AMIGO É GLICOSE NO SANGUE – 

Todas pessoas com as quais convivemos deixam marcas em um ir e vir infinito. As remanescentes, são aquelas que doaram seus sentimentos para entrarem em sintonia com nossa alma. Algumas se vão, legando grande aprendizado, não importa os tipos de atitudes tiveram, mas sempre nos ensinando.

Com as vaidosas absorvemos o esnobismo, das carinhosas herdamos gratidão, até com as duras de coração nos conscientizamos a dar o perdão e com algumas delas conhecemos o amor de várias formas: dedicação, carinho, atenção e até com atração, desejo e paixão.

Outro dia estava no mercado de Maceió, realizando compras de frutas e verduras, quando o proprietário da quitanda em voz alta afirmou que seus verdadeiros amigos cabiam em uma Kombi, por ele mesmo dirigida.

Continuei pensando naquela afirmativa e lembrando quando ainda criança, o meu avô materno, em Caicó no Seridó potiguar, me contava inúmeras histórias, algumas delas inesquecíveis, principalmente expondo através de palavras que as dificuldades colocam a prova a sinceridade e a amizade.

Certa feita encantei-me ao escutar a aventura de dois viajantes que deram de cara com um urso. O primeiro se salvou escalando uma árvore, mas o outro, sabendo não ter como vencer sozinho o animal, jogou-se no chão e fingiu-se de morto. O bicho bem perto dele, começou a cheirar a sua orelha e convencido de que não mais vivia, foi embora. O companheiro, passado o perigo, desceu da altura onde se encontrava e perguntou:

– O que o urso estava cochichando em seu ouvido? – Ora, ele só me disse para pensar duas vezes antes de sair por aí com gente que abandona alguém na hora do perigo.

Desde então, sempre recordando aquela lição ensinada há séculos por Esopo, convenci-me ser assim a vida. Apesar de nas horas críticas dificilmente contarmos com pessoas com as quais convivemos e que se acostumaram a nos tecer elogios até por motivos os mais torpes possíveis, na expectativa de serem agradáveis, para grande surpresa, de onde menos se espera, contamos com palavras de ânimo e atitudes de encorajamento necessárias para seguir adiante entendendo que amizade é somar alegrias!

Tendo a certeza de possuir amigos em número superior a lotação de uma Kombi, hoje com a cor de prata tomando conta dos meus cabelos, ouso afirmar serem, os poucos que possuo, considerados para a vida inteira, mesmo que com eles não me encontre constantemente.

Amizade não é dependência, submissão. Não se tem amigos para concordar na integra, mas para revisar os rascunhos e se necessário, duvidar da letra. É independência, respeito, alguns são CSA outros torcem pelo CRB… mas quando juntos sorrimos, e divertimos e nos ajudamos mutuamente a viver.

Assim como há os amigos imaginários da infância, existem aqueles invisíveis na maturidade, os que não se acham perto podem morar dentro dos nossos corações, sempre conosco estando após a ressaca, buscando ser a glicose no sangue e uma ponte para a felicidade.

 

 

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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