A PRAGA E A PREGA –

Esse confinamento compulsório é erroneamente chamado de “quarentena”, pois quarentena refere-se a um isolamento de quarenta dias.

Particularmente, já cumpri mais do que uma quarentena (isolamento compulsório), esperando que seja erradicada a pandemia do Coronavírus.

Esse confinamento fez-me vasculhar coisas guardadas em gavetas e na memória. Coisas importantes, só para mim. Registro de momentos felizes e tristes, há muito tempo adormecidos, mas que uma vez por outra aparecem nos meus sonhos.
Minha Mãe, quando tinha algum problema de saúde que a obrigava a se manter em repouso, impedindo-lhe de sair de casa, às vezes, impaciente, dizia:

-Ô prega na minha vida!!! Tanta coisa que eu tenho para fazer!!!

Hoje, ela já não se encontra entre nós. Mas, se viva fosse, certamente estaria se sentindo prisioneira, sem poder, nem mesmo, ir à Igreja, assistir às Missas dominicais.

Com medo de me contaminar com o Coronavírus, essa praga que está contribuindo para o controle da superpopulação mundial, ultrapassei a quarentena. Continuo confinada, cumprindo as ordens, por sinal, inconstantes, do Governo Estadual.
Na verdade, essa Pandemia está sendo uma gorda loteria premiada, para a POLITICALHA, que está pegando nas verbas destinadas à Saúde Pública, e enlouquecendo a população, com estatísticas alarmantes, algumas, comprovadamente contraditórias.

No Brasil, para uns, essa praga é um castigo do Céu; uma lição para os hereges, componentes da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira (ou simplesmente Mangueira), cujo enredo do último carnaval, teve como ponto culminante a execração e o ultraje da figura de Jesus Cristo, o Homem mais importante da Humanidade, num desrespeito gritante aos Cristãos e aos princípios religiosos.

A Mangueira, com esse enredo podre, uma verdadeira ode ao satanismo, pensava que iria conquistar o 1º lugar. Ledo engano. Com esse enredo desrespeitoso e chocante, ridicularizando e execrando a figura de Jesus Cristo, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira (ou simplesmente Mangueira), não só deixou de conquistar o 1º lugar, como perdeu uma legião de antigos torcedores, que se decepcionaram e se revoltaram com o infeliz enredo.
Entre esses torcedores, deveria estar a minha Mãe, se viva fosse.

Eu achava ótimo ver minha Mãe torcendo, todos os anos, pela Mangueira. Certa vez, perguntei-lhe:

-Por que a senhora torce pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira? Eu torço pela Beija-Flor!
A resposta veio em cima da bucha:

-Ora, minha filha! Tem coisa melhor no mundo, do que uma manga rosa madura???

Minha mãe era inteligentíssima e muito espirituosa. Não tinha maldade e tinha resposta para tudo.

Quando havia a Loteria Esportiva, às vezes, por influência minha, ela fazia um joguinho básico, ao gosto dela..

Certa vez, o Vasco da Gama, jogando no Rio de Janeiro (em casa), perdeu para o Maringá Futebol Clube, do Paraná. Foi a maior Zebra do ano. Dos poucos pontos que fez, minha Mãe acertou essa Zebra.
Quando conferi o jogo dela, rindo, eu lhe disse:

-Mamãe, a senhora acertou a Zebra!!! A maior Zebra do ano! A senhora torce pelo Maringá? A resposta dela foi ótima:

– Torço, porque eu adoro a música “Maringá, Maringá…depois que tu partiste, tudo aqui ficou tão triste…”

O brasileiro costuma dizer, que o Ano Novo só começa mesmo depois do Carnaval. Até então, as pessoas viajam para as praias para veranear, outras viajam de férias para outros estados ou até para o exterior.
Apesar de já estarmos no mês de maio, o brasileiro ainda não pode dizer que o Ano Novo, “nova vida”, começou.

O Coronavírus representa uma verdadeira praga, para quem estava aguardando que o Ano Novo começasse logo depois do Carnaval.

E as palavras da minha Mãe continuam soando aos meus ouvidos:

-Ô PREGA NA MINHA VIDA!!!

Estou sem sair de casa, confinada compulsoriamente, esperando que passe o comboio, levando de volta a praga do Coronavírus, para as profundezas do inferno chinês, de onde nunca deveria ter saído.

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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