ANIVERSÁRIO DE BRASÍLIA 2022 –

Os Dois Guerreiros, de Bruno Giorgio, é uma obra escultural a emoldurar a Praça dos Três Poderes, em Brasília, tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, como patrimônio cultural da humanidade.

Instigante obra que passaram a chamar de Os Guerreiros, sendo que a massa operária de nordestinos, mais tarde a cognominou de Os Dois Candangos.

Históricamente, os escravos africanos chamavam os portugueses de candangos, palavra de origem africana – quimb kandangu –, a significar tipos mequetrefes, face serem traficantes da escravaria trazida para o Brasil, no dizer da ilustre filóloga Dad Squarisi, libanesa radicada em Brasília, desde 1968.

Durante os primórdios da construção de Brasília o fluxo da mão de obra braçal, operária, advinda do Nordeste, passou a ser chamada de candangos. Daí, os dois esguios e magricelas guerreiros de Giorgio ganharam  nova designação popularesca.

Tudo tem origem, meio e fim, segundo ensinamento crístico: “Ponha Deus no início e ELE cuidará    do fim.”

A Candangolândia, próxima da então Cidade Livre, mais tarde Núcleo Bandeirante, foi a base administrativa, quando Israel Pinheiro edificou o Pavilhão da Novacap, construção gigantesca com dois pavimentos, onde funcionava o bunker da pagadoria, subterrânea, tendo no primeiro piso, a partir da esquerda, o Detran, a Tesouraria, a Primeira Delegacia, o Almoxarifado e o Corpo de Bombeiros.

No andar superior, funcionava a estrutura da Guarda Especial de Brasília- GEB, denominada Seção Montada, responsável pela segurança rural do Distrito Federal, criada e liderada pelo primeiro comandante, Tenente Washington Baptista Alves, secundada pelo autor desta crônica, à época Tenente José Carlos Gentil. (in Guarda Especial de Brasília, 2018, ed. Academia de Letras de Brasília, José Carlos Gentili, 750 páginas, Brasília-DF).

Na Candangolândia, onde afluíam os candangos à busca de emprego, havia o Núcleo de Custódia (presídio), uma caieira, o Quartel da GEB e o Restaurante do SAPS, extinto Serviço de Alimentação da Previdência Social, dirigido pelo extraordinário pioneiro espírita Francisco Manuel Brandão, que servia cerca de mil refeições diárias.

O cearense Brandão em seu discurso de inauguração do Restaurante do SAPS teria lançado o termo candango, no dizer do mais importante historiador de Brasília, pioneiro Adirson Vasconcelos, natural de Santana do Acaraú.

Na entrada da Candangolândia, à esquerda, imperava o Restaurante Santista, de propriedade do casal Elias Karam e Wanda Karam, vindos de Santos, notabilizados pela qualidade das refeições, verdadeiras iguarias da época. Uma dupla natural de Tupã-SP, voltada à fraternidade e à caridade.

Na voragem do tempo, Brasília está a completar 62 anos de existência como Capital do país, fincada na hinterlândia brasileira e o gentílico de seus habitantes é brasiliense, carinhosamente chamados de candangos, historicamente seus construtores.

Ilações à parte, chegam a dizer que os “dois candangos” representam o equilíbrio dos poderes montesquianos (sic), “verdadeiro samba do crioulo doido”, como diria, satiricamente, o inesquecível Sérgio Porto, autor de hilário samba, a reunir disparates vivenciais históricos, em cujo enredo “Chica da Silva teria obrigado a Princesa Leopoldina a casar-se com Tiradentes, eleito D. Pedro II, que em conluio com José de Anchieta, vieram a proclamar a escravidão.”

Na Praça dos Três Poderes, a reunir setores outrora constitucionais, o que nunca faltou foi loucos de todo gênero!

 

 

 

 

 

 

José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília

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