrevendo o que vem ao pensamento. São as inspirações, ainda desorganizadas, querendo estabelecer “contato de primeiro grau”, com minhas emoções.

Os primos já anunciando seus feitos, vão passando com acenos e pedindo para que eu faça a tomada de seus tempos, no circuito do parque: “Vovô, quantos minutos”? “Tio Jôso, fui mais rápido”? “Tio Beto, e o meu tempo?”. Para ver o circo pegar fogo, digo: – Foi empate. Vão novamente! E aí a disparada é grande.

Na solidão da linha de partida e chegada das bicicletas, fico observando os diversos caminhantes, com passadas num ritmo personalizado, cada um em busca do condicionamento perfeito. Mudando o olhar, chamou-me atenção uma garotinha, talvez com seus três aninhos, que apanhava gravetos e colocava-os junto ao tronco de uma das árvores. Na minha imediata análise veio-me um sorriso e uma admiração suprema: “Que criança sabida!” Este ato foi ensinado ou é uma das facetas da sabedoria?

Outra cena também despertou minha curiosidade. Num banco bem à frente, estava um senhor de estatura média, esbelto, cabelos grisalhos, sozinho, quase imóvel, olhar fixo e contemplativo. Num impulso, abandonei o posto e a tomada dos tempos dos jovens ciclistas, e com passos suaves, fui em sua direção.  Delicadamente (quase sorrateiro), sentei-me na outra ponta do banco e sem nenhuma palavra percebi minha respiração se amoldando e, quase possível, perceber que nossos corações estivessem num mesmo diapasão.

Silenciosamente “conversamos” sobre saberes e sabedoria.

Que conhecimento aquele homem carregava consigo? Que percalços superou para estar sublimamente alheio ao entorno? Quanto ensinamento adquiriu e compartilhou quando jovem e agora?

“Vovô, porque saiu dali? E nossos tempos?” – Agora, estão liberados, sigam brincando!

A garotinha e aquele homem que experimentam fenômenos diferentes, em diferentes fases de desenvolvimento, utilizam o processo lógico de perguntas e respostas?

Posso apostar que tal como a linha de chegada das bicicletas, aquela criança estava apenas nos primeiros passos, incipientes ainda, na formação da bagagem dos saberes que constituirão o conhecimento futuro. Sua ação de recolher os gravetos reflete lampejos da manifestação do inconsciente, que ainda “inconsciente” a faz associar objetos, no caso, os gravetos à árvore.

E o homem introspecto?

Leva-me a induzir que aquele homem, contemplativo, construiu seu conhecimento através de etapas de encadeamento de saberes, adquiridos a partir de perguntas “saber o quê, saber como, saber por quê, saber para quê”.

As respostas, na maioria das vezes, não foram assim “de pronto”. Mas, formado  pelo sucesso da descoberta consciente, onde os elos foram sendo estabelecidos, pela posse aos significados da realidade concreta, do mundo dos saberes.

A imobilidade foi “quebrada” com o frear das bicicletas bem próximo do banco, para permuta das brincadeiras: “Vovô, agora vamos jogar bola, pastore aí”!

Ele, o homem, tinha mudado de posição e se voltando para mim, disse: “- Meus netos também são assim”. Acenei com a cabeça concordando e aproveitando o “descuido” de sua concentração, indaguei: – Como o senhor consegue ficar tanto tempo assim sozinho e calado? Sua resposta foi simples e divina: “- A vida sempre exigiu de mim silêncio e retidão”. Fiquei esperando por mais, e em voz carregada de vivências: “- Por 39 anos dirigi e comandei homens, suas atitudes e disciplina. Era capitão de navio mercante”.

Levantou-se, bateu seu boné nas pernas, como que soltando a poeira dos tantos saberes acumulados em seu consciente, e apenas disse: “- Até breve”.

Teria ele também me observado, em alguma das tardes que ali passara?

Não pude sair; as bicicletas estavam no chão, mas meus saberes galgaram um degrau.

Cada um de nós abriga um saber antes de poder ser dita em palavras.

Assim se encontrava o capitão.

E a menina dos gravetos?

Já não estava ali. Talvez estivesse em outras vivências!

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

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