TIPO ASSIM… –

​Vícios de linguagem são desvios em relação ao padrão culto da língua. Eles são agrupados conforme o pecado cometido…

​- Ah, cara, vai dar aula de português, é? ​

​Não. O fato é que ocorrem coisas inacreditáveis. No cruzamento da avenida Bernardo Vieira com Salgado Filho, às seis e meia da manhã, vidros do carro abertos para respirar ar puro, entregam-me um panfleto cujo texto estimula os jovens a receberem melhor formação engressando nas forças armadas. Êpa, ingressar com “e”, “engressar”, numa propaganda para educar jovens? É caso de polícia!

​Se algumas expressões são tautológicas, como “há dez anos atrás”, “encarar de frente”, etc., avalie erros crassos desse tipo. Mas, no dia a dia, temos que estar preparados para não transformarmos isso numa neurose, pois os insuportáveis seremos nós, acusados de intolerância.

​Embora não seja um colecionador, tenho todos os exemplares, editados mensalmente, da revista Língua Portuguesa. Há um exemplar que deveria ser de leitura obrigatória para os midiáticos, tanto os entrevistadores como os entrevistados. Quem não muda de canal, ou interrompe a leitura de uma entrevista, quando se escuta, repetitivamente: “com certeza”, “a nível de”, “meio que”, “enfim”, “veja bem”, “entende?”, “está entendendo você?”, “Né?”, “compreende?”, “tipo assim…”? São as abomináveis muletas da fala cotidiana. Clichês insuportáveis, tipo aqueles gemidos, longos e ridículos antes de cada frase: aaahhhahhhahhahh… Melhor ficar calado, pensando, e pronunciar frases objetivas, claras.

​Será que nesses telejornais não existe um observador que oriente os repórteres? Tem alguns que não juntam três palavras sem um “né?” no meio, né? Deveria existir um controle de qualidade, pois além das abomináveis muletas, né?, ainda erram muito na concordância, né?, o que irrita o telespectador, né?

​O artigo na revista Língua Portuguesa, de autoria de Leonardo Fuhmann, cita alguns desses vícios, que passarei a comentar. O arcaísmo, uso de termos antiquados, acho plenamente razoável e, quando esses termos são usados na hora certa, podem até dar uma conotação jocosa: por obséquio, debalde, entrementes. Já o barbarismo, erro de pronúncia (pobrema, framengo, vrido, sombrancelha, mimpimbu, mendingo) é imperdoável e demonstra “inguinorança prena”. Há barbarismo também na grafia (como o engressar, citado no início), na morfologia, na semântica e no uso de estrangeirismos desnecessários (dar um “time” – ou “taime” como Woden Madruga gosta de aportuguesar – em vez de um tempo). O cacófato ocorre quando na sequência de palavras forma-se uma expressão ridícula ou obscena (me já dão, por razões). A tautologia, já exemplificada acima, é a repetição desnecessária de idéia (criar novos, subir pra cima, surpresa inesperada, acabamento final).

​O citado autor termina dizendo: “começou uma discussão se o correto é ‘risco de vida’, como sempre se falou, ou ‘risco de morte’. Mas você também diz que a ‘febre subiu’ quando na verdade foi a temperatura que subiu… Enrijecer um comportamento, mesmo o que se pretende corretivo, pode ser um erro de português tão grave quanto o próprio vício que se quis corrigir.” Parabéns, professor, quem sabe, sabe.

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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