A “ARMA” –

Seu Lúcio, trabalhador rural, era aposentado pelo INSS e residia num bairro simples de uma pequena cidade do interior nordestino. Todo começo de mês, ia à agência bancária pagadora, receber o dinheiro do seu “aposento”, como ele costumava chamar. Mal sabia ler e escrever, mas acompanhava os noticiários da televisão. Por isso, estava sempre por dentro da onda de violência que assola o País e dos escândalos praticados pela banda podre dos nossos políticos.

Era revoltado com a insegurança que vitimava pessoas inocentes, todos os dias, nas grandes cidades. Entretanto, sentia-se seguro na localidade onde morava, pois ali a violência ainda não havia chegado.

Por via das dúvidas, tinha em casa uma espingarda pendurada na parede da sala, sempre carregada de chumbo, que usava para caçar. Essa arma, em caso de necessidade, seria usada por ele, na defesa da sua vida e da sua família. Mas, com fé em Deus, isso nunca iria ser preciso.

Seu Lúcio morava numa rua muito calma, onde ainda se usava colocar cadeiras nas calçadas para se prosear, até o sono chegar.

Certo dia, como fazia todo mês, foi à Agência bancária, enfrentar uma grande fila, para receber seus proventos. Recebeu o dinheiro, contou e guardou no bolso da calça, voltando para casa, em seguida.

Logo que chegou, pegou a vassoura e começou a varrer a calçada, para apanhar as folhas de um pé de Castanhola, que ali havia. Mal começou o serviço, viu parar uma moto, de onde desceram dois malandros, usando boné, um deles com um revólver na mão. Anunciaram que era um assalto e exigiram o dinheiro da aposentadoria, que o homem recebera há poucos minutos, na Agência bancária. Disfarçadamente, eles haviam acompanhado a entrada do idoso no banco e viram quando ele guardou no bolso da calça o dinheiro recebido.

Na mira do revólver, Seu Lúcio ficou paralisado e lhe faltou a voz. Mas, de repente, uma força superior o dominou, e ele usou a vassoura para se defender. Inesperadamente, com uma vassourada, derrubou o revólver de um dos assaltantes e distribuiu outras grandes vassouradas, atingindo os dois.

A força de sertanejo se apossou de Seu Lúcio, e os malandros, sumiram na moto, em disparada.

Um vizinho telefonou para a Polícia, que compareceu ao local do frustrado assalto. Foi constatado que o revólver usado pelos assaltantes, e que estava jogado ao pé da calçada, era de brinquedo.

Seu Lúcio foi levado à Delegacia de Polícia, para registrar a queixa, empunhando sua extraordinária arma: A “bassoura”, como ele chamava.

O dinheiro da aposentadoria continuava no bolso de sua calça.

Violante PimentelEscritora

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