A ROLETA DA VIDA –
Minha memória musical é muito fértil, e eu guardo na lembrança canções que eu ouvia, desde menina, minha saudosa mãe, Dona Lia, cantarolar, como esta, gravada por Carlos Galhardo (1913 – 1985):

“A vida é uma roleta, gira, gira…” (Roleta da Vida). Somente depois de adulta, entendi o significado dessa música.
Hoje, entendo que a roleta da vida gira, gira, e para onde nunca esperamos, independentemente da nossa vontade, deixando nossos sonhos espalhados pelos caminhos.
Na vida, nem tudo são flores. As pedras também fazem parte da vida. Por isso, não devemos desperdiçar os bons momentos. Devemos sorrir para a vida, enquanto a vida nos sorrir.
O difícil é superar as perdas e conviver com as ausências.
A roleta da vida nos mostra que a verdadeira paz é uma utopia.
Na realidade, onde mora a bandalheira, a paz não chega perto.
Os sistemas querem  que os homens engulam o pasto do pão e do circo, que lhes é oferecido com muita generosidade. E que eles fiquem tranquilos coma barriga cheia desse pasto.
Mas esse pasto é próprio para estrebaria, para animais.

Onde se instala uma paz de estrebaria, o homem apodrece por dentro, e morre sem nenhum outro ideal.

A paz de estrebaria é feita de pão e circo. A paz que deixa tudo como está, que ignora a injustiça, e que não se importa que alguns tenham sempre mais e que a maioria tenha sempre menos. Esta paz gerada por uma política de pão e circo não é para seres humanos, e sim para animais.
Se você tiver oportunidade de entrar numa estrebaria, não se importe com o cheiro. Veja os bois, as vacas, os cavalos, os porcos. Estão todos satisfeitos, pois acabaram de receber seu pasto. Estão de barriga cheia e até parecem rir. Não imaginam eles que a barriga cheia é sua perdição. Alguns animais recebem o pasto,  para renderem mais no seu trabalho escravo; outros, estão na engorda para morrer.
Deixando os animais e olhando para os homens, percebemos o sistema esfregando as mãos. Mais um pouco e todos estarão transformados em robôs consumidores, gordos, rindo na estrebaria de sua inconsciência.

É isto que os sistemas querem: que os homens consumam o pasto do pão e circo que lhes é oferecido com muita generosidade e fiquem ali, tranquilos, sem incomodar, instalados na sua paz de estrebaria.

Viver é uma experiência sublime. Há pessoas que se jogam na grande aventura de viver, enfrentando todos os riscos. Mas, como diz a canção de Roberto Carlos, “é preciso saber viver”  (1974).
Se pedirmos a um cego para descrever-nos um pôr-do-sol, talvez nos admiremos, por ele fazê-lo melhor do que quem não é cego.
Mesmo que nunca tenha visto o pôr-do-sol, com certeza, o cego já deve ter ouvir falar sobre o assunto, ou deve ter lido sobre o pôr-do-sol na sua linguagem própria. Por isso, conseguirá transmitir todas as emoções, ao descrever este belo momento do dia. Não devemos esquecer de que os cegos também sonham.
A roleta da vida segue seu rumo, indiferente aos anseios de cada um. A realidade mostra que a sorte é uma mentira, que logo se desfaz.
“Uns ganham venturas e outros amarguras”.
https://youtu.be/fESXdOj7dHw
Violante Pimentel – Escritora
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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