AGORA SOMOS QUATRO –

Manoel e Laura geraram seis filhos, três homens e três mulheres, nascidos no curso de os homens primeiro e as mulheres em seguida: Narcelio, Elmano, Severino e as três Marias – Iara, Conceição e Iateara.

Maria Iateara, a caçula da família, perdeu a batalha da vida para um câncer de mama e se foi aos 54 anos de idade. A tristeza familiar foi tamanha que Manoel faleceu nove meses depois e Laura, um ano e quatro meses após o encantamento da filha.

Nós outros sobrevivemos à saudade dos três e tocávamos a vida sem sobressaltos. Eis que o destino resolve testar a fé dos que ficaram e escolhe o caçula dos homens como cobaia para exemplificar à família, que nem tudo são flores em nossas existências.

Severino, na infância conhecido como Birino e na vida adulta como Severo, nascido em abril de 1948, cursou Medicina na UFRN e saiu ginecologista, em 1973 – turma que alcança o cinquentenário este ano. Médico da Aeronáutica, do Estado e atuando na atividade liberal da profissão cumpriu com ética e louvor o Juramento de Hipócrates. Por suas mãos vieram ao mundo mais de 3.000 crianças.

Porém, Severo acalentava um outro projeto para a sua vida. Adorava ver e ajudar Laura nos almoços dominicais obrigatórios na casa de nossos pais e, sessentão, retornou aos bancos da universidade para cursar Gastronomia. Como o vovô da turma foi laureado e seguiu para uma especialização em Salamanca, na Espanha.

Ao retornar, em sociedade com uma colega de turma, Ana Roberta Hunka, abriu o bistrô denominado Dois – Vinho e Gastronomia. Sucesso imediato de aceitação pública. A felicidade estampava-se na sua fisionomia, daí a dedicação e comprometimento totais com o novo empreendimento.

Em 2016, ao retornar de uma turnê pelo Chile, observou os primeiros sintomas da doença que ceifaria a sua vida.  Doença devastadora em seus efeitos deletérios sobre o ser humano, denominada Esclerose Lateral Amiotrófica, porém, apelidada de ELA, talvez para dar um toque de candura e humanidade à sua crueldade.

Ao longo de quase oito anos a ELA foi evoluindo e tomando conta de seus movimentos até transformá-lo num prisioneiro. Dominou o seu corpo, mas não a sua vontade férrea de viver. Sem paladar e olfato escreveu com a sócia um livro sobre a experiência de ambos no bistrô.

Como médico adaptou aparelhos para dar mais conforto aos portadores da ELA. Porém, a contribuição maior prendeu-se ao alfabeto que inventou para melhorar a comunicação pessoal, haja vista a dificuldade que atravessava para externar pensamentos e desejos apenas movimentando as pálpebras e fazendo esgares com a boca.

Éramos seis, nos tornamos cinco com a morte de Iateara, AGORA SOMOS QUATRO. Descanse em paz meu irmão, que aqui na companhia de seus cinco filhos e demais familiares, faremos o melhor e o possível para honrar a sua trajetória neste mundo.

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

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