“À NOITE, TODOS OS GATOS SÃO PARDOS” –

“À noite todos os gatos são pardos” é uma expressão popular da língua portuguesa, que remete à ideia de que todas as coisas são semelhantes ou iguais no escuro. Interpretando este provérbio a partir de um ponto de vista literal e físico, compreende-se que em ambientes com pouca luminosidade, as coisas são dificilmente distinguíveis ou reconhecíveis pelos seres humanos.

As imperfeições físicas mal aparecem à noite, ao contrário das imperfeições de caráter, que são sempre visíveis através de gestos e atitudes, nas 24 horas do dia.

Antigamente, num passado remoto, quando não havia energia elétrica, o recolhimento das pessoas acontecia ao anoitecer, para evitar a escuridão. Com o êxito, em 21.10.1879, da invenção do norte-americano Thomas Alva Edison (1847–1931), a noite ganhou o brilho do dia, e a vida se tornou mais fácil.

Há pessoas notívagas, que trocam o dia pela noite, como também alguns animais.

A biologia descreve o comportamento observado em alguns animais, que dormem durante o dia e tornam-se ativos durante a noite.

A maioria dos seres vivos, principalmente os idosos, tem na noite, o período de descanso, muitas vezes com profundas alterações no metabolismo, tais como: redução dos batimentos cardíacos, diminuição da temperatura corporal (animais homeotérmicos ou substituição da fotossíntese pela respiração (vegetais superiores).

São denominados notívagos os seres que têm, no período noturno, o de maior atividade, não só no reino animal (morcegos, anfíbios e felinos), como entre os humanos.

Há pessoas que adoram a noite e se pudessem amanheciam o dia na rua, principalmente os boêmios.

Às vezes, em casas noturnas populares, é comum aparecerem algumas jovens, quase crianças, vendendo botões de rosa a homens, para ofertarem às suas namoradas.

Por mais bonitos que sejam os botões de rosa, simbolizando o amor, a atividade noturna dessas crianças/adolescentes não condiz com a idade que elas tem. `No horário em que deveriam estar dormindo, perambulam pelos bares da noite, vendendo flores, talvez para entregar o dinheiro a algum adulto, familiar ou não, e se expondo aos olhares maliciosos de pedófilos e outros degenerados, que tem em mente lhes fazer o mal.

À primeira vista, esse gesto está ligado à necessidade da sobrevivência. Entretanto, também pode ser uma porta aberta à prostituição infantil.

O que pensar de uma criança que, altas horas da noite, ao invés de estar dormindo, está perambulando pelos bares, implorando aos homens que lhe comprem um botão de rosa para a pessoa amada.

A primeira impressão é de que, ali, está o retrato da fome, da miséria, e da luta pela sobrevivência.

Entretanto, é constrangedor, ver os adultos dançando, comendo, bebendo e se divertindo na noite, enquanto uma criança pede esmola, usando como disfarce a venda de um botão de rosa.

Dificilmente, não se percebe a gravidade dessa atividade mercantil feita por uma criança, em plena noite, quando deveria estar em casa dormindo. Com certeza, algum mau-caráter se esconde por trás disso, e é quem fica com o dinheiro apurado no final da noite. Mas, pode acontecer coisa pior. Pode aparecer alguma proposta tentadora, de programa com cunho sexual, mais vantajosa do que a venda de botões de rosa, altas horas da noite.

Um simples botão de rosa, oferecido na noite por uma criança/adolescente, pode ser uma motivação para um pedófilo.

Mesmo que, com a compra desse botão de rosa se pense estar praticando um gesto de solidariedade, na realidade, quem assim procede, talvez esteja tentando absolver sua própria consciência, por estar, talvez, contribuindo para a prostituição infantil.

Esses contumazes frequentadores de bares, geralmente alcoolizados, se divertem na noite, enquanto a quase criança perambula por ali, tentando vender botões de rosa, ao mesmo tempo em que se expõe à prostituição infantil.

Neste mundo cão em que vivemos, com a prostituição infantil imperando, esse botão de rosa pode representar a moeda de troca, tanto para a prostituição infantil, como para amenizar a consciência dos incautos.

Longe dos olhos protetores da família e perto dos pervertidos olhos do seu algoz, é fácil imaginar quem sairá como vencedor. As esquinas das ruas mostram muito bem o placar desse perverso jogo.

A popular expressão “juntar a fome com a vontade de comer” teria aí um grande exemplo, pouco importando se a “comida” fornecida é indigesta, imoral ou criminosa. Os cidadãos comuns, frequentadores da noite, também tem sua parcela de culpa na prostituição infantil.

Mesmo porque, a expressão “a noite é uma criança” tem como público alvo os adultos, os adúlteros, os boêmios e os amantes da vida.

O que os frequentadores da noite fazem para ajudar a essas crianças/adolescentes é comprar os botões de rosa que as manterão, até, posteriormente, serem colhidas como rosas pelos jardineiros da exploração infantil.

De várias formas, podemos ajudar no combate à prostituição infantil. Há muitas instituições sérias, que trabalham com a inclusão social, e precisam de voluntários.

A omissão da sociedade não fica adormecida somente durante a noite. Durante o dia, ela também cochila, pois nunca se viu alguém denunciar a prostituição infantil, que existe no trabalho doméstico de crianças e adolescentes, que terminam violentadas pelos filhos dos patrões, ávidos por sexo, ou por eles próprios.

São estas omissões, noturnas ou diurnas, que estimulam e fazem aumentar a exploração e a violência contra crianças e adolescentes.

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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