AS GAIOLAS –

O Brasil não quer perder sua posição de grande vendedor de gaiolas do mundo. Já está famoso.

O que se deve fazer agora é fabricar mais e melhores gaiolas, para manter esse mercado internacional, sem entregá-lo nas mãos – ou nos bicos – dos que nos suplantavam em quantidade e qualidade.

Segundo os gaiolistas especializados, parece que a Suíça, com a sua inacreditável habilidade para lidar com arames, cordéis, pêndulos e espirais nos seus relógios, é um dos nossos maiores concorrentes. Outro concorrente, dizem, é o Japão, com sua capacidade de tirar do nada o tudo, diminuir o microscópio e imitar o inimitável. Chegam a fazer gaiolas maiores por dentro do que por fora. Não é fantástico???

Herdei da minha mãe, Dona Lia, repulsa por gaiolas e pássaros engaiolados. Pessoalmente, acho que mais vale um pássaro voando do que dois na mão, ao invés do antigo dito popular “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.

Meu irmão caçula, aos 10/12 anos, queria que nossa mãe lhe desse de presente um passarinho engaiolado. Ela o fez desistir da ideia, ensinando-lhe a recitar o emocionante poema “O Pássaro Cativo”, de Olavo Bilac.

O mercado internacional de engaioladores só aceita gaiolas que, em caso de perigo, como grandes ventanias, incêndio, enchentes etc, possam ser abertas pela parte de dentro, e pelos próprios pássaros. Não é fantástico???

Minha mãe adorava rosas nas roseiras. O seu jardim era florido e ela não gostava que se tirassem as flores para ornamentar a casa. Ela queria o jardim florido, para admirar e sentir o cheiro das flores vivas.

A tempestade tomou conta do nosso País, na hora em que houve uma Insurreição, comprovadamente , com infiltração de apoiadores e servidores do próprio Presidente da República. O movimento que seria pacífico foi invadido por baderneiros e traidores do próprio Governo Federal, culminando num ato de dilapidação do patrimônio Público, praticado pelos próprios lulistas.

Evoco um antigo Apólogo:

Viúvo da Razão, que havia morrido no hospício, abandonou o Coração, um dia, a sua fazenda no interior do país, trazendo para uma grande cidade do litoral, em sua companhia, a fim, de esquecerem o golpe recente, os seus filhos e filhas. Estes eram, ao todo, nove , sendo três homens – o Amor, o Pudor e o Orgulho, e seis mulheres – A Fé, a Esperança, a Amizade, a Coragem, a Caridade e a Hipocrisia.

Chefe de família descuidado, o Coração esqueceu-se, na cidade, de fechar solidamente as portas da casa, exercendo sobre os filhos uma vigilância constante e rigorosa. Jovens e ambiciosos, era possível que os rapazes e, mesmo, as jovens, gostassem de se divertir e passear. E o resultado dessa liberalidade paterna foi imediato: os filhos e filhas passavam a noite fora de casa, atentando contra os bons costumes, com grande escândalo do ancião , que nunca pensara em sua vida, em semelhante vergonha para sua velhice.

Horrorizado com tudo aquilo, resolveu o velho remediar o mal, regressando, com a família, para as suas propriedades, no alto sertão. E na hora da partida, reuniu os filhos, chamando-os, um por um:

– Esperança! Coragem! Amor!

– Pronto! – responderam as jovens..

E assim chamou, obtendo resposta, e metendo no trem, a Fé, a Amizade, a Caridade, e o Pudor.

Chegada a vez dos dois mais velhos, gritou:

– Orgulho!

Ninguém respondeu.

– Hipocrisia!

O mesmo silêncio.

Aflito, o pobre pai procurou-os em torno, chamando-os aos gritos. E foi debalde.

Nesse instante, o trem apitou, anunciando a saída.

Momentos depois o trem partiu, levando para o interior do país a Esperança, a Amizade, o Amor, a Coragem, a Fé, a Caridade e o Pudor, e deixando na cidade, apenas, o Orgulho e a Hipocrisia.

Voltando às gaiolas, segue o poema O Pássaro Cativo, de Olavo Bilac, que minha mãe adorava:

O PÁSSARO CATIVO

Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, criança, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:

“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi…
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas…
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!

Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade…
Quero voar! voar!…”

Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão…

Olavo Bilac – Poesias Infantis

 

 

 

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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