A ARTE DO GALANTEIO –

Galantear é uma atividade tipicamente masculina. Caso os homens atentassem para o poder do galanteio, certamente existiriam cursos especializadas no assunto difundindo a teoria e incentivando a prática do processo mundo afora.

É ponto pacífico que, desde a pré-história com as pinturas rupestres, passando pelos papiros do Mar Morto até atingir a revolução da impressão com a gráfica de Gutenberg, vem-se comprovando que nenhuma mulher é imune a galanteios.

Por outro lado, nada representa melhor a alma feminina como o ditado “vaidade, teu nome é mulher”. Daí o poder do galanteio, quando estruturado para funcionar como uma das flechas do amor, lançadas pelo arco de Cupido em direção à vaidade feminina.

Caso alguém pergunte o que é um galanteio, a resposta não será diferente da que se segue: são lisonjas, atenções, conversas amorosas com mulheres a quem se quer agradar ou seduzir. O galanteio pode ser complementado por frases espirituosas, reflexões e poesia que ajudam na arte da conquista ou do elogio sincero.

Posto assim é de uma facilidade primária cativar uma mulher. Mas, ser galanteador nem sempre é um dom inato e requer muita determinação de quem deseja sê-lo. Não é todo dia que nasce um Casanova ou um Cyrano de Bergerac. Então, só existe uma saída: ralar muito, exercitando o ofício até a exaustão – agora, cá entre nós, sou adepto do não vale insistir, pois, ou nasce galanteador ou não o será nunca.

Cria-se um fosso abismal entre o galanteio e a cantada. Enquanto o primeiro traduz inteligência, amabilidade e senso de oportunidade; a outra é um prodígio em privilegiar a ignorância, a grosseria e a falta de tato, sendo, na maioria dos casos, uma exaltação ao ridículo.

Entretanto, existem cantadas que tentam – eu disse, tentam! – imitar galanteios. Eis alguns exemplos clássicos: “Desculpe, você não me serve. Saí para procurar mulheres e não deusas!”, ou, “Você tem três opções: ou fica comigo ou eu fico com você ou ficamos juntos!” e “Ah! Era aqui onde você se escondia enquanto eu a procurava pelos quatro cantos do mundo?” – alguém ainda exercita tais baboseiras?

Nada se compara em descaro com cantadas chulas do tipo: “Estou fazendo curso de piloto, posso treinar nas suas curvas?”, “Aposto um beijo como você vai me dar um fora!”, ou “O que uma garota legal como você anda fazendo numa mente suja como a minha?”. Ou esta infame: “Eu não sou balão, mas levar-te-ei às alturas!”.

O galanteador também pode ser provocador, picante e até sacana quando disposto a atiçar a libido feminina. Nesse caso prevalece sua habilidade e carisma ao imputar elegância e charme à sordidez ou a falta de pudor. E se ele age assim é porque existem mulheres que adoram tal prática, mesmo sem abdicar da falsa pureza nem da aparente e bem-posta moralidade.

É sabido que o homem se deixa conquistar pela visão, e a mulher pelos ouvidos. O romancista português, Júlio Dinis, disse: “a mulher gosta mais de ser namorada do que amada”; e, “entre um amor reverente e um galanteio ostensivo, prefere o segundo”. Porque, “o que enche o seu coração não é o amor; é a vaidade”.

Que fique claro: não nasci galanteador nem aprimorei tal habilidade, embora admire quem o seja. Sou apenas um observador atento do indecifrável, contraditório, imprevisível e maravilhoso comportamento feminino.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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