JOSÉ NARCELIO

 José Narcelio Marques Sousa

Como seria o Brasil sem a influência da colonização portuguesa? Neste sábado, 516 anos são passados desde o dia 23 de abril de 1500, quando os índios que viviam na região onde hoje está a cidade de Porto Seguro, no sul da Bahia, viram um espetáculo estarrecedor.

Treze navios enormes atravessarem, um após o outro, a passagem entre os recifes da Coroa Vermelha e ancorarem perto da praia. Na véspera, Pedro Álvares Cabral, comandante da frota portuguesa, chegara a alguns quilômetros ao sul, e continuou costeando até aquele ponto em busca de um local seguro para fundear. Descobrira a terra por ele batizada de Vera Cruz. O que aconteceu depois é um passeio de cinco séculos e dezesseis anos, no curso da história do Brasil.

Como estaríamos agora se, em vez de portugueses, aportassem aqui outros exploradores? Ingleses, por exemplo! Sim, por que não os britânicos? Era um povo de espírito aventureiro, dominava a tecnologia da navegação marítima, possuía o maior poderio naval da época e cultuava ideias expansionistas.

A Inglaterra em 1500, sob o reinado de Henrique VII, atravessava um longo período de prosperidade e paz, além de possuir condições econômicas propícias para financiar uma expedição da mesma envergadura – ou até superior -, a da enviada ao Brasil por Portugal.

Sob o domínio do Império Britânico teríamos absorvido muito da cultura e dos costumes daquela nação, e seríamos uma típica ex-colônia parlamentarista inglesa. O idioma oficial seria o inglês. Nossos mamelucos teriam olhos azuis e prenomes Charles, John, Mary e Elizabeth, com sobrenomes tradicionais como Morgan, Parker e McCartney.

O anglicanismo e o catolicismo repartiriam a tendência religiosa da nação, com predominância para o primeiro. Todos nós, alfabetizados, apuraríamos o gosto pelas artes. O futebol dividiria a preferência nacional com o golfe, o polo e o tênis. A caça à raposa teria adeptos fieis na classe média, pela abundância da espécie nos campos. Pelé seria sir Edson Arantes do Nascimento e o king Roberto Carlos, posaria de ídolo internacional ao lado dos Beatles e dos Rolling Stones. Pubs em vez de botecos e whisky puro malte, substituindo a cachaça na preferência de pinguços.

Na condição de colônia do país berço da Revolução Industrial estariam aqui os maiores estaleiros do planeta. A passagem de um Rolls Royce, trafegando em mão inglesa, não causaria nenhuma estranheza. Chovendo ou sob um sol escaldante, o chá das cinco – mania nacional – seria tomado segundo a tradição da coroa inglesa, às 17 horas em ponto.

Na Guerra das Malvinas ofertaríamos a Margareth Thatcher incondicional apoio logístico e militar. A batata inglesa seria consumida em larga escala, e o carneiro guisado com ervas finas teria destaque na culinária brasileira, numa versão acrescida de leite de coco e azeite de dendê.

Concertos ao ar livre arregimentariam multidões de adeptos da boa música. Dondocas importariam modelitos do fog inglês para “suportar” o calor dos trópicos. James Bond, a serviço de Sua Majestade, daria assessoria à polícia de São Paulo no combate à marginalidade. Parte da família real inglesa veranearia em Cabo Frio ou Búzios, no litoral carioca ou, em Pipa, no Rio Grande do Norte. O restante da realeza, certamente, optaria pelo conforto do Queen Elizabeth, navegando em rios da Amazônia, disputando torneios de pesca esportiva.

Em contrapartida, nada de caipirinha nem do jeitinho brasileiro de ser, tampouco Carnaval com cabrochas seminuas. Nenhuma piada de português. São Januário sem o estádio do Vasco da Gama teria uma paisagem diferente e, nas praias, mulheres vestindo maiôs made in England. Como aguentar a ausência da alegria, do bom humor e da irreverência do nosso povo? Realmente, seria uma chatice uma colonização que não fosse portuguesa.

Por outro lado, jamais saberíamos o gosto de viver sem mensalão, petrolão, corrupção ou impunidade. Daí a pergunta: é preferível deixar o Brasil como está ou esperarmos mais 516 anos para vermos como ele fica? Com a palavra o leitor.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor- [email protected]

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