A VIDA É BREVE? –

“A vida é breve, mas cabe nela muito mais do   que somos capazes de viver.” (José Saramago)

Contar as despedidas definitivas de amigos e familiares que estavam, ali, tão perto de mim e entender que restaram apenas as lembranças e os amores sedimentados, foi que passei a refletir para a efemeridade da vida.

Quando criança a coisa que mais me apavorava era saber que existia a tal da morte. Sob hipótese nenhuma passava numa rua em que houvesse um velório (esses eram nas salas das casas) e muito menos na calçada de um cemitério (hora nenhuma). À noite, deixe de brincadeira… A carreira de olhos fechados eram recordes olímpicos. Muitas vezes “negociei” com Deus, quando mamãe adoecia, pedindo a Ele que me levasse, mas deixasse minha mãezinha viva para criar os outros irmãos. Ainda bem que Ele não negocia essas coisas com ninguém e muito menos com uma criança.

Fui aprendendo devagar (“porque já tive pressa”) que somos incertos na perenidade da vida e que ela se assemelha a uma chama acesa, protegida apenas pela ‘manga do candeeiro’ divino. Ao simples sopro nos apagamos. Onde iremos reacender?  Não sei dizer, mas acredito que Deus riscará um novo “fósforo” e que nos fará brilhar aonde for preciso para que possamos continuar iluminando outras vidas.

Trato aqui não das partidas naturais, mas das repentinas. Daquela que costumamos questionar: “Como pode? Ainda ontem falei com ele numa boa”.

A vida, ou o nosso viver, não guarda reservas para amanhã. Ela nasce, cresce e desaparece todos os dias. Não somos donos dessa criação e nem desse “sumir”. A nós pertence exclusivamente os ‘agoras’ que vamos construindo instante a instante.

Essa construção é diária e de nossa responsabilidade. Nenhum caminho está pronto. É preciso ir abrindo veredas no emaranhado de tribulações que a vida nos impõe. Para isso é necessário olhar para o seu norte particular, sem deixar de contemplar dos dois lados aqueles nossos companheiros que também estão na trajetória da vida.

Daí entender que tanto aqueles quanto nós saibamos refletir sobre a forma como temos tratado os nossos semelhantes até então e, o quanto mais podemos oferecer para que a caminhada seja menos penosa: mais atenção? Mais acolhimento? Mais abraços? Mais ouvir? As respostas surgirão se abrirmos o coração e entendermos que somos realmente uma tênue chama. Essas são oportunidades para fazer acontecer agora. Amanhã pode não ser mais possível.

E fazer o que?

Tem alguma dúvida? Ame, simples assim, ame. Faça de cada gesto, de cada abraço, de cada doar um momento de felicidade. Quem sabe se nesse instante Deus já ia insuflar a sua chama e, pelo seu amor para com o próximo, Ele desviou o sopro para o infinito.

A vida é breve?

É, mas não precisa ser curta. Valorizemos o que ficou de cada um dos nossos amigos e familiares que da janela do trem acenaram com um “nos veremos qualquer dia”.

Sigamos firmes!

 

 

 

 

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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