CARLOS-ALBERTO-JOSUÁ-COSTA

APOSENTEI E AGORA? –

Por esses dias foi criado na rede social um grupo denominado ‘Aposentados em Ação’ agregando numa velocidade espantosa, ex-colegas de trabalho que ao longo do tempo foram cumprindo sua missão e abrindo oportunidades para outros ingressantes.

Num primeiro momento fomos tomados pela alegria de termos sido “descobertos” uns pelos outros, proporcionando aquela sensação de “puxa, estamos vivos!” e de “que bom, saber de você!”. Porém bastou o primeiro contraponto a temas ditos polêmicos e lá se foram as iniciais desistências, cada uma com suas respeitosas razões.

O tempo não nos amadureceu? Não foi suficiente para burilar o discernimento?

Mas, neste “escrito” é outro aspecto que quero tratar: os efeitos afetivos da aposentadoria.

Sempre sou perguntado sobre se ele ou ela deve se aposentar. Devolvo a indagação com três outras: 1) você quando acorda e sabe que vai para sua atividade profissional, o faz amaldiçoando ou feliz como nos dias anteriores? 2) você tem algum projeto para sua vida de aposentado, qualquer que seja a sua abrangência? E 3) como você se vê na “nova” relação familiar que há de vir?

Isso porque o afastamento da lida diária ocasionado pela aposentadoria gera sentimentos diferentes em pessoas diferentes. Alguns pela recusa em aceitar a nova condição, devido à imagem estigmatizada vinculada à inatividade que tal condição confere. A outros, a liberdade resultante da busca pelo prazer em atividades de lazer e concretização de planos anteriormente impossíveis de se realizarem pela ação do trabalhar.

Outro fator importante que leva alguns a sensibilizar-se é ao comentário errôneo de que a pessoa aposentada chegou ao seu “fim”. Esse estereótipo impregnado do desconhecimento de oportunidades que hoje assumem os aposentados, necessariamente não os leva a “estar velho” ou “fora” de uma nova realidade: a de ainda ser útil.

Devo ou não me aposentar?

Responda as três perguntas e “te direi quem és”.

Um destaque especial é que a aposentadoria é a fase da vida de escolhas prazerosas de uso do tempo. Ocasião para colocar os sonhos em ação, eliminando obrigações, renovando valores e prioridades.

Entender que a aposentadoria é uma recompensa favorece ao fato de que “descansar” não é ficar “inativo” e sim abrir novas portas para produzir algo sem a obrigatoriedade de “bater o ponto”.

E muda o envolvimento profissional?

Muda. Muda sim, mesmo que não se perceba claramente, as relações “networking” vão gradativamente deixando de agregar novos contatos. A relação de tantos anos de trabalho é capaz de afetar significativamente a nossa identidade, pois somos conhecidos pelas atividades que exercemos. É comum termos o nosso nome atrelado ao da empresa: “Praxedes da CAIXA”, “Adriano da ALESAT”, “Mário do CREA”, apenas para exemplificar. Isso desaparece e passamos a ser apenas “Da Hora, aposentado”.

Outra mudança, e essa de muita sensibilidade, é a relação familiar. Até então ele ou ela, agora aposentado(a), estava acostumado a passar o dia longe do convívio da família, excluindo-se das atividades rotineiras do lar. Ao sair de casa, “um beijinho” e um “até logo”. Ao voltar, recebido(a) com um sorriso e com a renovação diária de um enamorado reencontro. Agora, aposentado(a), passa a conviver com todos os humores da relação com o cônjuge e com os filhos.

As “virtudes” começam a ceder espaço para os “defeitos”. As cobranças que antes eram diluídas pelo bem da paz e do trabalho, ficam evidentes.  Surge uma “nova” relação que precisa ser reaprendida pelo casal. Um desafio que será vencido se ambos entenderem que precisam dividir as atenções e obrigações.

Não se acomodem. Estejam dispostos para percorrer novos horizontes: passear, aprender uma nova língua, dançar, praticar atividades esportivas, ir ao cinema, reunir os amigos com mais frequência, conhecer outros lugares, ler mais, colocar em prática os dons que ficaram abafados, enfim.

Agora amigo, se ficar satisfeito com um par de chinelos, na frente da televisão, com aquele pijama “dormido” há mais de dias, é factível que o encanto vá se esvaindo e que a ociosidade vá consumindo seus dias.

E você amiga, se apenas der preferência às atividades domésticas, ao ponto de não retomar o afeto conjugal com aquela elegância feminina, sem buscar o compartilhamento equilibrado que estimule você e ele a um novo tempo, pode ter certeza que apenas receios e ameaças prevalecerão na qualidade das relações afetivas.

Porém, se você não está seguro, se a aproximação da aposentadoria está tirando a tranquilidade do seu sono pelas incertezas, de toda ordem, inclusive financeira e, se sente apto para continuar a produzir com alegria, faça-o sem ressentimentos com você mesmo.

O trabalho é importante, porém não é o elemento fundamental da vida. No entanto o trabalho permite que tenhamos uma experiência plena de vida.

Mas não esqueça: a aposentadoria ocorrerá “algum dia”.

Administre a ansiedade!

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