CARLOS-ALBERTO-JOSUÁ-COSTA

Amigos dos Selos –

Uma caixa de madeira, tipo porta-charutos, com interior em cedro e fino acabamento, chamou-me atenção pela divisão interna na qual acomodava pequenas estampilhas, que mais tarde, viria saber tratar-se de “selos fiscais” utilizados nas coletorias da época.

Curioso, eu?

E como!

Daí começou meu interesse pelos selos postais colados nas cartas transitadas entre endereços, que ressaltavam temas diversos, principalmente históricos, fazendo com que logo me tornasse um primaríssimo juntador de selos.

Qual não era minha alegria, com os cuidados necessários, em recortá-los das cartas e imergindo-os n’água para depois, entre páginas de um livro qualquer, deixá-los secos e aptos a irem “morar” numa caixa tal qual a dos charutos, guardados por toda minha juventude.

Entramos em 1978.

Um ano de muitos acontecimentos na História: morte de dois Papas – Paulo VI e João Paulo I; Copa do Mundo ganha pela Argentina; novela Dancin´ Days, o surgimento das discotecas; independência de vários países, surgimento do Papa João Paulo II; nascimento de Louise Brown – o primeiro bebê de proveta da história. No Brasil a ditadura caminhava para o fim com a extinção do AI-5, os movimentos culturais se expandiam e surgiam vários grupos de combate ao racismo.

Neste cenário multiplicaram-se os clubes e associações filatélicas, como forma de agregar em torno de um hábito dos mais antigos da humanidade – o colecionismo: selos, caixa de fósforos, flâmulas, chaveiros, moedas, cédulas e outras mais que representassem um hobby.

Claro que as estampas postais – Selos – estavam presentes no processo de comunicação entre as pessoas do mundo inteiro, agindo como um “passaporte” para ultrapassar as fronteiras da história e cultura mundial.

A filatelia não limita a idade de seus adeptos. O que os unem é o desejo do conhecimento nos mais diversos campos, tais como: História, Esportes, Flora, Fauna, Ciência, Música, Personalidades – a temática enfim é ilimitada.

Certamente, a filatelia, com a permuta dos selos entre os filatelistas de todos os rincões, foi a precursora da chamada globalização cultural.

Receber uma estampa da China comunista, do Japão, da Suécia, da Hungria, da Polônia, da Índia, do Vaticano, da ONU, da França, da Argentina, dos EUA, só para citar alguns, era (e ainda é, porém com menos intensidade), um sentimento tão salutar que a “libido” jovial vinha aos poros para esse “encontro”.

Quantas cartinhas, simples, quase “modelo”, em inglês, francês, alemão, espanhol, não nos levaram a buscar tradutores amigos para compartilhar os dizeres de um outro amante dos selos – como parte essencial da emoção que esta experiência proporcionava, por hábitos similares.

A cada selo permutado, era possível imaginar o Brasil sendo “descoberto” e amado por filatelistas – em todas as idades, gêneros e nacionalidades – principalmente por sua rica flora e fauna.

A filatelia aproximava os cidadãos do mundo e, as temáticas estreitavam a afinidade entre eles. Hoje, com a evolução das comunicações instantâneas e socializadas, outros canais foram ocupando o espaço emocional e sentimental que unira tantas crianças, jovens e adultos em torno dos selos.

Em Natal/RN, cidade aberta aos selos, também movimentou o mundo filatélico através de mestres estudiosos como José Mussoline Fernandes, Rosaldo Moreira de Aguiar, Eider Moura, Elmo Pignataro, – entre outros, que compartilharam seus conhecimentos comigo, Alberto Da Hora, Wilson Roberto, César Barbosa e muitos que se achegaram às estampas criando amizades duradouras.

Não fica esquecido um grande incentivador dos selos temáticos brasileiros, o amigo Expedito José Fernandes, que no Correios – Agência Ribeira – difundia os lançamentos entre os filatelistas catalogados e ainda distribuía entre nós a esclarecedora revista COFI – Correios Filatélico, que guardo com muito respeito.

Discordo quando dizem que filatelia é simplesmente um hábito de colecionar.

 Longe disso!

Filatelia é criar laços permanentes de cultura que estimula a vontade de conhecer expressivos retratos de todos os ramos das atividades humanas.

O “selo” é o elo de união e de compreensão que leva, na diversidade de seus temas e na razão de suas finalidades, a harmonia educacional na forma artística e cultural de um povo.

A filatelia ainda vive sim!

Viva os Amigos dos Selos!

Carlos Alberto Josuá CostaEngenheiro e Consultor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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