Cena comum em qualquer grupo de WhatsApp:
Gente, não sei se é verdade, mas vou compartilhar aqui por que nunca se sabe: estão moendo pombas junto com a cevada na produção de cervejas. Passe para frente!

Não, calma, mas será que isso é verdade mesmo? O que já foi chamado de corrente, vírus e hoax – e que antes chegavam por email -, hoje ganhou uma cara nova e merece toda a nossa atenção.

Durante o Globonews Prisma, neste sábado (5), evento que reuniu profissionais de diversas áreas para debater temas sobre empreendedorismo, sustentabilidade e mídias, as fake news foram foco.

Essas notícias falsas vão desde boatos que circulam na internet até desinformações fabricadas com a intenção de enganar. Alguns são aparentemente inofensivos e fáceis de identificar por parecerem absurdos demais – vide invasões alienígenas – mas o problema é que algumas nos deixam envolvidos emocionalmente e nos fazem replicar o conteúdo sem pensar duas vezes.

A partir dessa dúvida, se a história que chegou no WhatsApp da família é real ou não e da ansiedade de proteger nossos amigos e família, as mentiras se espalham numa velocidade incrível.

Quando aumenta o volume de publicações por usuário, significa que a emoção está lá em cima. Quando estamos então às vésperas de uma eleição, por exemplo, os sentimentos ficam aflorado e todo tipo de assunto tem uma grande carga de engajamento emocional.

“Esse envolvimento emocional, conjugado com ambiente incerteza, conjugado com o medo que deriva da ansiedade é o terreno fértil para a desinformação acontecer”, disse Fabio Malini, professor na Universidade Federal do Espírito Santo e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), durante debate no Globonews Prisma.

O professor fez um estudo das reações sobre o caso Odebrecht no Facebook e chegou à conclusão que a mídia tradicional dá o furo, a primeira notícia sobre o fato, mas quem repercute são as páginas de bolhas ideológicas. E para quem? Uma audiência ávida por afeto, seja para direita ou para a esquerda. Com as próximas eleições batendo à porta, Fabio traz verdades bastante pessimistas: “Teremos uma eleição de intensa produção de desinformação e isso tem muito a ver com o fato de que, enquanto a política for um exercício na rede intensamente emocional e afetivo, vai ser difícil ter  muito espaço para o raciocínio”.

Essas tais bolhas ideológicas são os sites fora da mídia tradicional e sem filtros para disseminar conteúdo. São conteúdos cheios de certezas que reforçam o que as pessoas já acham. Daí o compartilhamento rápido de notícias falsas. Quanto mais tempo leva para checar, pior o estrago. Eis que surgem sites especializados em desmentir as fofocas da rede. O site Aos Fatos, primeira plataforma digital de checagem de fatos e acompanhamento do discurso público, já publicou 1.500 checagens de notícias em seus quase três anos de existência. A diretora da plataforma, Tai Nalon explica que o problema das fake news nas redes sociais é que elas realmente parecem verdadeiras. “Elas não são rigorosamente falsas. São feitas com informações factuais, que têm fundo de verdade e que são feitas exatamente para nos deixar com uma pulga atrás da orelha.

Apps de mensagem não são fontes de notícias

O Aos Fatos investigou como consumimos as notícias nas redes sociais e, para nossa surpresa, a maior fonte de informação de 43% das pessoas vêm de, pasme, aplicativos de mensagem.

Aquele grupão da família, da escolinha das crianças, dos amigos do trabalho é a fonte de quase metade dos usuários. Dois fatos interessantes surgem a partir disso: 50% dessas pessoas dizem não acreditar totalmente no que receberam, mas esses mesmo 50% também não checam o que receberam com frequência. “Temos uma maioria que não duvida sempre que recebe uma informação online. Isso é preocupante”, conta Tai.

Fake news têm maior capacidade de serem compartilhadas

Em uma pesquisa publicada recentemente, o MIT – Massachusetts Institute of Technology, dos EUA, analisou cerca de 126 mil notícias postadas no Twitter entre 2006 e 2017. Elas foram tuitadas por cerca de 3 milhões de pessoas e retuitadas por pelo menos 4,5 milhões de vezes. “Descobrimos que as notícias falsas são mais inusitadas do que as verdadeiras, o que sugere que as pessoas foram mais propensas a compartilhar informações inusitadas”, dizem Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral no estudo. A descoberta aponta também para o problema vir mais do compartilhamento das pessoas do que de robôs. “Quando a informação é nova, não é apenas surpreendente, mas também mais valiosa, na medida em que transmite um status social de que [a pessoa] está ‘por dentro’ ou ‘sabendo’ das informações”.

Em terras brasileiras o cenário não muda: segundo levantamento do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação (Gpopai), da Universidade de São Paulo (USP), cerca de 12 milhões de pessoas compartilharam fake news no Brasil só em junho de 2017.

O que podemos considerar então que é uma desinformação? Começando pelo básico, se não tem fonte ou referência, qual a chance de um conteúdo ser real? É necessário consumir informações de fontes verificadas e parar de compartilhar conteúdos que não sabemos nada sobre, afinal, somos os principais disseminadores das fake news. O Aos Fatos tem uma série de manuais que ajudam a identificar as mentiras.

Dicas para não compartilhar fake news

1. Sem fonte

Chegamos então ao primeiro ponto: não tem fonte, desconfie. Mesmo que possamos ter suspeitas sobre o posicionamento da imprensa tradicional, jornais, revistas e sites de grandes empresas são fontes legítimas de informações. Vale ler mais de um para ter um panorama mais completo e menos ideológico do fato. E mesmo que seja uma fofoca muito apetitosa e o dedo coce para compartilhar, questione sempre.

Você conhece o site que compartilhou ou vem de um “tocompartilhando.com.br” da vida? A informação vem de um instituto ou de uma universidade de renome? Tem referências no texto, links para uma pesquisa séria ou é só um bando de achismo ou de adjetivos?

2. Tom pejorativo é indicativo de mentira

Aliás, importantíssimo: jornalismo sério, de qualquer lado, não sai por aí usando termos pejorativos. Se texto veio cheio de “petralha”, “coxinha”, “golpista”, duvide.

3. Olhe SEMPRE a data

Outro detalhe importante é prestar atenção às datas. Uma notícia pode até não ser falsa, mas ela é de 2003, logo talvez ela já não faça mais sentido. Se parecer muito absurda, jogue no google. A chance de ser mentira já desmentida há tempos é grande. Se vier pelo WhatsApp, não dê como verdadeiro logo de cara.

4. Use o Google para checar

Checagem é a palavra chave nesses casos. Vale lembrar que estamos em ano de eleições e os sentimentos ficam cada vez mais à flor da pele para informar as pessoas do nosso círculo. Toda atenção é pouca.

Responsabilidade da mídia

Tudo a ver com o tema, outro debate que tomou lugar no Globonews Prisma foi sobre o papel da mídia tradicional e online para fortalecer os direito humanos. A mesa deu um panorama de diferentes visões sobre a abordagem dos direitos humanos na mídia nas visões de Viviane Duarte, fundadora do Plano Feminino – consultoria com foco em gênero e diversidade na propaganda; Cris Bartis, co-criadora do Mamilos – Jornalismo de Peito Aberto e professora da FGV; Leandro Beguoci, diretor editorial e de conteúdo da Associação Nova Escola; e Stephanie Ribeiro, Stephanie Ribeiro tem 24 anos, é arquiteta e urbanista, ativista digital, feminista, negra e escritora. O debate foi mediado por André Fran, diretor, escritor, palestrante e cofundador da BASE#1 Filmes.

Fonte: Hypeness.com

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