ASSISTIU-SE A UMA COPA DO MUNDO ENTRE MUITOS DAVID E GOLIAS –

Nos tempos de antanho, se o jogador de futebol não tivesse o mesmo perfil de um Didi, um Gérson ou Tostão, seria simplesmente apodado de “perna de pau”, um termo por demais excludente de perfil para o esporte. Esta Copa da Rússia parece que produziu uma espécie de transição do jogo jogado, driblado, para o dito “jogo aéreo”. Como esbravejou há dias certo comentarista televisivo, referiu-se que “o jogador grandalhão chutou de canela!” Este, apesar dessa performance anômala, acabou sendo o craque do jogo. No entanto, ainda prevalece a lógica da agilidade típica, o melhor da partida é um jogador baixinho, como o Romário. Ainda a observação de um lance no último jogo do Brasil em que um jogador adversário de quase 2m quase fez o gol ao disputar a bola pelo alto com o “baixinho” Fagner de 1m67. Na média, no jogo corrido de velocidade até que este atleta do Corinthians se destacou bem no cômputo da partida.

Na observação do panorama geral do esporte bretão de origem, vive-se uma fase evolutiva do atleta, afinal quem diria que o jamaicano Usain Bolt, com seus 1m96 e quase 90kg, marcaria incríveis 9seg98 para um arranque de 100 metros! É nítido o corte evolutivo da performance extrema de um atleta nos dias de hoje, e o futebol mostra que está se adaptando. Mas é a chamada beleza do futebol, tão bem exibido ao mundo pelo nosso Mané Garrincha; como sobreviver a essa exibição de leveza e ritmo, como exaltava o jornalista Armando Nogueira, em meio ao “agarra-agarra” assim exaltado nas quatro linhas e, muitas vezes, desconsiderado pelos árbitros como falta, que deixam seguir o jogo.

Será que o futebol-arte, também seguindo a mesma linha de pensamento de um conhecido narrador de hoje, estará mesmo com os dias contados? Será que as imagens empolgantes dos meneios com a bola de Ronaldinho Gaúcho, de Zico, de Neymar ou Philipe Coutinho não mais prosperarão e tenderão a ficar apenas como reminiscência de uma era romântica do futebol?

A França foi a justa campeã utilizando uma mescla de perfis de atletas, tendo como maior astro o jogador Mbappé, de 19 anos, que se distingue pelas arrancadas fulminantes, dignas de um velocista de 100 metros raso. Também manteve os seus jogadores baixinhos, como o astro Kanté, pois afinal, segue a antiga máxima bíblica de que David foi o príncipe eleito por Deus.

No enfoque das partidas, para amenizar as muitas faltas no entrechoque de atletas, que fatalmente ocorrem nessa nova perspectiva de jogo brigado, como no rúgbi, a FIFA adotou o VAR, que é o sistema de vídeo-arbitragem, que foca e define quem realmente usou o expediente de obstar a jogada. Igualmente para dirimir a infração de jogo, mas ainda a confirmação ou não de um goal de pouca percepção visual.

De real o futebol que conhecíamos no passado, ao que parece, serão vistos doravante nas arrancadas velocistas dos novos jogadores, como CR-7 ou Mbappé, que além de rápidos disputam a chamada bola aérea com eficiência e destreza. Enfim, que a alegria do futebol, hoje fonte milionária de investimento, ao menos não seja deslustrada, nem dentro nem fora do campo, e que ao povo ainda lhes seja proporcionada essa diversão semanal e apaixonada tão cara aos brasileiros.

 

Luiz SerraProfessor e escritor
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