CARLOS ALBERTO JOSUÁ COSTA

Esse Gosto Musical –

Hotel Sombra e Água Fresca, Pipa, Tibau do Sul/RN, anos noventa.

No bar da piscina, um estilo musical me chamou atenção: “Skank” estava surgindo em Belo Horizonte (MG) com uma proposta inovadora, tendo como principais influências, o pop rock e o reggae. O turista mineiro acrescentou: “mais um pouco e eles serão conhecidos em todo o Brasil”.

Tive a oportunidade de acompanhar o surgimento de vários artistas da música, como o – “Pessoal do Ceará” – onde despontava um rapaz que cantava de maneira diferente do habitual: “Ednardo”. Tempos depois com seu ‘Pavão Misterioso’ se fez nacional.

Pedrinho Mendes, Valéria Oliveira, Sueldo, Quinteto Violado (Toinho, Marcelo, Fernando Filizola, Luciano e Sandro – em sua primeira formação), e assim, tantos outros íntimos das notas musicais, foram surgindo pelo país afora, dando qualidade às melodias poéticas.

Essa qualidade musical sempre existiu? Ela é universal? É possível analisá-la?

Santo Tomás nos ensina que, o modo como nossa alma responde a uma série de sons diz respeito a três faculdades: inteligência, vontade e sensibilidade. A inteligência dá ao entendimento a capacidade de analisar e captar algo. A inteligência ilumina a vontade, a qual leva a pessoa a desejar as coisas que a inteligência mostrou serem boas.  A sensibilidade dita como a alma responde aos estímulos exteriores.

Esse senso ajuda-nos a selecionar a boa música – aquela que anima nossa alma – daquela que nada diz e deprime o nosso sentimento de prazer musical.

Agora vamos aonde quero chegar: o batuque do vizinho!

A movimentação no terraço denuncia uma batucada: mesas, cadeiras, o cheiro dos petiscos davam sinais do desfile de instrumentos que logo mais mostrariam sua harmonia.

Sim, era no meu vizinho – Sidney Norinho e Da. Lúcia. E como todo bom estrategista, sua primeira ação foi convidar o vizinho dele, no caso, eu.

Assim, nada ficava pendente de reclamação e ainda proporcionava a oportunidade de exercer a política da boa vizinhança.

Os primeiros acordes me animaram: harmonia, altura e vozes afinadas.

O pandeiro ecoava pelo ‘marabalhista dos dedos’ – Matias Verzutti, paulista, da capital, que trazia na bagagem muitos sambas de fundo de quintal.

 Como surgiu o grupo e, como se denominava?

“Chegando de Mansinho” – Durante a copa do mundo da Alemanha (2006), Leonardo de Melo (Léo), Zé Roberto (Zé) e Paulo Henrique (Paulo), combinaram de animar e assistir aos jogos da copa. Coube a Paulo a missão de comprar um ‘tantan’. O vendedor convenceu-o a comprar um kit de instrumentos.  Seria um desperdício, pois os demais não seriam necessários. Mal sabia ele que essa aquisição estava predestinada ao sucesso.

Na primeira vez que os instrumentos foram utilizados, a música “a Juliana não quer sambar, samba Juliana, samba Juliana, samba“, era repetida por falta de um largo repertório.

Esse encontro serviu para explorar as aptidões com os instrumentos e certa afinação vocal. O repertório, foi se renovando: “Não temos nada impresso, tudo tá na cabeça”.

Léo, diz: “Somos informais e temos uma liberdade de apresentação que talvez não tivéssemos como profissionais. Afinal nosso objetivo é levar a alegria e a felicidade para as pessoas”.

 Prestem atenção a esse animado grupo, “Chegando de Mansinho” e ficarão tão orgulhos quanto eu.

Theodor Adorno, pensador alemão, um dos maiores expoente da revolução musical do século XX, já citava, em 1938, no ensaio “O Fetichismo da Música e a Regressão da Audição” que, “Toda vez que a paz musical se apresenta perturbada por excitações bacânticas (sem pudor), pode-se falar da decadência do gosto”.

A propósito, dê uma chance a sua alma de se revigorar.  Experimente a pureza musical de Tico da Costa.

Seja seletivo em relação a certas músicas que não nasceram em berço de paixão, de alegria e de amor perdido.

Agora, eu é que fico perguntando ao vizinho: Vai ter ‘pagodada’ hoje?

Quando tem, nem espero mais “intimação”, vou “Chegando de Mansinho”.

Carlos Alberto Josuá CostaEngenheiro e Consultor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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