CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

CINEMA DE ARTE: UMA REFLEXÃO ADICIONAL –

Sempre que uma sala de cinema está preste a ser inaugurada, ressoa pelo coração de qualquer cinéfilo a esperança que ‘agora sim’ vamos ter exibições especiais, fugindo da mesmice daquelas já existentes. Mas novamente somos frustrados…

Exibem-se quase sempre filmes – sem nenhuma expressão de arte – sem opções de distribuidores, com a única visão comercial de faturar, sem a preocupação em formar clientela futura para o próprio cinema.

Não se abre espaço para filmes abrangentes e influentes no seu conteúdo, permitindo que cada assistente, mesmo vendo por ângulos diferentes, canalizem ao final, para uma ação pensadora e comparativa com seu modo de ser e de conviver num mundo divergente.

Quando falamos de sala, estamos querendo dizer exibições que estimulem uma experiência significativa, intelectualmente instigante, que desperte entre os aficionados, atitudes reflexivas, que promovam a discussão do ‘foi não foi’, do ‘acho que sim acho que não’, dos detalhes não percebidos por uns e tão chamativos para outros.

Essa variedade de percepções parece dar ao filme um enredo paralelo, dirigido de modo pessoal, onde nossas sensações se associam a nossa imaginação, e a partir daí, modelamos as ações dos atores e atrizes ao nosso melhor entender ou desejar que se aproximem, ao máximo, da “minha” maneira de encarar a ficção e a realidade.

Não podemos confundir a arte da boa ou da má qualidade dos efeitos de imagens e sons, com a arte de trazer para a tela, os recônditos mais ocultos da natureza humana.

Filmes de arte, uma vez assistidos, continuam a ‘viver’ na lembrança e se acomodam no consciente para posterior consulta sobre o que dele experimentamos, ou ainda, paradoxalmente, fogem completamente da capacidade de identificarmos qualquer influência que possam impactar na maneira como pensamos a respeito de nós mesmos e do mundo que nos cerca, após o “The End”.

Afinal todo mundo tem um crítico dentro de si, e somente esse crítico, é conhecedor das reações a que somos submetidos pela experiência de assistir aos filmes e dele formular perguntas: “Foi bom? Foi proveitoso? Foi instigante? Ou não foi nada disso?”.

Cada um tem sua reação: uns ficam calados (assistiu por assistir, ou estão reflexivos), outros tagarelam (cantam e decantam o enredo), outros estampam sorrisos no olhar (se divertiu), e há ainda aqueles que na saída buscam no outro uma ‘aceitação’ involuntária (é a sua história).

Um filme pode definir toda uma época da vida de uma pessoa. Existe uma identificação com aquele filme que por alguma razão, naquele momento, uma cena ou todo ele, espelhe a sua própria vida. Você ali sendo exposto para toda a plateia, mas só você é capaz de identificar os aspectos que permitem “comparar-se”.

É preciso, antes de agir movido pela mensagem que o filme se propôs, que essa mensagem seja entendida, através de uma reflexão adicional, para que a capacidade interpretativa não assuma o destino de sua vida e, sim, a leve a pensar como o filme está relacionado ao seu significado emocional. Podemos nos ver nos filmes, mas não devemos nos fundir com eles. É vero que ao sair do cinema, essa mistura psicológica entre o real e o imaginário ainda é forte. No entanto, à medida que ‘saímos’ da panorâmica, somos chamados a dissipar o “eu” que encontramos na tela.

O cinema como palco e os filmes como atrações de arte, possuem grande capacidade em influenciar pessoas, e como tal, são adequados para tratar de uma gama de assuntos como ferramenta de comunicação: comédias, histórias, políticas, religiões, biografias, mensagens educativas, superações, realidades cruas e nuas.

O entorno ao filme é tão atrativo, que muitos cinéfilos se agrupam em Clubes, Associações, Confrarias, Salas de Aula, para juntos compartilharem seus pensamentos e seus entenderes sobre a direção, o figurino, a locação das cenas, a atuação dos atores e atrizes, a fotografia, a desenvoltura da história, e acima de tudo, o conteúdo, a mensagem.

Portanto precisamos sistematizar, dar expressão, dispor de horários adequados, disponibilizar salas, selecionar filmes alternativos – hoje são muitas as produções mundiais – com qualidade de “cinema de arte”.

Vamos ao cinema, mas vamos ser criterioso no escolher o que assistir.

E qual o melhor filme? Não existe o melhor. E sim, aquele que mais interagiu com seus sentimentos e emoções.

Vou citar apenas esses – cada um deles com a sua temática – entre tantos outros, como “meus”: ‘Os Amantes da Ponte Neuf’, ‘O Mundo de Sofia’, ‘Paris, Texas’, ‘As Invasões Bárbaras’, ‘Cenas de um Casamento’, ‘O Leitor’, ‘Caráter’, ‘A Mulher e o Atirador de Facas’, e o mais recente, ‘Winter Sleep’, ganhador da Palma D’or, no Festival de Cannes.

Vamos assistir?

 

Carlos Alberto Josuá CostaEngenheiro e Consultor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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