DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

Maneira sofisticada de dizer “escovar os dentes”. O que fazemos todos os dias, depois de comer, ao acordar. Hoje, ao fazer a minha assepsia bucal matinal, ou seja, escovar os dentes pela manhã, o tubo de dentifrício, a pasta de dentes, estava no final.

Como sou um cara econômico, enrolo o tubo até o fim. O faço com muito cuidado, para evitar excesso de pasta na escova e para não haver desperdício. E o dentifrício, segundo análise perfeita de nossa presidente, se sair do tubo não volta mais. Nesse processo, lembrei-me de um história contada por Marshall Jamison.

Jamison foi o primeiro comandante da Base de Parnamirim. Chegou aqui começos de 1942. Segundo-tenente da Força Aérea do Exército Americano. Não o conheci então, óbvio. Tinha apenas doze anos. Mas voltou em 1965, como Professor da Utah State University, no Projeto Rita, programa da Utah com a nossa UFRN, e trabalhamos juntos desde então por uns dez anos ou pouco mais.

Fizemos uma boa amizade. Conheci toda sua família. Quando terminou o projeto, foi contratado pela UFRN, e depois trabalhamos juntos na CNAE (Comissão Nacional de Atividades Espaciais), hoje INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Sempre que voltava à Natal, e o fazia frequentemente, pois era apaixonado pela cidade e pelo Brasil, almoçava e jantava comigo. Tinha um apartamento no conjunto da Universidade. Da última vez, dois ou três anos passados, estava com 92 anos, ainda lúcido, mas já demonstrando o peso da idade. Faleceu há uns dois anos.

E como uma pasta de dentes, uma simples pasta de dentes, lembrou tudo isso? Quando terminou a guerra, Marshall foi servir no Japão ocupado. Levou então a família para lá. Mulher e três filhos. Os filhos gastavam, na realidade estragavam, pasta à vontade. Reclamava, sem resultado. Um dia, encontrou pasta em queima no PX. Comprou uma quantidade maior. Chegando em casa, sentou os filhos em redor da mesa e em frente à ele, deu um tubo a cada um e disse: vou ensinar vocês como se usa. E iniciou a “aula”. Pegou uma pasta, mandou que cada um pegasse a sua, e mostrou como apertar e usar sem estrago. Gastou todos os tubos mas a aula foi eficaz. Ria muito contando a história e disse que passou a fazer uma economia enorme de pasta em casa, a partir dessa “aula”.

Vejam como pequenas coisas recordam histórias divertidas. E ensinam a gente. Também aprendi a usar a pasta até o fim, com parcimônia, pois nunca esqueci a experiência de Marshall. Mas não sei se transmiti o ensinamento aos meus filhos. Espero que sim.

Dalton Mello de AndradeEx secretario de Educação do RN

 

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