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O BOSQUE DOS NAMORADOS –  

Para quem não conhece Natal, o Bosque dos Namorados está encravado no Parque das Dunas, área de 1.172 hectares do que pouco restou da Mata Atlântica no país. É considerado o maior parque urbano sobre dunas do Brasil. O ecossistema abriga diversificada fauna e flora e contribui na recarga do lençol freático e na purificação do ar da cidade.

É o local adequado para a prática de atividades físicas e o paraíso de adeptos do Cooper e de caminhadas. É comum encontrarmos grupos em conversas animadas, que mais conversam do que caminham.

Eu pertenço à turma dos madrugadores que caminha sozinho envolto nos próprios pensamentos. Ali se exercita também o falar alto sem meias palavras onde, concordando ou não, nos faz cúmplices de desagradável indiscrição induzida.

O frequentador do bosque, mesmo o não bisbilhoteiro, fica a par de como anda a política no estado e no país, do custo de vida, da tendência da moda, das novelas da Rede Globo, de quem traiu ou foi traído, e de todo tipo de assunto da atualidade ou de priscas eras. Para isso, basta dispensar os fones de ouvido.

Semana passada, presenciei um engraçadíssimo papo entre dois senhores, nos quais percebi traços de pessoas letradas e abonadas financeiramente. Eu havia terminado a minha série de exercícios e diminuíra o ritmo da marcha, o tempo suficiente para escutar o colóquio onde o tema era viagens.

–  … Por isso não, Câmara Cascudo escrevia sobre o mundo sem sair de casa, isso ainda quando não existia computador. Hoje, eu vou aonde quiser e visito o que bem entender de carona na internet – respondeu o senhor de cabeça grisalha a questionamento de seu interlocutor.

– Você já se imaginou observando Paris do alto da Torre Eiffel, saboreando o “Coq au Vin” e degustando um fenomenal vinho Borgonha?

– Não. Mesmo assim duvido que se compare à saudosa “Carne de Sol do Lira”, acompanhada de doses de cachaça “Murim” em Natal de antigamente – respondeu o grisalho contrariando o seu parceiro de caminhada.

– É impossível que não tenha vontade de conhecer a Torre de Londres e o quanto ela representa para o país e para a humanidade? – insistiu o mais novo.

– Dou por visto! Aquilo não passa de uma prisão decadente onde os monarcas ingleses decapitavam suas amantes. E digo mais, nenhuma daquelas rameiras amarravam sequer as sandálias das mulheres do cabaré de Maria Boa.

– Cara, é difícil lhe agradar! Mas, se você visitasse o Coliseu de Roma aposto que mudaria de ideia diante da carga de história que o estrutura detém.

– Aí é onde você se engana! Coliseu de Roma, campo de concentração nazista e cemitério, para mim não passam de antros de almas penadas.

Ao ouvir aquela opinião não contive o riso. O grisalho, percebendo minha atenção na conversa, perguntou se eu concordava com ele. Ao que respondi:

– Desculpe-me, mas não tenho opinião formada sobre o assunto! – e acelerei o passo para evitar entrar naquela discussão, não sem antes ouvir o comentário do turrão contestador:

– Esse deve ser outro babaca azedo igual a você!

Calado eu ouvi, e assim continuei sem nada dizer… Dizer o quê?

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e Escritor – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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