ANA LUIZA

Ana Luiza Rabelo

Há cerca de dez anos, os papa-jerimuns tinham orgulho de sua terra. Um lugar paradisíaco, hospitaleiro e, principalmente, seguro. Sempre se contava vantagem com amigos de outros estados sobre a tranquilidade daqui. As pessoas reuniam-se nas calçadas para pôr a conversa em dia, deixavam cadeiras e redes “dormir” no terraço. Pedir ou oferecer carona não era considerado ato de insanidade. As amizades feitas no 145 eram tão seguras quanto as que trazíamos da infância. Não era impossível conhecer alguém que sofrera um assalto ou um sequestro-relâmpago, mas era incomum. Essas “aventuras” eram reservadas a poucos.

Hoje, é improvável que encontremos alguém que não foi assaltado, que não padeceu sob a mira de uma arma, ouvindo ordens alucinadas de um carrasco, fitando seus olhos vazios e rezando para poder contar a história. A maior incongruência entre a segurança de ontem e a temeridade de hoje é que antes estávamos todos armados e não nos sentíamos como prisioneiros em nossos lares. Não havia grades, alarmes, vigias, nada. Éramos completamente livres.

Muito da atual onda de violência, eu atribuo à campanha de desarmamento. O cidadão de bem, que tem família e trabalho, desarmou-se. O perverso, não, e ele sabe disso.

O mérito da iniciativa governamental não pode ser negado. A intenção de prevenir acidentes domésticos, de diminuir a brutalidade humana, é infinitamente válida, mas não basta apenas uma alma bem-intencionada para salvar a humanidade.

Para que o desarmamento sirva aos fins que lhe deram origem, ele deveria ter sido acompanhado por um policiamento intensivo e ostensivo. Antes de desarmar-nos, deveriam ter desarmado os traficantes, os homicidas. Antes de nos trancarmos em nossa prisão domiciliar e viver com medo de sair, de chegar, de parar em um sinal de trânsito, deveriam garantir-nos o direito, constitucional, de ir e de vir, de viver com segurança. De não temer pelo simples fato de não dever.

Ana Luíza Rabelo Spencer, advogada ([email protected])

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