VALÉRIO MESQUITA 1

Histórias que o Ticio nos Contou – II

Ticiano Duarte me narrou esses causos que têm o sabor dos bons tempos da boemia e da política dos anos sessenta.

01) Convidado por Leonel Mesquita, saíram numa tarde verânica, em viagem de circunavegação polar pelos bares da vida. Navegantes de longo curso, no início da noite atracaram no famoso bar do Hotel Internacional dos Reis Magos. Ao chegar, se defrontaram com uma confusão à porta do hotel que envolvia amigos comuns com estranhos. No meio deles Raimundo do cartório, João Câncio, entre outros. Apaziguados os ânimos, Leonel e Ticiano iniciaram os trabalhos de imersão alcoólica. Lá pras tantas, Leonel resolveu tomar uma atitude insólita pra espanto do pacífico Ticiano: “Vou quebrar esse bar!! Esse gerente (Hans, um alemão que administrava o hotel) tratou mal os meus amigos”. De repente, o tempo fechou. Era copo e cadeira pra todos os lados. Todo mundo debandou. Com muito custo Ticiano convenceu o seu amigo a sair. Do lado de fora a polícia já havia chegado e se preparava para agir. O cabo da guarnição que conhecia Leonel, foi logo perguntando: “Seu Leonel o que é que está acontecendo aqui?”. Com a serenidade que só aos bêbados é concedida nessas situações, respondeu: “Um cara lá dentro está quebrando tudo!”. Quando Leonel manobrou o carro para sair do estacionamento, toda a guarnição já havia entrado no hotel, de cassetete em punho, à procura do desordeiro (?).

02) Na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, contou-me Ticiano Duarte que um  deputado  estadual,  seu amigo, ocupava a tribuna para  espinafrar  um colega por haver bebido demais e provocado constrangimentos  em  uma  reunião política. No meio do discurso, foi taxativo: “Vossa Excelência é um alcoolatra!!”. O outro pediu um aparte para consertar: “Meu caro colega, quero lhe dizer que o nome é alcoólatra”. Responde o acusador: “Obrigado por confirmar”.

03) Ticiano Duarte conta outra do político Aloisio Campos em João Pessoa, refastelado em uma poltrona da nova sede do TRT, onde estava presente, juntamente  com Geraldo Melo, então candidato  ao governo do Rio Grande do Norte. Ticiano arrisca a pergunta: “Como vai a reeleição deputado?”. “Muito difícil”, respondeu Aloisio Campos, compenetradamente. “E lá no seu estado, Geraldo Melo, tem perigo de se eleger?”, indaga Aloisio convencido de ter formulado uma pergunta inteligente. Geraldo apenas riu.

04) No mesmo papo, quando Ticiano defendia a tese de que Odilon Ribeiro Coutinho poderia ser um grande senador  pela Paraíba, Aloísio  Campos refutou a idéia, demonstrando uma proverbial clarividência: “Odilon não será senador jamais por nenhum estado brasileiro. Odilon é um poeta”, completou pedagogicamente.

05) O nosso saudoso dr. José Gosson, juiz e  desembargador, foi também acadêmico da vestuta Faculdade de Direito de Alagoas. Eram tempos de boêmia e lirismo. Os bacharéis do Rio Grande do Norte made in Maceió, têm um repertório riquíssimo de estórias. Mas, o nosso Gosson, àquela época, jovem, namorador, tinha o hábito de tomar injeções que o mantinham em forma física para os duros embates com o mulheril. Certa noite, o seu colega Ticiano Duarte ouviu um choro no quarto ao lado do seu. Aproximou-se e deparou-se com Gosson em pranto, rosto macerado, olhos esbugalhados: “Ticiano, estou pebado. Eu acabei com o dinheiro de minhas injeções!!

06) Sobre  Ronaldo Cunha Lima, Ticiano Duarte, chegado das bandas da Paraíba, me passou uma história interessantíssima. Todos se lembram do episódio do atrito Ronaldo versus Tarcísio Burity, há uns anos atrás. Mas, a verve popular brasileira gosta mesmo é de fazer humor em cima de fato desagradável. Como o combustível do faroeste dos dois foi o álcool, um eminente pau d’água paraibano narrou o conflito assim: “O senador Ronaldo Cunha Lima, chegou acompanhado de um tal Jonnhy Walker, montado num Cavalo Branco, deu três Bellantines no Buchanas de Tarcísio Burity. Foi dose!!”.

Valério Mesquita – Escritor – [email protected]

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