JOSÉ NARCELIO

SEXO NA TROPOSFERA –

A fantasia de manter relações sexuais a bordo de aeronaves em voos comerciais, é bem maior do que a nossa vã filosofia possa imaginar. Ponham o nome que quiserem nessa prática esdrúxula: fetiche, erotismo doentio, tara, sacanagem; mas que ela existe, ah, sim, existe! E nos parece ser mais ativa e intensa nas mulheres.

O motivo desta matéria advém do livro Cabin Fever (Febre na Cabine), de Mandy Smith. Essa inglesa, hoje uma senhora casada de 41 anos de idade, trabalhou por mais de dez anos como comissária de bordo da companhia Virgin Atlantic. Além de garantir como verdadeiras as peripécias descritas no livro, Mandy confessa ter feito sexo com o namorado piloto, no cockpit da aeronave, em pleno voo.

Ela enumera várias situações grotescas focadas na libido e na coragem (ou irresponsabilidade) de quem vivencia tais aventuras. Como presenciar um casal, no auge de sua paixão, correr despido na primeira classe. Ou o caso de uma jovem, entre 19 e 20 anos, viajando com os pais para Los Angeles flagrada três vezes no toalete, com três parceiros diferentes. E por aí vai…

Todo esse trololó serviu de preâmbulo para eu relatar a aventura de meu amigo Dionísio. Sergipano, ele saíra de Aracajú num voo noturno longo para participar de um congresso de engenharia rodoviária em Manaus. Isso no tempo em que fumar a bordo era permitido, serviam-se as refeições em pratos de louça com talheres de aço inoxidável, e o whisky oferecido era abundante e de boa qualidade.

Um daqueles voos transportando poucos passageiros, o que dava margem à tripulação servir logo o jantar, apagar as luzes e deixar a todos descansar.

Dionísio se acomodou nas últimas poltronas para poder dormir sem ninguém por perto para incomodar. Antes, pediu mais um whisky à aeromoça. A jovem, uma bela loura na faixa dos 20 anos de idade, demorou no atendimento do pedido. O colega ficou impaciente, mas, bastou ela aparecer com o whisky, amigável e sorridente, para acalmá-lo. Surpreendeu-o ao perguntar: “Posso sentar aqui, senhor?”.

Ele acedeu e, calado, ouviu sua justificava: “Meu nome é Sophie. Não estranhe este procedimento. É o meu último dia de trabalho. Amanhã voltarei para o Paraná sem a farda. Vou casar”. Embriagado com a beleza da moça, ele só conseguiu balbuciar um “Parabéns!” sem entusiasmo.

Sem mais nem menos Shophie avançou para Dionísio e o beijou na boca, e ele aceitou à carícia sem reclamar. A coisa esquentou, e fugiu dos limites da sensatez. “E se vier alguém?” – ele perguntou. “Fique tranquilo, a outra comissária evitará imprevistos!” – disse. E os dois se amaram de verdade e à vontade.

Ao terminar a presepada a aeromoça se recompôs e desapareceu, e Dionísio nunca mais a viu naquela rota. Falando com os seus botões ele imaginou: “Ela realizou a sua fantasia e agora assume o papel de esposa e mãe”.

Meses depois, viajando por outra companhia aérea, distraído na leitura, ouviu alguém dizer: “Senhor, eis o whisky que pediu!” – Dionísio, surpreso, porque nada pedira, tirou o olhar do livro para cruzar com o de Sophie. Perplexo, recebeu a dose e a viu se afastar com um sorriso no rosto e uma piscadela provocante.

Comentando a sua aventura comigo e com Praxedes – um casca-grossa sem papas na língua -, Dionísio profetizou: “Eu percebi que ela gostou de mim!”. Pragmático, Praxedes pôs uma pá de cal no romantismo do colega: “Cai fora dessa, cabra besta! Essa vadia só gosta mesmo é de abater pajaraca desgarrada no ar”.

José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil  ([email protected])

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