AS ROTINAS DA VIDA –

Encontrava-me em uma fila de banco quando notei, um pouco atrás de mim, uma senhora falando muito. De inicio, o som de sua voz pareceu-me desagradável. Contudo, mais atento a seus dizeres, admirei-a quando afirmou que “estava cansada de trabalhar, cruzando todos os dias com as mesmas pessoas e, ao chegar em casa, encontrando tudo do mesmo jeito, inclusive a mesma comida para o jantar”. Olhei para trás como se estivesse vendo o infinito formado pelo encontro das paredes, lá no final da sala e vislumbrei o rosto da queixosa que me pareceu uma figura pálida, pele de tom bege, um pântano em cada olho e uma boca que mais parecia o Vesúvio, a expelir lavas incandescentes.

Logo depois, cumprida minha tarefa bancária deixei o local, mas não esqueci a tagarela e imaginei como a rotina podia ser tão desagradável para algumas pessoas, chegando a crucificá-la por, teoricamente, ser a motivadora do desânimo diário de determinados seres viventes. Imediatamente coloquei-me no epicentro de uma situação idêntica e compreendi a importância e felicidade de repetir sempre as coisas boas da vida com criaturas com as quais compartilhamos o cotidiano que Deus nos deu.

Cinco horas da manhã, caminhada na praia ao lado de andarilhos com o mesmo objetivo. Nesta hora não somente esgotamos nossos risos e mentiras, mas também recarregamos as baterias para uma nova jornada que se inicia.

Se rotina é ter medo do incerto, também pode ser interpretada como a repetitividade que magoa. Pensei, novamente, em minha companheira da fila do banco, que, alias, tinha outra característica inesquecível: possuía seios colossais, como os de um animal de estimação super alimentado, fazendo-me imaginar que o grande triunfo de sua vida, ocorreria, se ela desenvolvesse algum tipo de amor ao próximo.

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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