ANA LUIZA

Ana Luíza Rabelo Spencer

Todas as pessoas passam pelas mais diversas fases na vida. Entram e saem de moda, mudam cabelos, escolas, trabalhos, mas existem coisas com as quais precisamos ter cuidados para não perder: a identidade (não o documento, o caráter), a família e os amigos.

Nem sempre é fácil, num mundo tão pequeno e da mesma maneira tão grande, segurar essas âncoras que nos moldam, nos auxiliam e nos amparam. É como se todos fôssemos Minions e, para assegurar quem realmente somos, temos nossa forma de ser, nosso jeito de tratar o outro e como fazemos e recebemos as boas ações.

No filme recém-lançado Concussion, um diálogo me prendeu a atenção: o protagonista oferece algum dinheiro a uma nova amiga, que apresenta aquele sorriso amarelo (que todos nós já demos, do tipo “eu quero, mas não devo”, e que somos bastante conhecedores) e ele diz: “Necessidade não é motivo de vergonha. Necessidade é necessidade, eu já passei por isso”. Ou seja, independente da nossa localização ou status atual, sempre vai haver quem nos estenda a mão e é importante que saibamos receber sem nos acharmos humilhados ou diminuídos.

É sobre essas pessoas que nos estendem a mão a quem pretendo dedicar estas palavras.

Pessoas diversas, algumas fáceis de conviver, outras complexas, mas sabemos que elas não nos abnodarão pelo simples fato de não compartilharmos o seu nível cultural ou financeiro. São pessoas que estão conosco porque nos afinamos, nos compreendemos, nos apoiamos e nos amamos.

Ao longo da minha vida, passei por muitas pessoas e muitas pessoas passaram por mim, mas, aquelas que ficam, cavam em nossa alma um lugar especial, um cantinho só delas, que de nada depende, que não paga, nem cobra aluguel. São pessoas de amor.

É importante deixar claro que não é exatamente o amor romântico dos filmes de Hollywood, é amor fraterno, cativo e enraizado em nossas vidas.

Elas estão próximas ou não, mas sabemos, com toda certeza, que, onde nos encontrarmos, a conversa começará exatamente do ponto onde parou.

Há quase um ano perdi minha avó, uma pessoa querida e que me queria bem. De acordo com minha formação religiosa, sei que ela está bem, amparada e visitando todos os seus que viajaram antes dela. Isso de fato conforta, mas não mata a dor da saudade. Me perdi, porém, em digressões, o que quero mostrar é que o amor entre duas pessoas ultrapassa o amor em família, em gerações, em criações. Esta querida avó, que não mora mais tão perto, mora agora ainda mais perto, pois mora dentro de mim.

Um grande erro que deixamos passar com frequência é que esperamos a última viagem para mostrar os nossos reais e sempre presentes sentimentos, e se a partida dela ensinou algo a toda a nossa família é que somos um só e que existem pessoas, que vêm de onde menos esperamos, que chegam de surpresa, de carona, desconfortáveis, cansadas, e mesmo assim chegam, para nos dar o abraço que não conseguimos dar ao nosso ente amado. Essas pessoas chamamos de amigos.

Vovó soube unir nossa família como nunca, soube nos mostrar que não há vergonha ou demérito em precisar do outro, em chorar no ombro alheio, que é só deixar a vida andar um pouco mais e, em vez de perdemos uma pessoa (pois ela sempre estará conosco), ganhamos tantas outras, aprendemos a amar ainda mais.

E é por isso que digo: nunca deixe que uma palavra amarga finalize sua conversa, nunca se feche para outras pessoas e nunca esqueça que o amor é infinito. Ele nunca acaba, ele nunca deixa você.

Já dizia um filósofo que o segredo da boa vida é fazer de tudo um pouco, já eu, que não filosofo nada, posso acrescentar que, mesmo que façamos de tudo um pouco, amemos a todos um muito!

Ana Luíza Rabelo SpencerAdvogada([email protected])

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