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ROMANTISMO NÃO OFENDE –

 Eu fui criado ouvindo de colegas e amigos que romantismo era coisa de “fresco” ou “veado” – termos chulos da época para apelidar o homossexual. Romancear, ser sentimental, sonhador, evocar o estado de alma e as emoções em exaltações apaixonadas eram fraquezas restritas e admissíveis somente a mulheres.

O macho que deixasse escapulir uma lágrima sequer em cena romântica de qualquer filme seria, naturalmente, alijado da patota. Tal abuso, embora tenha diminuído sobremaneira no transcorrer dos anos, ficou impregnado na personalidade e no inconsciente de muitos marmanjos.

Minha iniciação com o enlevo do romantismo aconteceu, se não me falha a memória, entre os 13 e 14 anos de idade, durante a exibição do filme Melodia Imortal (The Eddie Duchin Story – 1956). Adulto eu descobri tratar-se de um dramalhão ficcional, com Tyrone Power interpretando o famoso pianista norte-americano com tintas diferentes do que ocorreu na vida real.

Ser uma ficção ou pura realidade pouco importava para a mente embevecida daquele adolescente apaixonado pela beleza estonteante de Kim Novak, o par romântico do pianista na tela. A trilha sonora do filme detinha o poder catalizador de fixar aquelas imagens no subconsciente de entes sentimentais.

Comigo não foi diferente, principalmente, no tocante às músicas Manhattan e To Love Agayn nas interpretações desconcertantes do pianista Carmen Cavallaro. É inacreditável a emoção que ainda sinto ao ouvir os primeiros acordes de tais canções. Vem-me à lembrança cenas do filme e me vejo sentado na plateia do extinto cinema Rex, em Natal, sofrendo o mesmo drama dos personagens.

Outra lembrança forte que eu guardo de um filme romântico foi Uma História de Amor (Love Story – 1970). Em 1971, eu já casado e estudando no Rio de Janeiro, levei minha mulher Edilza para assistir ao badalado filme. E lá fomos nós a uma sessão noturna no já extinto cine Veneza, localizado em Botafogo.

O filme, um drama-romântico de emoções fortes, manteve lotação completa nas salas onde foi exibido durante semanas. Eu não recordo de ter ouvido antes, tanto fungado numa sessão de cinema. Ao término do espetáculo uma atração à parte. Vimos casais de mãos dadas tentando disfarçar, sem sucesso, suas perturbações sentimentais, evidenciadas em olhos inchados e avermelhados de tanto chorarem.

Os dramas-românticos carregam a desvantagem de não explorar finais felizes. Terminam sempre em desventura ou morte de um dos personagens da trama, como é o caso dos filmes citados acima. Já a comédia-romântica detém o poder de deixar a todos satisfeitos no final da história.

Nessa seara Woody Allen é um craque. O fato de conhecer bem o efeito do romantismo sobre as pessoas, mulheres principalmente, ele conduz com competência os enredos de seus filmes dedicados a um público cativo. O exemplo está na sua última película Café Society (2016). Umas das músicas do roteiro é Manhattan, e dela surgiu minha inspiração para escrever este texto.

Ser um romântico não arranca pedaço de ninguém. Pelo contrário, faz um bem danado. Relaxa, alivia o estresse e faz esquecer, momentaneamente, as agruras do cotidiano. Além do mais, se deixar envolver pela magia do romantismo é agradável, divertido e nos traz boas recordações.

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil. [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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