À FLOR DA PELE –

Enquanto as pessoas continuam anunciando ou sendo anunciadas para todos, das proezas em suas viagens pela Europa, França e Bahia, eu, continuo a minha peregrinação aqui pela terrinha e suas vizinhanças.

Fui a Fortaleza, por coincidência fiquei em um hotel na praia do Futuro, cujo dono é um amigo que gosta muito de tocar violão, e sabe que gosto de música, jogou muito bem futebol de salão pelo melhor time do Ceará na época, o Francisco Lorda, que junto com ABC e América de Natal formavam os melhores times do Nordeste. As primeiras conversas rolaram sobre futebol de salão hoje me parece futsal, e veio a lembranças dos velhos craques. Perguntou logo pelo velho Barriga, nosso querido Cezimar Borges, (para mim o melhor jogador de futebol de salão da época), não sabia ele que o velho Barriga tinha partido já algum tempo, deixando conosco a sua lembrança. Perguntou por Bira e Artur e lembrou que os dois brigavam mais que nem marido e mulher, por Salvador Lamas, Salvador Galego (que subia as paredes do ginásio), Alcindo Dória, Arlindo Brito, Domício, Wilton, Peninha Lamartine, Zé Marlúcio e muitos outros excelentes jogadores da época.

Época em que o Ginásio Sylvio Pedroza ficava lotado, com um detalhe. A presença do público feminino era maciça, dando um brilho maior às torcidas. Falamos de tudo. Voltamos ao passado e mergulhamos nas atitudes da nossa juventude, e como não podia faltar veio o prato do dia, a política.

Voltamos ao presente, com ela os desmandos dos políticos, a pouca reação da sociedade. O amigo lembrou como era diferente, mesmo na repressão íamos às ruas, enfrentávamos policias armadas, todos nós sem armas nas mãos, apenas protestando querendo vencer no grito. Era tudo diferente, tínhamos coragem, dignidade era palavra de ordem.

A sociedade hoje assiste pacientemente os corruptos sendo inocentados por corruptos

– Guga onde estar a nossa dignidade? Eu com vergonha respondi.

– Não sei amigo, lamentavelmente não sei.

Ele então pegou o violão, olhou para mim e tocou; “O que será que me dá/ Que me bole por dentro, será que me dá/ Que brota à flor da pele, será que me dá/ E que me sobe às faces e me faz corar/ E que me salta aos olhos a me atraiçoar/ E que me aperta o peito e me faz confessar/ O que não tem mais jeito de dissimular/ E que nem é direito ninguém recusar/ E que me faz mendigo, me faz suplicar /O que não tem medida, nem nunca terá/ O que não tem remédio, nem nunca terá/ O que não tem receita /O que não tem vergonha, nem nunca terá/ O que não governo terá/ O que não tem juízo”

Partes de música e letra de Chico Buarque de Holanda, gravada aproximadamente há trinta e cinco anos. Na volta, dirigindo no silêncio da madrugada, ouvindo o CD de Chico, lembrei-me muito da minha juventude e de uma frase de John Barrymore. “O homem só envelhece, quando nele os lamentos substituem os sonhos”.

Percebi que estou começando a envelhecer. Já não se canta mais canções que falem da dignidade, de sabedoria, da honra do homem. Já não se protesta nas ruas, a sociedade aceita tudo com uma passividade irritante, a classe política não faz por onde ser respeitada. Parece que existe uma violenta nevasca sobre as nossas consciências e tudo que fizemos no passado congelou. Perdemos a coragem, e estamos perdendo a dignidade·.

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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