AFLIÇÃO – 

Domingo de maio. Adiantado da noite
A lua crescente já se escondeu por detrás das dunas, só restando as sombras das árvores sobre seus morros que ganham uma conotação fantasmagórica, ao custo e ao medo de quem ver e imagina…

Há um silêncio na noite praiana, onde só se escuta o som do mar, com suas ondas no eterno vai e vem ao sabor do vento que neste momento se transformou numa brisa amena…

Paira no ar praiano um momento de apreensão e rigidez; nas casas quase nenhum movimento de pessoas, que se fecham em sí , neste momento de apreensão por essa pandemia.

O medo anda estampado nos rostos de cada um, podendo ser visto na tristeza dos olhos por cima das máscaras.

Não há mais conversa entre vizinhos, só uma distância forçada a conflitar emoções e arrasar sentimentos.

A sensação é que todos emudeceram, até os cachorros estão sem latir, pois seus ouvidos tão sensíveis já não conseguem captar o barulho do silêncio que se instalou.

Durante o dia, pescadores saem para pescar sua sobrevivência familiar na maior solidão, pois até as pessoas que ficavam peruando já não existem mais, e isto faz falta…

” A poesia serve sim”

EMUDECE

Emudecem as palavras
Calam as pessoas
As árvores encolhidas em si
Os pássaros já não voam

As ruas estão desertas
As casas estão fechadas de tão triste
Os arrecifes todos pontiagudos
Um silêncio sepulcral existe

As tainhas sumiram
Não tem mais sardinha
Só sargaços murchos
Na vida que tinha

Minhas noites calam-se
Já não escuto a voz dos ancestrais
O viver perdeu o tom
Nesses tempos de nunca mais…

 

 

 

 

José Alberto Maciel Oliveira – Representante comercial aposentado

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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