JOSÉ NARCELIO

MONÓLOGOS DAS VAGINAS – 

Extraordinária a entrevista que a norte-americana Eve Ensler, autora da peça de teatro “Os Monólogos da Vagina”, concedeu ao repórter Jorge Pontual no canal fechado GloboNews, ontem dia 16.

A título de esclarecimento para o leitor não afeito aos desdobramentos da peça famosa, a obra foi lançada em 1996, pela criadora dos diálogos, com a expectativa de única exibição. A aceitação do público transformou o trabalho num fenômeno mundial, que ensejaram apresentações em mais de 150 países com traduções em 50 idiomas. É sucesso há exatos 20 anos.

Aborda de maneira bem-humorada, direta e livre de preconceitos, uma reflexão sobre a relação da mulher com a própria sexualidade tratando, entre outros temas, da menstruação, da maternidade e do orgasmo. Pode-se definir “Os Monólogos da Vagina” como uma tragicomédia feminina.

Acontece de “Os Monólogos” não se fixarem apenas aos louros do estrondoso sucesso comercial alcançado. Sua autora, além da dramaturgia, atua como feminista e ativista social. Transformou sua experiência de ser abusada sexualmente, pelo pai, dos 5 aos 10 anos de idade, numa bandeira em prol da luta pelos direitos à liberdade de expressão e que o domínio do corpo da mulher, seja direito exclusivo dela. Possibilidade essa negada à fêmea em muitas civilizações contemporâneas.

No depoimento ao GloboNews ela tratou de seu projeto “1 bilhão se ergue”, numa alusão ao bilhão de mulheres que são agredidas, abusadas sexualmente e sem direito à defesa adequado ante tanta violência, mundo afora. Daí o apelo desesperado numa tentativa de se fazerem ouvidas.

A dramaturga fez referência aos abusos perpetrados contra mulheres indefesas ocorridos na Índia, especificando o estupro coletivo dentro de um ônibus, em Nova Déli, que comoveu o país; falou dos estupros nas universidades americanas e da leniência como os casos são tratados na justiça; e, até da jovem brasileira inconsciente estuprada por 30 homens, no Rio de Janeiro.

Eve Ensler tratou também do movimento V-Day – V significa Vitória e Vagina -, uma sua iniciativa para tentar acabar com a violência contra as mulheres. Ela própria doa a bilheteria da apresentação da peça, em determinado período do mês de fevereiro, para financiar a campanha que já alcançou a cifra de U$ 100 milhões.

“Os Monólogos” estrearam no Brasil em 2000, no Teatro Clara Nunes, no Rio de Janeiro. O fato interessante é que a peça vinha sendo encenada por apenas uma atriz, desde seu lançamento. Na adaptação elaborada por Miguel Falabella, ele utilizou três mulheres para apresentar o espetáculo. Eve, presente à estreia, gostou do resultado e aprovou a ideia do diretor brasileiro. A partir de então, as novas encenações de “Os Monólogos”, em outros países, adequaram-se ao formato ditado por Falabella.

Em Natal, a última apresentação da peça ocorreu no Teatro Riachuelo, em agosto de 2014, contando no elenco com as atrizes Adriana Lessa, Cacau Melo e Gabriela Alves Toulier.  Nos 14 anos de encenação no país, os papeis das três mulheres já ganharam vida em interpretações de Zezé Polessa, Cláudia Rodrigues, Totia Meirelles, Elizângela, Mara Manzan, Bia Nunes, Cissa Guimarães e Tânia Alves.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil – [email protected]

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